26 de fev. de 2021

[Poesia] PEDRO LUSO - A Mulher e o Algoz




                                                                                


A MULHER E O ALGOZ

       – PEDRO LUSO DE CARVALHO
      


Quarto às escuras. Noite chuvosa.
No desalinho da cama, absorta,
 a mulher olha através da janela.

Da rua, nesga de luz clareia livros
sobre o velho baú. Na calçada, iluminado
entre ramos de árvores, o relógio:

longos ponteiros, duplicados
pelo efeito das sombras. Mulher
paralisada: dos pulmões puxa o ar

que falta, e sente a ameaça mortal.
Aterrorizada, coração descompassado,
desmaio. Passam minutos, horas

ou séculos – resta o desfecho. Na rua,
silêncio e ruído de carros alternam-se
sobre o asfalto molhado.

Lívida, no chão busca refúgio:
rosto entre os joelhos – domínio
do medo. Na porta, forte batida

transpassa-a (barulho de passos,
escuridão, mulher encolhida
no assoalho, desesperançada).

De repente, no frio da noite,
lâmina zune no breu: dor lancinante.
Grunhido de ave ferida.




  *  *  *


8 comentários:

  1. Anônimo23:17

    Desde aquele teu outro poema, que fala da Patagônia,estou procurando uma forma de expressar a emoção que sempre me causam poemas intimistas,principalmente os que chegam carregados da tua sensibilidade.
    Finalmente, achei as palavras pra te mandar num site português de literatura:

    "Poesia intimista é onde a vida se expressa em "espasmos de alma".

    Minha admiração,Pedro

    Thereza Pires-12/3/09. `as 23.13

    ResponderExcluir
  2. Pedro Luso

    Adorei poema! Pareceu-me conter um certo inedetismo, de sabor a leiteratura policial, que aprecio.

    Daniel

    ResponderExcluir
  3. Pedro, é interessante como teu poema prepara a cena, armando o suspense, até surpreender o leitor com o final. Mas não é o essencial esse final, e sim as imagens fortes que se avolumam, como que criando o impacto por elas mesmas.
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Un poema muy interesante, aunque temo no comprenderlo todo. Pero sí, se escucha la musicalidad dramática de los versos, y ese último grito de fiera herida. Saludos cordiales.

    ResponderExcluir
  5. É a sindrome do pânico ...

    ResponderExcluir
  6. Simplesmente adorei o poema!!
    Li e reli!!

    ResponderExcluir
  7. Antes de mais, quero manifestar-lhe
    o agrado sentido por saber do seu interesse em seguir meu blog.

    Apresento-lhe minhas saudações
    por este seu blog, que me despertou
    grande interesse e que ppassarei
    a seguir.

    Quanto ao poema "A Mulher e o algoz", adorei!

    Um grande abraço

    Alvaro Oliveira

    ResponderExcluir
  8. Una poesia presentata con la suspense di un film che, tende a catturare il lettore fino alla fine, per riuscire a capire come sarà il finale. Un contesto colmo di luci ed ombre ed immagini che pare di assistere alla situazione dal vero. Complimenti per quest'opera che, ho apprezzato tanto amico Pedro. Un caro saluto di buona domenica da Grazia.

    ResponderExcluir


Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro