14 de abr. de 2011

DA CRÍTICA LITERÁRIA – PARTE III

Jorge Luis Borges




                
                por  Pedro Luso de Carvalho



        A crítica literária foi abordada na postagem anterior, a segunda parte deste trabalho, com o desdobramento das escolas platônicas, e agora, nesta terceira parte, inicio com a teoria que vem de Aristóteles. 

        O professor Afrânio Coutinho ensina (Crítica e poética, Livraria. Acadêmica, 1968) que Platão não pretendeu criar uma crítica literária. “De modo algum esse objetivo foi o seu. Seu método mesmo o contradiz. O que tinha em mente era mostrar que inclusive a poesia devia fazer parte de um mundo universalmente bom. E para isso seu método dialético era excelente prova. Pois tal método jamais produziria uma crítica literária”.

        Diferentemente do método dialético de Platão, Aristóteles lançou na sua obra prima, a Poética, a base de sua investigação teórica da crítica literária. Para Aristóteles a literatura como toda arte, “tem um valor e si mesma - ensina Coutinho -, e a experiência estética possui uma finalidade em si mesma. Para ele [Aristóteles], a literatura deve ser encarada como “poética”, e não como “política” (no sentido em que vêem os platônicos). E a crítica constituirá uma análise e uma avaliação da obra literária como obra de arte, o centro de interesse sendo a obra em si mesma, em seu valor intrínseco, em sua intimidade artística”.

        Afrânio Coutinho aconselha aos bons estudantes de letras a ter como obra de cabeceira a Poética de Aristóteles (“à qual se deve juntar a Retórica, aliás, um simples capítulo da primeira”). Na próxima parte deste trabalho ainda serão abordadas as teorias de Aristóteles, expostas na Poética e na Retórica , na forma exposta pelo mestre Coutinho.

       Na sequência, Afrânio Coutinho faz menção a R. Crane, que diz: “O fato essencial acerca da compreensão a que aspira o crítico literário é que é uma compreensão de obras literárias em seu caráter de obras de arte”. Coutinho frisa que, para Aristóteles, “A obra é o centro da preocupação crítica, e a obra em sua característica estético-literária”.

        De Afrânio Coutinho passo a Élisabeth Ravoux Rallo (Métodos de crítica literária, Martins Fontes, 2005), Introdução à obra por Jean-Claude Gardin: “(...) para compreender a crítica literária deste ou daquele autor, parece importante depreender os princípios nos quais ele se apóia, e a base de dados de sua análise, para depois explicitar sua lógica e sua argumentação, a fim de julgar a validade da conclusão à qual chega esse comentário. Para escolher entre diversas críticas, compará-las, avaliá-las – pois o objetivo delas, quase sempre claramente expresso, é ajudar-nos a entender não só as significações dos textos, mas também do humano -, é preciso indagar-se sobre seus fundamentos e suas limitações”.

       Nessa Introdução, Jean-Claude Gardin chama a atenção para o fato de o texto literário ser tão complexo e heterogêneo e que “está tão ligado a representação do mundo que não pode ser explicado globalmente”. Na sequência, Gardin pergunta: “Então será preciso aceitar todas as abordagens?” E diz mais: “O exemplo encontrado em Logique du plausible, com as críticas ao soneto “Les Chats”, de Baudelaire, é eloquente: mais de cinquenta interpretações de um soneto com cerca de cem palavras, fazendo-o dizer coisas diferentes, como uma argumentação que se apresenta como racional.” Gardin pergunta-se, ainda: “Que interpretação (ções) escolher ou preferir? São elas compatíveis, complementares ou, ao contrário, excludentes? As interpretações são todas legítimas, inclusive as que não são feitas por intelectuais e acadêmicos? Caberá aceitá-las do mesmo modo, em nome da liberdade da leitura?” A resposta é dada pelo próprio Gardin: “Trata-se de fazer a avaliação de tudo isso em torno da questão da validação de uma leitura crítica”. 

        De Élisabeth Ravoux Rallo vamos para Ana Cecilia Olmos (Por que ler Borges, Globo, 2008) que, no capítulo "As Leituras da Tradição Nacional", deixa-nos uma pista importante, no que respeita à escolha de diversas criticas, para, como realça Rallo, entender as significações dos textos e também do humano. Olmos fala do anti-realismo da literatura borgiana, que se configura “a partir de certos procedimentos que, reiterados, definem um particular estilo de narrar”. 

       E diz mais, Ana Cecilia Olmos: “(...) É evidente que Borges privilegia a invenção da narrativa em detrimento da elaboração dos elementos que a constituem. Prefere, nesse sentido, só apresentar um argumento sem esgotar as possibilidades da história, vale dizer, assinalar a possibilidade de um relato e não desenvolvê-lo. Inclusive, uma vez apresentado o argumento, prefere aludir a hipotéticos episódios do enredo sem chegar a desdobrá-los”.

        Ana Cecilia Olmos prossegue falando sobre preocupação de Borges em não dilatar o relato com a configuração psicológica das personagens: “Também opta por não dilatar o relato com a configuração psicológica das personagens; limita-se a desenhar o perfil dos protagonistas identificando neles apenas os traços que são pertinentes à história". 

        Olmos menciona obras e autores que serviram de exemplo a Borges: "O processo, de Kafka, A volta do parafuso, de Henry James, e A invenção de Morel, de Bioy de Casares, são os títulos que Borges cita como exemplos magistais dessas estratégias narrativas que apontam na síntese e na economia dos recursos. Nesses relatos, ele afirma, o argumento e o ambiente são o essencial, e não as evoluções da fábula nem a penetração psicológica das personagens. Este aspecto da poética do relato explicaria, em alguma medida, as resistências do autor às formas extensas do romance e sua preferência pela brevidade do conto”.

       Para a próxima postagem o tema será ainda a crítica literária. [Para acessar primeira parte desse trabalho, clicar em: DA CRÍTICA LITERÁRIA – PARTE I].




REFERÊNCIAS:
COUTINHO, Afrânio. Crítica e e poética. Rio de janeiro: Livraria Acadêmica, 1968, p. 16-17.
RALLO, Élisabeth Ravoux. Métodos de crítica literária. Tradução de Ivone Benedetti. Introdução de Jean-Caude Gardin. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. XIX-XX.
OLMOS, Ana Cecilia. Por que ler Borges. São Paulo: Globo, 2008 – (Coleção por que ler / coordenador Rinaldo Gama).




3 comentários:

  1. Pedro,
    as matérias estão excelentes.
    A arte moderna é totalmente Aristotélica, não representa nem simboliza, ela é!
    Um abraço

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  2. Interessante todo o texto, Pedro.
    Mas o motivo da minha vinda a este erudito blog, se posso usar esta expressão, é agradecer a nova amizade.

    Abraço,
    Jorge

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  3. Caros amigos,

    Antonio Machado e
    Jorge Sader Filho: venho para agradecer as visitas e os comentários de ambos,que sempre serão bem-vindos.

    Grande abraço,
    Pedro.

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Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro