– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
Em
1996, o romance da britânica Jane Austen,
Pride and
prejudice
(Orgulho
e preconceito)
foi adaptado para a televisão pela BBC, cujo resultado foi a
audiência de 18 milhões de telespectadores, que esperavam ansiosos
pelos seus capítulos. Com esse sucesso, a série foi vendida para 18
países. Em 1995, o romance foi adaptado para o cinema, com o título
de Sense
and sensibility
(Razão
e sensibilidade),
numa co-produção EUA/ING. A direção do filme coube a Ang Lee, que
teve como intérpretes: Emma Thompson, Kate Winlet Hugh Grant, Alan
Rick, Gemma Jones, Greg Wise. Embora tenha recebido o Globo
de Ouro,
não recebeu o Oscar,
em 1996. Sobrou-lhe o Oscar
de melhor roteiro,
que foi escrito por Emma Thompson.
A
partir daí, a Internet uniu os admiradores de Jane Austen de todo o
mundo, em contraste com a vida que a escritora levou, solteira, no
sul da Inglaterra, sem ter saído de seu país, e com apenas quatro
de seus romances publicados. Suas obras passaram a vender tanto que
rivalizaram, após a produção da BBC e do filme de Lee, com
best-sellers, como os de Catherine Cookson e John Le Carré,
vendendo, no Reino Unido, 35 mil exemplares por semana, no final de
1995. Nessa época, a revista ‘Vanity
Fair’
chamou Jane Austen de a última mina do cinema (Reader’s
Digest, Seleções,
jan. 1997).
Por
que a história contada por Austen, em Pride
and prejudice
(Orgulho
e preconceito),
obteve tal sucesso? Por ser uma história surpreendente, singular? Ou
por se tratar de uma história comum, que é por todos entendida e
sentida? Acho que o sucesso se deve a esta última hipótese. Jane
Austen conta, em seus livros, histórias que se restringem à vida
simples das pessoas e suas famílias. A escritora disse, certo dia:
“Três ou quatro famílias vivendo numa aldeia é tudo que preciso
como base de trabalho”.
Para
Nigel Nicolson, autor de The
world of Jane Austen
(O
mundo de Jane Austen),
a explicação para tão duradouro fascínio é simples:
“Seus
romances são histórias de amor que acabam sempre em casamento.
Revelam um maravilhoso conhecimento das pequenas manobras que os
jovens faziam, e ainda fazem, aproximando-se e distanciando-se. São
também muito engraçados”.
Diz,
Andro Linklater, rev. Citada:
“Esse
conhecimento baseava-se, em parte, na própria experiência de Jane
Austin e em sua observação da numerosa e exuberante família em
cujo seio foi criada. Nascida em 1775, era a sétima de oito filhos,
e até os 25 anos teve como lar a altaneira residência de seu pai,
em Stevenson, uma aldeia nas ondulantes colinas de Hampshire. O
pastor George Austen, pai de Jane, não era homem de posses, e a
falta de meios de transporte adequados limitava o número de visitas
a casas de vizinhos e aos bailes em Basingstoke, a cidade mais
próxima. Em compensação, a família recebia freqüentemente amigos
e conhecidos”.
Linklater
diz, ainda, que um dos passatempos preferidos de Jane Austen era a
dança, como mais tarde afirmaria em Orgulho e Preconceito:
“Gostar
de dançar era uma medida infalível para uma pessoa se apaixonar”.
E acrescenta que o seu comportamento levou uma das vizinhas dos
Austen a considerá-la “a mais bonita, a mais burra e a mais
presunçosa das moças casadoras”.
Para
P. D. James (rev. cit.), fiel admiradora da obra de Jane Austen, esse
aspecto de sua personalidade representa o próprio âmago de seu
estilo:
“Todos
os livros têm como base a mesma trama – uma mulher que procura e
depois encontra o parceiro ideal” esclarece a escritora. Diz, P.D.
James: “São romances quase cor-de-rosa, só que escritos por um
gênio”.
O
certo, no entanto, é que muitos ficaram descontentes com a
popularidade de Austen. Susan McCartan, secretária honorária da
Sociedade
Britânica Jane Austen,
é uma delas. “As recentes adaptações ao cinema realçam o
aspecto romanesco, descurando o lado satírico”, afirma Susan
McCartan, que admite, no entanto, que o número de sócios aumentou
em várias centenas, chegando a 2000, número esse baixo, se
comparado com o da Sociedade
Norte-Americana Jane Austen,
que, em 1997, tinha mais de 5000 fãs, e continuava crescendo.
Sofrendo
do Mal
de addison,
uma doença que ataca os rins, Jane
Austen
faleceu em winchester, no dia 18 de julho de 1817, com apenas 41
anos. Linklater diz que o fluxo de visitantes, de todas as partes do
mundo, junto a seu túmulo, na Catedral de Winchester, confirma a
crença de Jane Austen na força do amor que, despertando um sorriso,
consegue vencer a triste realidade da vida. Entre esses visitantes,
encontrava-se entre eles, em 1997, Emma Thompson, que foi lá “para
prestar-lhe homenagem... e para lhes falar dos lucros”, como
explicou, gracejando, nas cerimônia dos
Oscars,
em Los Angeles.
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Pedro