3 de dez. de 2022

[Poesia] POETAS MODERNOS - Pedro Luso de Carvalho

 





POETAS MODERNOS

                 - Pedro Luso de Carvalho





Ouvia-se alaridos tantos

nos tantos quadrantes

no longínquo ano de vinte

e dois, saídos do teatro

paulista, mudanças tantas,

repto ao estável universo

das artes, que giravam

giravam em redemoinho.



Vanguardistas viam à frente

ocultos horizontes:

Oswald de Andrade

e Mário de Andrade

(que nem parentes eram).



Palco do Teatro Municipal,

expostas as vísceras

de conservadores,

tantos passos à frente

mutação nunca imaginada.



Frutos dessa mesma árvore

da Semana, os poetas:

Manuel Bandeira, Carlos

Drummond de Andrade,

Cecília Meireles, Vinícius

de Moraes

e João Cabral de Melo Neto.



Poetas modernos

da árvore de 22 ramificada

há muitos no país,

carência de espaço e tempo,

pausa para citá-los.





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12 de out. de 2022

(Poesia) PÁTRIA – Pedro Luso de Carvalho



_ Brasil _ 
 




      PÁTRIA

        - Pedro Luso de Carvalho




Há um estranho clamor

vindo da rua.

Ouço os passos

em meio ao rumor,

ameaçadores passos

ritmados perto da casa.



Sou tomado pelo medo

dos gritos

trazidos da rua

pelo vento minuano,

claro sinal da agitação

de homens e de mulheres.



Um breu repentino na janela,

esse breu da noite

aumenta o meu temor

da turba, na rua, próxima

à casa, com ferrolho na porta

incapaz de estancar a avalanche.



Na minha frente, porta e janela

podre porta, de vidro

a janela, frágil proteção.

A turba vocifera; homens

de fortes braços vem unidos,

corpos suados, elos da corrente.



Tantos braços me cercam

na noite avançada,

levam-me para fora,

porta e janela no chão.

Meus braços, agora elos

da corrente pela decência.



Levam-me braços entrelaçados

de homens e de mulheres

unidos pela crença na Pátria,

para erguer seu orgulho, sobra

do esbulho; aproxima-se a hora,

hastearemos a insultada bandeira.





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1 de set. de 2022

(Poesia) ESQUECIMENTO - Pedro Luso de Carvalho

 





               ESQUECIMENTO

                                   - Pedro Luso de Carvalho




No último porto deixei esquecidas

minhas lembranças.

Não sei de quem é o rosto

no espelho!

Na lúgubre caverna do tempo

ficou guardada

minha memória.

Se não sou visto nas ruas da cidade,

por onde ando,

é porque são invisíveis os fantasmas.





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13 de jul. de 2022

[Poesia] SÚPLICA - Pedro Luso de Carvalho

 

Súplica - Vincent Van Gogh / 1888




          SÚPLICA

                     - Pedro Luso de Carvalho





Volto, com minha mão estendida,

para pedir que me atendas

nesta súplica.



Peço que me deixes compartir,

como antes, do leito

e dos sonhos.



Dos mundos que lá ficaram trago

sombras de punhais e lâminas,

de sangue enodoados.



A morte, em sombrios tempos,

fez-se presente nos labirintos

de minhas noites.



Trago hoje, daquelas distâncias,

além do meu pálido rosto,

o sentimento perdido.



Entrego-te agora, sob a luz dourada

deste sol, esse amor imenso

e a rosa branca, que colhi.





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10 de jun. de 2022

[Poesia] BUSCO UMA PÁTRIA – Pedro Luso de Carvalho





BUSCO UMA PÁTRIA

                 – Pedro Luso de Carvalho





Busco uma pátria,

pátria verdadeira, para amar,

para dar por ela minha vida,

se dela precisar.



Busco uma pátria,

pátria sóbria, uma só bandeira,

sem cor vermelha de sangue,

de paz seja sua cor.



Busco uma pátria,

pátria, para a ela me entregar,

cantar o hino com galhardia

envolto na bandeira.



Busco uma pátria,

pátria, patriota teu quero ser,

a todos, com orgulho dizer:

esta é minha pátria!



Busco uma pátria,

pátria, por onde começarei

esta minha penosa busca,

se luz me falta?





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20 de mai. de 2022

(Poesia) A NOITE - Pedro Luso de Carvalho

 




A NOITE


                     – Pedro Luso de Carvalho




A janela do quarto,

na semiobscuridade,

bate repetidamente.



É o vento

trazendo lembranças

e fantasmas

das lonjuras do tempo.



Vento forte

quebrando a solidão

do bronze das estátuas,

esquecidas

nas praças desertas.



A cidade dorme

com suas feridas expostas.






            * * *





29 de abr. de 2022

[Poema] POR ONDE ANDEI – Pedro Luso de Carvalho

 

Alberto da Veiga Guinard - Paisagem Imaginária / 1947



POR ONDE ANDEI

                     – Pedro Luso de Carvalho





Em tudo tocaram os meus pés,

pelos caminhos por onde andei:

no nobre jacarandá,

na preciosa esmeralda,

no viscoso barro, também pisei.



Pela ventura de ter o que preciso

se merecido não sei – não pensei

no desperdício, nem nas bocas secas

de sede e fome de tantos esfarrapados

aqui vivendo à sombra de rota bandeira.





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10 de abr. de 2022

[Poesia] A MINHA PARTIDA – Pedro Luso de Carvalho

 




A MINHA PARTIDA

               – Pedro Luso de Carvalho




Estou de malas prontas,

esses tenros raios de sol

são sinal.


Não sei para onde irei,

será meu guia o vento

da Patagônia.


Terei o caminho limpo

para os tantos passos,

tanta dor.


Ouvirei o que me dirá

no caminho, o vento

da Patagônia.


Espero que me conduza

para onde houver paz

e justiça.


Eis que surge o vento forte

e, com voz firme, me diz:

vamos partir.




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17 de mar. de 2022

Poesia] A MULHER E O TEMPO – Pedro Luso de Carvalho

 



    A MULHER E O TEMPO

              Pedro Luso de Carvalho




Não me esqueci. Foi em Uruguaiana,

naquela fazenda, há muitos anos.

Chora a mulher, ao despedir-se.

O homem promete um dia voltar.



A mulher mantém-se corajosa.

Aceita dos dias os açoites

para que jamais morra a esperança. –

Espera que seu homem não demore.



Da ausência, toma nota a mulher.

Os anos que passam são anotados,

tudo escreve com miúdas letras

nas margens gastas de um velho livro.



Num dia de vento, sente o engodo,

num momento de meditação,

no seu quarto de tristeza e preces:

não voltará o seu esperado homem.



Naquelas margens gastas do livro,

a mulher não faz mais anotações,

alheia com o passar do tempo –

já não tem mais por quem esperar.



Ficaram no rosto da mulher

as tantas marcas cruéis do tempo.

Da longa espera, o aniquilamento –

nada mais há para ser lembrado.






            * * * *




 

10 de mar. de 2022

[Poesia] PRIMAVERA – Pedro Luso de Carvalho

 

Chalé da Praça 15 - 2014 - Érico Santos / Porto Alegre - Brasil




PRIMAVERA

           – Pedro Luso de Carvalho





De onde vem esse vento,

que a tudo espanta

e que leva dos varais

encardidas consciências –

roupas surradas

feito esperança perdida?



Para que serve esse vento

assim, feito remorso

e pecado?

Para que serve esse vento

com ruído de agouro

e de morte?



Esse vento veio roubar

do tempo, o inverno

frio, feito maldade,

e levar a tristeza, gelo d’alma,

para setembro florir

na Primavera.





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22 de jan. de 2022

[Poesia] O VENTO MALDITO – Pedro Luso de Carvalho

 




      O VENTO MALDITO

                      - Pedro Luso de Carvalho



De onde vem este vento pleno

de mau agouro? Virá das tumbas

de tempos remotos? – Gélido frio

perpassa-me o corpo.

Maldito vento, por que não cessas

e voltas para teus mortos?

Ou será teu desejo levar-me

contigo como troféu?

A quem servirá minh’alma?

Troféu algum valerá trabalho

tamanho para essa viagem

das trevas, vento maldito

com presságio de morte.

Não vês que ainda tenho sonhos,

tenho amores para amar,

injustiças para corrigir?

Vai-te daqui, vento agourento!

Irei contigo, mansamente,

maldito vento dos cemitérios,

quando não mais puder sentir

a dor dos homens secos pela fome.





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21 de dez. de 2021

[Poesia] A INÚTIL BUSCA - Pedro Luso de Carvalho

 




       A INÚTIL BUSCA

    - Pedro Luso de Carvalho




  Aonde encontraremos político,

  da pátria defensor denodado,

  nobreza d'alma, honra iluminada,

  com caráter em aço forjado?


Homens probos já teve o país,

esquecidos no tempo distante,

apagados seus ensinamentos:

à amada pátria, amor constante.


Presente no país a miséria,

é submetido o povo à dor,

desolado, desesperançado,

sem a coragem de vencedor.


  Desiludida está tanta gente,

  qual andrajos de nave retida,

  descrendo na imposição da lei

  persistem em terra destruída.





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27 de nov. de 2021

[Poesia] A CASA DE PEDRA – Pedro Luso de Carvalho

 




A CASA DE PEDRA

           – Pedro Luso de Carvalho




Por quanto tempo fiquei ali,

feito estátua, em frente à casa,

entre prédios e palacetes ?


Volto depois de muitos anos

à antiga casa de pedra –

o reino perdido da infância.


Era grande a casa de pedra,

na minha infância tão distante –

palácio de tantos brinquedos.


Ficou pequena, a minha casa

de pedra! Onde a casa de sonhos?

Sumiram juntas, casa e infância?


Lufada de vento oportuna

(sopro de algum anjo perdido)

fez-me entrar na casa de pedra.


Posso, homem de tantos caminhos,

ser de novo aquele menino

dessa casa – reino perdido?


Falta-me o fôlego. No peito

garras ferem – emoção e dor.

Levou o sonho, ave de rapina.




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