11 de mar. de 2012

[Prosa - poética] PEDRO LUSO – O Passado é Logo Ali




                                                   O PASSADO É LOGO ALI

                                                                                                -  Pedro Luso de Carvalho



       De que valeu a luta travada no decorrer do tempo? Refletia o homem soturno. Era só isso que tinha a vida sonhada? Pensava nos muitos sacrifícios que tivera, renúncias impensadas, para esse viver oprimido. Viu apenas que percorreu o caminho errado; seus olhos ficaram opacos na altura em que se bifurcavam as estradas, encruzilhada de enganos.

        Chegou até aqui, mas deixou almas marcadas pela dor; deixou saudade oprimindo peitos plenos de amor.

        Como unir esta solidão aos risos que ficaram no leito da estrada palmilhada? Como seria bom o retorno à inocência, infância perdida.

        Seus olhos então refletiriam o brilho que não soube ver. Poderia voltar a sentir o perfume das macieiras no verde pomar amadurecendo; ouvir a suave melodia das águas do riacho escondendo-se entre os arbustos; ver a lua brilhar na noite por entre as árvores; árvores que durante o dia acolhiam o menino protegendo-o do sol e da chuva; cama para o descanso nas tardes quentes que lhe aquecia o coração; mãe-árvore enfeitando com a sombra de seus ramos o frágil corpo do menino envolto em sonhos; som do vento e das cigarras transportando-o para mundos inimagináveis.

        É salvo pelo passado, que é logo ali.



                                                        * * * * * *

8 comentários:

  1. Caro Pedro,
    eu fiz um modesto comentário sobre seu texto poético no blog da Taís.
    Mas nunca se consegue dizer tudo.
    Salvo pelo passado, que expressão bonita. Possível para quem teve passado que tenha valido a pena, para quem teve infância!
    Um abraço

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  2. De repente, dei-me comigo encima de uma arvore a construir uma casa. Sonhos realizados, infâncias que não voltam, recordam-se!

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  3. Demais, camarada. Sempre ali, o passado.

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  4. Absolutamente... lindo...

    Beijo da Nita.

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  5. Caro dr. Pedro começo me encantando pela pintura de árvore, então mergulho nesta memória em que me encontro menino ainda brincando naquela árvore...
    Me pergunto também, será que valeu a pena ?(tudo vale a pena se a alma não é pequena). Os caminhos que a vida nos apresenta e os que escolhemos trilhar...mas nada vai substituir o doce balanço do galho da árvore, das aventuras, dos sonhos....então nos tornamos adultos. Ainda bem, que o passado é logo ali. Belíssimo conto.
    Um imenso abraço.

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  6. Meu Amigo
    Fiquei agradavelmente surpreendida com esta prosa poética.
    Podemos encontrar muitas encruzilhadas na vida mas, seremos sempre salvos pelo passado.
    Visto a roupagem de todo este texto porque, para mim, o passado é logo ali! E o meu blogue é a prova disso!
    Com muito carinho.
    Graça

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  7. Sr. Pedro Luso,

    Acompanho seu blog há algum tempo, sem a coragem de me manifestar diante de tanto conhecimento. Venho aqui para aprender, absorver um pouco de sua cultura.
    Desta vez, porém, saio do anonimato para aplaudir publicamente seu talento. Linda prosa poética, terminei a leitura encantada! E com a nítida sensação de que o passado de fato é logo ali...

    Despeço-me feliz por ter encontrado no mundo virtual literatura de nível superior, que é o caso de sua produção e das crônicas de Tais Luso. Um prazer conhecê-los através da blogosfera!

    Um abraço.

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  8. Tens razão...

    O passado está pertinho mesmo,logo ali, pelo menos em nossas lembranças!

    Lindo!

    abraços,chica

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Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro