– PEDRO LUSO DE CARVALHO
Além da sólida amizade existente entre Thomas Mann e Hermann Hesse, por
mais de 50 anos, tinham em comum a mesma nacionalidade: Alemanha. Thomas Mann
nasceu em Lübeck, em 6 de junho de 1875, e Hermann Hesse nasceu em Calw, em 2
de julho de 1877.
Os dois amigos deixaram a Alemanha por motivos políticos. Mann passou a
viver nos Estados Unidos, por muitos anos, e depois na Suíça, o mesmo país
escolhido por Hesse, onde faleceram em 1960 e 1962, respectivamente.
Culturalmente, também tinham muitos pontos em comum: ambos ganharam o
Prêmio Nobel de Literatura. Thomas Mann recebeu-o em 1929 e Hermann Hesse em
1946. Em razão da excelência de suas obras, os dois figuram entre o mais
importantes escritores europeus.
Thomas Mann será lembrado por suas obras: Os Buddenbrooks (Prêmio Nobel), A
Montanha Mágica, A Morte em Veneza,
Tônio Köeger, entre outros; Hermann
Hesse, por sua vez, será lembrado pelas obras: O Jogo das Contas de Vidro (Prêmio Nobel), Sidarta, O Lobo da Estepe,
Narciso e Goldmund, Demian, entre outros.
Theodore Ziolkwki ao fazer a apresentação do livro Briefwechsel, no ano de 1973, em Princeton, disse: “Segundo
as avaliações até agora feitas, Thomas Mann escreveu na sua vida pelo menos
25.000 cartas. Hermann Hesse, em contrapartida, mais de 35.000”.
A obra Briefwechsel (título
original alemão) foi publicada no Brasil pela Editora Record, com o título Correspondência Entre Amigos, com
tradução da conceituada escritora Lya Luft.
A carta de Hermann Hesse para Thomas Mann, que segue, demonstra um pouco
o seu estado de espírito no tocante a guerra e a política que envolvia a
Alemanha no período compreendido entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial (In HESSE, Hermann e MANN, Thomas. Correspondência Entre Amigos. Tradução
de Lya Luft. Rio de Janeiro: Editora Record, 197?, p. 84):
Caro Senhor Mann!
Desta vez minha mulher é
culpada por esta carta vir importuná-lo. Escrevo duas vezes ao ano sobre livros
novos para uma revista sueca, e comecei meu mais recente comentário com seu
último livro. Quando minha mulher leu o manuscrito, lamentou que o senhor não o
visse, ou só viesse a conhecer a tradução sueca. Desta maneira, copiei-o e o
estou enviando.
Essas resenhas de livros
para a Suécia são o recurso com que pretendo salvar minha atividade quando,
mais cedo ou mais tarde, a Rundschau nos for tirada. Talvez também seja a
pólvora que um dia me levará pelos ares; como aqui e ali elogio livros
antialemães, livros proibidos e autores exilados, é possível que me ponham por
isso na lista negra. Assim, tenho motivos de não me expor nem me poupar, quer
dizer, mantenho um julgamento neutro, por mais fictício que ele possa parecer.
Não faço rapapés diante dos teutônicos nem cedo ao impulso de me divertir com
um acesso de fúria deles. Espero que as coisas estejam correndo regularmente
bem para o senhor.
Afetuosas saudações a
ambos, do seu H. Hesse.
* * *
É interessante como a postura de Hermann Hesse em relação à política cultural nacional-socialista, buscando a simples descrição, fugindo, assim, da militância aberta, guarda uma certa semelhança com a "Carta aos brasileiros" redigida e lida pelo Prof. Goffredo da Silva Telles Jr. em 1977, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, na qual simplesmente resgatou conceitos elementares da teoria do Estado, para retratar o momento em que vivíamos na ocasião.
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