19 de set. de 2008

FAUSTO WOLFF / Uma perda para a literatura


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por Pedro Luso de Carvalho
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Com a morte, aos 68 anos, do escritor e jornalista gaúcho Fausto Wolff, natural de Santo Ângelo, e radicado há muitos anos no Rio de Janeiro, depois de ter vivido em Porto Alegre, sem contar com suas inúmeras andanças por esse mundo afora, as letras brasileiras ficam mais pobres com a ausência de seus textos (os já escritos permanecerão), com sua forma abusada de contar suas histórias, tanto no jornalismo como nos livros de ficção.


Fausto Wolff foi um observador impiedoso da realidade brasileira, e soube denunciar as suas mazelas, das quais tomou conhecimento, como ocorreu em casos de mau comportamento dos políticos e de suas falácias, com a verve que lhe era própria, sem que isso o colocasse na condição de juiz, que não se coadunava com seu espírito gozador e humanitário. Wolff ao mesmo tempo em que via tais abusos cometidos contra a sociedade, não perdia a oportunidade de mostrá-la ao público com a seriedade necessária, mas também realçando o que havia de ridículo (e às vezes trágico) nas pessoas e nas situações criadas por elas.


Por esses motivos, vamos sentir falta de Fausto Woolf. Quem sabe aparecerá outro escritor para preencher a lacuna que deixa, que saiba ser realista, gozador e um homem de bem ao mesmo tempo. Caso apareça esse escritor, na certa fará companhia a outros escritores brasileiros com esse perfil, como é o caso de um Millor Fernandes (Rio de Janeiro), de um Luis Fernando Veríssimo (Porto Alegre), de um Roberto Gomes (Curitiba).


Um bom exemplo desse espírito de crítica (e sacanagem) de Fausto Wolff se vê (também) no seu livro ABC DE FAUSTO WOLFF (Editora L&PM, Porto Alegre, 1988), ao escrever na letra ‘J’, o texto sobre o famoso psicanalista Jung, como segue:

“JUNG, Carl Gustav (1875-1961) – Gênio especializado em tudo. Uma das três glórias da Suíça. As outras duas são o queijo e o relógio-cuco. Psiquiatra, estudou medicina na Basiléia e praticou psiquiatria em Zurique. Provavelmente, se houvesse topado com Joyce por lá, acabaria por analisá-lo e inutilizá-lo para a literatura pelo resto da sua miserável vida. De 1907 a 1913, foi grande amigo e discípulo de Sigmund Freud. Vaidosíssimos, acabaram brigando. Os dois, como se sabe, são acusados de serem os responsáveis por esta praga que assola os países subdesenvolvidos".


E conclui Wolff: "Estou falando dos psicanalistas que durante 20 anos no Brasil e em outros países, enquanto anestesiavam a consciência dos tubarões (fardados ou não) ainda faziam hora extra dando psicoterapia de apoio aos torturadores do DOI, do CODI e da puta que os pariu. Jung era o peixinho preferido do Freud e com ele se correspondeu durante anos na base do Lieber herr professor doktor pra cá e pra lá, terminado com recomendações às fraus Freud e Jung. Entre as saudações e as despedidas comentavam as sacanagens que se passavam nas mentes doentias lá deles. Estranhamente, Freud, que – dizem – não comia ninguém além da frau Freud, dava ênfase ao sexo como mola propulsora do comportamento subconsciente, enquanto Jung que, tirando padres, escoceses e a Maria da Conceição Tavares, não perdoava ninguém que usasse saias, achava que havia algo mais”.


O verbete sobre Jung é mais longo, mas para se ter uma idéia do que eu disse acima sobre Fausto Wolff, já é suficiente, desde que não deixe de transcrever mais um trecho do verbete sobre Jung: “De qualquer modo, a briga com Freud deixou Jung meio maluco. Mas ele reagiu e se analisou entre 1914 e 1918 enquanto a Europa fazia a guerra para acabar com todas as guerras, enriquecer definitivamente a indústria bélica e matar alguns milhões de soldados”. Esse era (um pouco) o jornalista e escritor Fausto Wolff, de quem já sentimos falta.
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Pedro