
por Pedro Luso de Carvalho
O famoso recluso J. D. Salinger antes de dedicar-se à literatura passou rapidamente pelas universidades de Nova York e Columbia. Depois que retornou da Segunda Guerra Mundial suas histórias foram publicadas regularmente pela revista The New Yorker; com isso tornou-se bastante conhecido, principalmente nos Estados Unidos. Escreveu um único romance, O apanhador no campo de centeio, um clássico da adolescência (1951); e os contos e novelas curtas, Nine stories (1953); Fanny and Zooey (1961); Carpinteiro, levantem bem alto a cumeeira (1963); Seymour: Uma Apresentação(1963).
Em quatro dos cinco livros de Salinger, figuram como personagens principais e recorrentes a Família Glass, constituída por Buddy (alter ego de Salinger), Seymour, Boo Boo, Franny e Zooey Glass, todos irmãos. A novela Franny & Zooey, que está dividida em duas partes, e está destinada a um público sem qualquer envolvimento com o profissionalismo literário, para o qual dedica o seu livro: “Se ainda resta um leitor amador no mundo – ou alguém que simplesmente leia por ler -, peço a ele ou a ela, com indizível afeição e gratidão, para dividir a dedicatória deste livro em quatro com minha mulher e meus filhos”.
J. D. Salinger tornou-se um escritor de sucesso popular. Estudantes de níveis inferiores do meio acadêmico colocaram-no em alto pedestal; no entanto, intelectuais de gosto literário mais sofisticados desprezavam o escritor. No seu conto Seymour: An Introduction (Seymour: Uma Apresentação), em 1963, Salinger manifesta-se sobre a aristocracia intelectual da época, chamando-a de “uma nobreza de orelhas de lata”. E quando outro livro seu, Franny and Zooey passou da New York para o livro, abriu-se uma janela para que essa aristocracia fizesse sua contestação, como adiante se verá.

Não tardou muito para que George Steiner tivesse seguido a mesma linha de Norman Mailer, fazendo sua denúncia de que a “indústria Salinger” era em grande parte causada pelo próprio Salinger. Assim se manifestou Steiner:
Os jovens gostaram de ler sobre os jovens. Salinger escreve sucintamente... Ele nada exige de seus leitores em termos de cultura ou interesse político... Salinger lisonjeia a ignorância mesmo e a superficialidade moral de seus jovens leitores. Sugere-lhes que ignorância formal, apatia política e um vago sentimento de tristeza são virtudes. É aí que entra o uso engenhoso e um tanto deturpado que ele faz do zen. O zen está na moda. Gente que nem sequer tem os rudimentos de conhecimento necessários à leitura de Dante, nem a fibra de Schopenhauer exige, compra logo o último livro sobre zen.
Essa declarações de Mailer e de Steiner, que demonstram aversão pelos jovens leitores de Salinger, logo o atingem. Vê-se que o sucesso comercial dos livros de Salinger não têm boa sustentação. O escritor manipulava os sentimentos desse público jovem: gostos, manias, apatia carência e tudo mais contavam com a compreensão de Salinger. Este tinha por objetivo a fama e a riqueza (ser amado, também estava nos seus planos).
John Updike escreveu com certo embaraço no New York Times: Assim como Hemingway procurava as palavra para as coisas em movimento, Salinger procura palavras para coisas transmutadas em subjetividade. Sua ficção, com aquela bravata um tanto soturna, aquele humor, aquela morbidez, aquela esperança deturpada mas persistente, combina no tom e na forma com a vida americana atual. (Dentre os intelectuais de peso, Updike era o único que não apontava deficiências em Salinger).
Alfred Kazin, que dizia que Salinger tinha um talento considerável, embora não se sentisse à vontade com seu pedantismo, escreveu um artigo para The New Yorker: O vasto público de Salinger, estou convencido, não se fundamenta apenas no vasto número de jovens que reconhecem seus problemas emocionais na ficção dele e sua rebeldia frustrada na linguagem sofisticada que ele manipula com tanta perícia. Baseia-se, principalmente, no vasto número de pessoas que nossa sociedade liberou para se considerarem infinitamente sensíveis, espiritualmente solitárias, talentosas, e cujo sofrimento decorrem de terem voltado a consciência apenas para si mesmas, de terem se desinteressado por uma sociedade à qual acham que entendem bem demais, de terem esgotado a esperança, a confiança e a curiosidade no mundo propriamente dito.


