9 de dez. de 2017

WILLIAM FAULKNER – Santuário & Outras obras




PEDRO LUSO DE CARVALHO

WILLIAM FAULKNER nasceu em New Albany, Mississipi, em 25 de agosto de 1897 e faleceu, nessa mesma região, em 6 de julho de 1962. Antes de se tornar escritor, exerceu as profissões de carpinteiro, pintor de paredes e chefe de correios, profissões humildes para quem descendia de uma antiga e ilustre família do sul dos Estados Unidos. Estudante, não conseguiu concluir a escola secundária, mas já era um bom leitor na sua juventude. Nessa época, alistou-se na Real Força Aérea do Canadá, onde freqüentou a Universidade Estadual Ole Miss, como estudante especial, por pouco mais de um ano.
Sua carreira de escritor começou graças ao encorajamento que lhe dispensou o escritor Sherwood Anderson, e que resultou no Soldier’s Pay, em 1926, seu primeiro livro. Daí em diante surgiram vários romances, dentre eles, Sanctuary (Santuário) que lhe deu celebridade, escrito em 1931, e que, segundo sua afirmação, escreveu-o com o fim de ganhar dinheiro. No espaço temporal que separa Soldier’s Pay, de Sanctuary, Faulkner escreveu Mosquitoes (1927), Sartoris (1929), The Sound and the Fury (1929), As Lay Dying (1930).
Faulkner escrevia com certa regularidade, resultando os romances que viriam integrar o que seria chamado de a saga de Yorknapatawpha: Light in August (1932), Pylon (1935), Absalom!, Absalom! (1936), The Unvanquished (1938), The Wild Palms (1939), The Hamlet (1940) e Go Down Moses (1941).
.Voltando ao romance Santuário, o mais conhecido de Faulkner, que o notabilizou, sobre ele escreveu o romancista, crítico literário e membro da Academia Francesa, André Malraux, ao apresentar a obra aos franceses, em 1933, no seu prefácio:
Há um destino único, que se levanta por trás de todos esses seres diferentes e assemelhados, como a morte atrás de uma enfermaria de incuráveis. Disse também, que Sanctuary representa “a inserção da novela policial na tragédia grega”. Diz ainda, Malraux: “O essencial não é que o artista seja dominado, mas que, passados cinqüenta anos, ele escolha cada vez mais aquilo que o domina em função de sua arte. Alguns grandes romances foram, antes de mais nada, para seus autores, a criação da única coisa que os pôde ocultar. E da mesma forma que Lawrence se volta para a sexualidade, Faulkner se refugia no irremediável”.
Também o escritor sul-americano Mario Vargas Lhosa, que hoje se encontra entre os nomes mais importantes da Literatura Universal, deu o seu depoimento sobre o célebre romance de Faulkner, Sanctuary, no seu livro de ensaios, A verdade das mentiras, publicado pela editora ARX no Brasil, em 2ª edição, no ano de 2002:
Na verdade, Sanctuary é uma das obras-primas que escreveu e que merece figurar, depois de Luz de agosto e de Absalom!, Absalom!, entre os maiores romances da saga Yorknapatawpha. A verdade é que por seu tremendismo [movimento artístico espanhol, formado no século XX] horripilante, pela crueldade e pela pusilanimidade potencializadas que expõe num nível de vertigem e pelo sombrio pessimismo que o reveste, o livro é irresistível. Precisamente: somente um gênio poderia ter contado uma história com semelhantes episódios e personagens, de um maneira que terminasse, não somente aceitável, mas, inclusive, feiticeira para o leitor. À extraordinária maestria com que está contada, esta história feroz, até o absurdo, deve sua auréola de ser uma inquietante parábola sobre a natureza do mal e sobre essas ressonâncias simbólicas e metafísicas que tanto excitaram a fantasia dos críticos”.
A partir da Segunda Guerra Mundial, Faulkner escreveu os seguintes romances: Intruder in the Dust (1948), Requiem for a Nun (1951), A Fable (1954) e The Dust (1954), The Town (1957) The Mansion (1959), The Reivers (1962). As suas Collected Stories receberam o National Book Award, em 1951. Esse mesmo prêmio lhe foi concedido novamente por A Fable, em 1954. Além dessas obras, outras foram escritas por Faulkner, muitas delas no gênero conto, poesias e roteiros para o Cinema. O seu último romance, The Reivers, escrito em 1962; no Brasil, foi publicado com o título de Os Desgarrados, pela Civilização Brasileira. Bem antes, em 1949, Faulkner foi distinguido com o Prêmio Nobel de Literatura.
Ao ser entrevistado pela Paris Review no ano de 1956, na cidade de Nova York, William Faulkner disse que a única responsabilidade do escritor é para com sua arte. Perguntado, na seqüência da entrevista, sobre o que teria a dizer dele próprio como escritor, respondeu:
Se eu não tivesse existido, algum outro teria escrito meus livros: Hemingway, Dostoievski, todos nós. A prova disso é que há cerca de três candidatos para a autoria das peças de Shakespeare. Mas o que é importante é Hamlet e O sonho de uma noite de verão: não quem os escreveu, mas o fato de alguém o ter feito. O artista não tem importância. Só é importante o que ele cria, já que não existe nada de novo para ser dito. Shakespeare, Homero, Balzac, todos escreveram acerca das mesmas coisas e, se eles tivessem vivido mil anos, os editores não teriam, desde então, a necessidade de ninguém mais (.. .)”
Transcrevo abaixo, para quem ainda não leu Santuário (Sanctuary), ou qualquer outro romance de Faulkner, ou para quem queira reler o escritor, dois trechos da história; ambos os trechos se passam na cadeia, para onde Goodwin foi conduzido:
No dia em que o delegado trouxe Goodwin para a cidade, havia na cadeia um assassino, um negro, que matara sua mulher. Cortara-lhe o pescoço com uma navalha, de modo que, a cabeça destacando-se cada vez mais para trás, toda ensangüentada ela correra para fora da cabina, dando seis ou sete passos na senda enluarada. À tarde, o assassino apoiava-se às grades da prisão e cantava”.
A flor caíra da árvore-do-paraíso, a um canto do pátio da cadeia. Jaziam no chão, grossas, pegajosas, adocicadas, de uma doçura excessiva e moribunda. À noite, a sombra irregular de galhos que agora só tinham folhas estremecia fracamente nas grades de ferro. A janela ficava na sala comum. As paredes caiadas de branco estavam manchadas, com a marca de mãos, rabiscos de nomes e datas, inscrições obscenas, feitas a lápis, com a unha ou com lâmina de faca. Todas as noites, o negro assassino ali se apoiava, o rosto manchado pela sombra das grades nos irrequietos interstícios das folhas. E cantava, em coro, com aqueles que se achavam na cerca lá embaixo”.



REFERÊNCIAS:
uçãoVARGAS LLOSA, Mario. A verdade das mentiras. Tradução de Cordélia Magalhães. 2ª ed. São Paulo: Ed. ARX, 2002.
PARIS REVIEW. Escritores em ação. Coord. de M. Cowley. Tradução de Brenno Silveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
NATHAN, Monique. Faulkner. Tradução de Hélio Pólvora. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991.
FAULKNER, William. Santuário. Tradução de Lígia Junqueira Caiuby. São Paulo: Ed. Victor Civita, 1980, p. 106.


   
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2 comentários:

  1. Emilio Romero09:22

    Obrigado ao senhor por por mostrarnos as tremendas realidades da ficção, por sua adesão às feições do invisível no cotidiano, que é uma das tarefas da litetura.

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    1. Caro Emilio,

      Obrigado por sua visita e pelo seu comentário.

      Um abraço,
      Pedro.

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Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro