3 de ago. de 2010

A MARIE-LOUISE SHEW – Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe



                 por Pedro Luso de Carvalho


 

        Edgar Allan Poe pouco antes de ingressar em West Point, já havia publicado o seu segundo volume de versos com uma revisão de Tamerlane e Al Aaraaf, que, em 1831 foi reeditado – os versos Israfele e Para Helena denunciavam o poeta que viria ser. Em 1833 ganhou um prêmio literário instituído pelo Saturday Visitor, com o conto Um manuscrito encontrado numa garrafa; nessa época, que contava com vinte e quatro anos de idade, Poe vivia em extrema pobreza. No ano de 1847, teve algumas de suas histórias traduzidas para o francês; Charles Baudelaire ao lê-las, assim se exprimiu: “experimentara estranha emoção”. Baudelaire aguardava as revistas norte-americanas que chegavam com a publicação dos contos e poesias de Poe.

        E, foi justamente Charles Baudelaire o primeiro tradutor de contos e ensaios de Poe, levando-os a ser conhecidos pela elite de literatos de Paris, que passaram a admirar a sua obra. Mallarmé, um dos expoentes do Simbolismo, continuou a fazer a divulgação das histórias e poesias de Poe, que se viu consagrado nos dois anos que antecederam sua morte. Essa consagração deveu-se não apenas ao conto, mas também à excelência de sua poesia, cujos temas ficavam circunscritos à solidão, a inutilidade do esforço, ao remorso por sua vida miserável. Seus versos falam apenas de mundos interiores, sem qualquer menção ao mundo exterior. Como já mencionei em edição anterior, o poema O Corvo – seu poema imortal – só ficou acabado depois de ter sido modificado ao longo de dez anos. Poe não transigia quanto à qualidade literária de sua obra – que era a moldura de sua extraordinária imaginação. Outro poema de Poe que merece a nossa atenção é A Marie-Louise Shew, adiante transcrito:



                A MARIE-LOUISE SHEW


       
Aquele que estas linhas traça, outrora,
no louco orgulho do intelectualismo,
definiu o “poder do verbo”, crendo
jamais haver na mente um pensamento
que fosse intraduzível em palavras.
Mas, agora, a zombar dessa jactância,
dois dissílabos suaves, estrangeiros,
sons da Itália, só de anjos murmurados
quando sonham ao luar, que faz do orvalho
“sobre o outeiro do Hermon um rio de pérolas”,
tiraram, dos abismos deste peito,
almas de pensamentos não pensados,
visões tão belas, singulares, célicas,
que nem mesmo Israfel, cantor seráfico
(“a mais doce das vozes já criadas”)
poderia narrar. Quebrou-se o encanto!
Cai a pena, impotente, da mão trêmula.
Com teu nome por tema, embora o ordenes,
eu não posso escrever... Nem penso ou falo...
Ai! nem sinto... Pois não é sentimento
ficar assim, imóvel, à dourada
enorme porta aberta sobre os sonhos,
contemplando, extasiado, o panorama,
trêmulo, por só ver, de cada lado
e pela longa estrada, entre impurpúreas
névoas, e na distância, onde termina
a perspectiva – A TI UNICAMENTE.
                                            


                                                                (Edgar Allan Poe)  




REFERENCIA:
POE, Edgar Allan. Poemas e ensaios. Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado, 3ª ed. Revista. São Paulo: Editora Globo, 1999, pág. 54





 

6 comentários:

  1. Edgar Allan Poe, o Mestre das Shorts Stories...
    Uma forma ímpar de escrever deliciosos e intrigantes contos.
    Gosto muito, depois dele somente Jorge Luiz Borges.
    Um abraço e, VIVA O MUNDO DA LEITURA!!!!

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  2. Estou mais familiarizada com os contos, com o Fantástico, em Edgar Allan Poe mas, como diz, a sua poesia justifica toda a nossa atenção.

    L.B.

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  3. Pedro,

    Não conhecia essa amizade entre Boudelaire e Poe, que pelo que entendi foi seu pupilo, por assim dizer. Excelente aula! Mais uma.

    obrigado, abço
    Cesar

    em tempo: não conhecia esse poema A MARIE-LOUISE SHEW. Excelente e único.

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  4. "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais,
    uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
    É só isto e nada mais"...( O Corvo)
    Muito gostoso ler e ver a história se encontrando e se influenciando, Baudelaire, Malarmé. Aqui aprendo e reciclo o que conhecia. Gosto muito deste blog.
    Garnde abraço.

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  5. Esse poema é lindo. Intenso como Poe. O li logo depois que você publicou um texto com o poema 'O Corvo'. Interessei-me muito e fui pesquisar (rs). Sempre aprendo muito com você. Perdão se não comento mais, fico meio sem jeito...

    Senti uma espécie de revolta ao ler mais uma das visões sobre o Holocausto no Veredas. A mesma humanidade, produtora de grandes homens, que lutam para torná-la mais justa, produz monstros e os põe no poder. Hitler foi uma caricatura grotesca do ponto a que se pode chegar a insanidade de uma ideologia criada pelo desespero de uma nação, mas existem muitos outros por aí...

    Bjs
    Deva

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  6. Gosto da escrita de Allan Poe...O poema "O Corvo" é de todos o mais conhecido...na minha óptica!
    Bj e um bom fds
    Graça

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Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro