[ PEDRO LUSO DE
CARVALHO ]
Não faz muito tempo, pouco
mais de dez anos, encontrei, na Feira do
Livro de Porto Alegre, um livro do escritor norte-americano John Cheever,
nascido em Quincy, Massachusetts, em 1912, cujo título é Até parece o paraíso, editado pela Companhia Das Letras.
Sobre essa obra, o
escritor John Upidike escreveu, para The
New Yorker: “Encantadora comédia suburbana, tão direta que chega a nos
desarmar. Cheever exalta a sublime poesia da vida. Na criação de imagens e
acontecimentos é um escritor sem igual na ficção americana contemporânea”.
Diante da qualidade do
seu texto, procurei outras obras do escritor; encontrei o romance A Crônica dos Wapshot, que a crítica
estadunidense considerou um dos cem melhores romances da língua inglesa; com
ele, John Cheever ganhou o importante prêmio National Book Award, em 1958. Mais três importantes prêmios foram
conquistados por John Cheever: em 1978, o Prêmio
Pulitzer e a Medalha Edward MacDowell;
em 1981, a National Medal for Literature.
Embora muito conhecido
pelos norte-americanos, pela qualidade de sua obra, John Cheever era, até pouco
tempo, desconhecido no Brasil. Por ocasião de sua morte, ocorrida em 1982, na
localidade de Ossininng, Nova York, a
Folha de S. Paulo publicou apenas um pequeno texto de Paulo Francis, sobre
o escritor.
Quando o romance A Crônica dos Wapshot foi
lançado nos Estados Unidos, em 1957, os críticos literários receberam a obra
com grande surpresa, pelo fato de ter sido esse o primeiro romance do escritor.
No Brasil, A Crônica dos Wapshot foi publicada pela Editora ARX, em 2002.
Na data do lançamento do romance
A Crônica dos Wapshot, John Cheever
estava com 45 anos de idade; há muitos anos o escritor dedicava-se quase que
inteiramente à narrativa curta. Como contista, era comparado por muitos
críticos norte-americanos a Anton Tchekhov, escritor russo, que foi um dos
nomes mais importantes da narrativa curta, e que influenciou inúmeros escritores
de muitas nacionalidades.
Em A Crônica dos Wapshot, Cheever conta a história de uma família de
classe média da Nova Inglaterra, na qual estão presentes personagens que a ela
dão força e consistência, como é o caso Leander Wapshot, homem tranquilo absorvido
pelo trabalho, em seu velho barco, e oprimido pela esposa dominadora, Mrs
Wapshot, e por outra mulher, Honora, sua prima excêntrica.
Os dois filhos do casal
Wapshot, Moses e Coverly, também são personagens importantes; eles trocam a
pequena cidade em que nasceram por Washington, para onde vão à busca de
trabalho. Com os acontecimentos, que se intercalam entre Washington e St.
Botolphs, a narrativa se desenvolve e ganha grande intensidade.
Segue um trecho do romance A Crônica dos Wapshot, de John Cheever
(in Cheever, John. A Crônica dos Wapshot; [tradução Assef Kfouri] São Paulo: Arx, 2000, p. 269):
“Que coisa frágil é o
homem. A despeito dos bagos e da bazófia, um simples sussurro é capaz é de
transformar sua alma em cinzas. O gosto de sal numa casca de uva, o cheiro do
mar, o calor do sol de primavera, frutos amargos e doces, um grão de areia nos
dentes – tudo isso que entendia por vida lhe estava sendo tirado. Onde estavam
os crepúsculos serenos de sua velhice? Arrancaria os próprios olhos. Ao ver o
brilho de vela em seu navio – ele o trouxera de volta ao porto em meio a
ventanias e tempestades – sentiu-se espectral e desvirilizado. Foi à gaveta da
cômoda e pegou, debaixo da rosa desidratada e da trança de cabelo, a pistola
carregada. Aproximou-se da janela. Os fogos do dia se extinguiam como uma
conflagração numa cidade industrial, e acima da cúpula do celeiro viu a estrela
Vésper, doce e rotunda feito lágrima humana. Disparou a pistola pela janela e
caiu no chão”.
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Amigo seu Blog é fantástico, o descobri hoje e estou pronto para regressar copiosamente rs...Parabéns pelo trabalho, um grande abraço!
ResponderExcluirObrigado, Felipe.
ExcluirEspero que você volte mais vezes, para conferir as novas postagens e os textos mais antigos.
Um abraço.