Consta que, dentre as críticas dirigidas a Salinger, a que mais o irritou foi a escrita por Mary McCarthy, no seu artigo intitulado “O Circuito Fechado de J. D. Saliger”, publicado pela primeira vez no Observer de Londres, e depois na Harper's: E quem são esses garotos prodígios – escreve Mary McCarthy – a não ser o próprio, dividindo-se e multiplicando-se como a ameba original... confrontar-se com as sete faces de Salinger, todas sábias e amáveis e simples, é fitar um lago narcísico assustador. O mundo de Salinger não contém nada a não ser Salinger...
J. D. Salinger (Jerome David Salinger) nasceu a 1 de janeiro de 1919, Manhattan, Nova York, e morreu em Cornish, New Hampshire (EUA), no dia 27 de janeiro de 2010.
REFERÊNCIAS;
PATRICK, Julian. 501 Grande escritores. Trad. Livia Almeida e Pedro Jorsensen Junior. Rio de Janeiro: Editora Sextante, s/d.HAMILTON, Ian. Em busca de J. D. Salinger. Trad. Adalgisa Campos da Silva. Rio de Janeiro: Casa Maria Editorial, 1990, p. 185-189.]
Pedro passei para conhecer seu blog ele é not°10, show, fantástico com excelente conteúdo você fez um ótimo trabalho desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
ResponderExcluirUm grande abraço e tudo de bom
Muito obrigado, Rodrigo, por sua visita. Volte mais vezes.
ExcluirUm abraço.
Pedro, Obrigado, mas que maravilha de blogue, estou extasiado.
ResponderExcluirUm abraço (de Lisboa-neste momento do sul de Portugal-Algarve)
P.S.-E que está a ler, de momento?
No momento estou lendo "Padre Sérgio", de Tolstói, e relendo"O Exílio e o Reino", livro de contos de Albert Camus.
ExcluirAgradeço sua visita e o incentivo.
Grande abraço,
Pedro
Não conheço obras de Salinger e o desconhecia por completo! Vim aprender aqui contigo, mais um pouco!
ResponderExcluirMas fiquei com uma ideia ( não sei se errada) que a origem, o berço de Salinger nunca foi esquecido pelos grandes escritores da época.
Ninguem perdoa que os "menos" na escala social subam tão alto e, de imediato ,a inveja faz a sua trama!
Depois Salinger luta com as mesmas armas e "vinga-se" tratando os intelectuais como " uma nobreza de orelhas de lata". Neste "despique" poder-se-ia escrever outra obra, julgo eu.
Obrigada pelo teu blog que alimenta o nosso intelecto.
beijo
Graça
Olá, Graça!
ExcluirÉ sempre uma grande alegria receber sua visita.
Eu também gosto muito de suas crônicas e de seus contos, que são escritos com muita sensibilidade.
Um abraço..
Olá Pedro,
ResponderExcluirMais um optimo trabalho, embora desconheça os autores.
Abraço!
Mais uma vez, agradeço sua visita. Volte mais vezes.
ExcluirUm abraço.
Não li ainda nenhuma obra de Salinger, mas vou ler Semeador, pois até o titulo nos atrai. Mas acho que independente disso e do que o escritor quer transmitir em sua obra, existe também o estado de espirito do leitor e então,cada um interpreta a leitura à sua maneira e interage conforme seus principios. E já que a obra dele influenciou uma geração ele deve ter seus méritos. Bjs
ResponderExcluirAcho, Doroni, que você vai gostar de Semeado no Campo de Centeio.
ExcluirAbraço.
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Obrigado, Pedro, por seu trabalho de difussor de valores literários de primeiro rango. Tambem me dedico à literatura e admiro alguns escritores com os quais sinto alguma afinidade. Salinger é um deles. Melhor que qualquer psicologo, Salinger soube caracterizar o adolescente inteligente, atento ao mundo onde ele vive.
ResponderExcluirContinue com sua proposta. Até minhas proximas leituras de seu blog
Obrigado, Emílio, por sua visita e suas observações sobre Salinger.
ExcluirO blog estará à sua disposição para novas visitas.
Um abraço.