16 de mai. de 2008

WILLIAM KENNEDY – Literatura & Cinema

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por Pedro Luso de Carvalho
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William Kennedy, ex-jornalista e escritor norte-americano, nasceu em Albany, capital de Nova Iorque, no ano de 1928. Ficou conhecido em nosso país por alguns de seus romances, como: Ramalhete em chamas e os que foram publicados anteriormente, e que compõem o Ciclo de Albany, quais sejam: Legs (1983), A grande jogada (1978) e Vernônia (1983). Desses, Legs, salvo engano, não foi publicado no Brasil.
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Os três primeiros romances de William Kennedy, cujas histórias abrangem um período de depressão, vão até a publicação de A grande jogada (Billy Phelan's Greatest Game), quando termina o Ciclo de Albany; nos próximos romances, Kennedy explora vários períodos da história da cidade: Quinn's Book (1988), Very Old Ossos (1992), The Flaming Corsage (1996) e Roscoe (2002). Neste texto, atenho-me ao Ciclo de Albany e ao primeiro livro pós-ciclo, qual seja, Ramalhete em chamas.
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A grande jornada, o segundo romance do Ciclo de Albany, que foi publicado em 1978, tem por cenário Albany, capital do Estado de Nova Iorque, que é dominada por poucas famílias irlandesas católicas. Os seus principais personagens: Billy Pelan, pessoa esperta, principalmente nos jogos de azar, conhecido por quem freqüenta os botequins. A outra personagem é chamada de Martin Daugherty, jornalista, andando lá pelos cinqüenta, homem tranqüilo que se realiza com as tacadas e os blefes do amigo. Alguns fatos unem esses amigos, nem sempre para o bem, como o caso do seqüestro do filho de um dos chefões do lugar, em que estiveram envolvidos. Também um sentimento comum liga-os, qual seja, o ressentimento da ausência paterna (uma das passagens comoventes da história, quando pai e filho se reencontram).
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Quanto ao quarto romance de Kennedy, Vernônia (Ironweed), o mais importante dos que compõem o Ciclo de Albany, os editores, que não acreditaram que os leitores pudessem interessar-se pelo livro de Kennedy (Ironweed), com seus personagens marginais, por treze vezes recusaram-se a publicá-lo, o que irritou profundamente o Nobel de Literatura Saul Bellow, levando-o a intervir em seu favor, resultando na sua aceitação em 1983. Com essa obra, Kennedy recebeu os Prêmios Pulitzer e National Book Critics Circle de o melhor romance do ano.
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Robert Towers, do New York Times Book Review, escreveu sobre Ironweed: "uma espécie de fantasia sobre o estranhamento do destino humano, sobre as maneiras em que vida pode ser transformada e, por vezes, resgatada... Um trabalho de interesse incomum, original em sua concepção, cheia de energia e de cor, um excelente complemento para o Ciclo de Albany”. Michael M.Thomas, do Washington Post assim se manifestou: "William Kennedy é um escritor com alguma coisa a dizer, sobre questões que tocam a todos nós, e ele diz com arte incomum"..
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Vernônia, o quarto romance de Kennedy, foi levado para o cinema pelo diretor argentino (brasileiro, por adoção) Hector Babenco, que dirigiu, entre outros, os filmes: Pixote e O beijo da mulher aranha. Ironweed (Vernônia) foi protagonizado por Jack Nicholson e Mery Streep. A adaptação do romance para o cinema coube ao próprio William Kennedy. O filme teve sua estréia nos Estados Unidos em 1987, e, um pouco mais tarde, também no Brasil”.
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No cinema, William Kennedy participou do roteiro de Cotton Club (1986), em parceria com o famoso diretor Francis Ford Coppola. A direção do filme (Cotton Club) foi de Coppola, e teve como protagonistas Richard Gere e Diane Lane. Rubens Ewald Filho, conhecido crítico de cinema, assim se manifestou sobre Cotton Club: “Uma espécie de Poderoso Chefão musical. É difícil se acreditar que se gastou 50 milhões de dólares para fazer este filme razoável, que nunca se assume como musical (nunca se vê direito os números, nem mesmo os de sapateado). Eles servem mais como plano de fundo para a trama. São dois pares de gêmeos, os negros que desejam subir no show bussines - no Cotton Club, que existiu mesmo, os artistas eram negros, mas só os brancos podiam freqüentá-lo - (...) Excelente música, mas era preciso gastar tanto?”.
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O primeiro livro de William Kennedy depois de O Ciclo de Albany, que atingiu o seu ápice com Vernônia (Ironweed), foi o Ramalhete em chamas, escrito em 1995. Sobre esse romance escreve crítico literário norte-americano Harold Bloom, talvez o mais importante crítico d inglesa:
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“O ciclo de romances de Albany de William Kennedy manifesta uma vitalidade autêntica desde o início, e parece ter atingido uma apoteose com Vernônia, em particular. O Ramalhete em chamas transforma o ciclo no que Rushkin louvava em Dickens o fogo do palco. Ao mesmo tempo poema em prosa, romance histórico e melodrama teatral, o novo livro de Kennedy dá provas de uma exuberância estética que supera em muito sua obra anterior. Katrina Taylor é a personagem mais memorável de Kennedy, cheia de nuances e ansiosa pelo desastre, e com certeza há de impressionar os leitores mais sensíveis”.
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A personagem masculina de Kennedy em Ramalhete em chamas, Edward Daugherty, é um famoso dramaturgo de origem irlandesa, que matem uma apaixonada relação com Katrina Taylor, mulher bela e sedutora vinda das classes mais abastadas, em desnível social com Edward, como se vê no trecho do capítulo Edward e a Sopa de Feijão:
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“25 de setembro de 1885. Edward caminhou os cinco quilômetros Broadway acima, entre a redação de The Argus e o saloom de Black Jack, deixando à sua passagem pelo North End o rastro psíquico que os futuros noivos vão emanando quando começam a fazer planos de abandonar seu território de origem. Chegou ao ponto onde antes o calçamento acabava de repente: na entrada do pasto do Solar do Patroon (a residência dos antigos senhores de todas aquelas terras desde os tempos dos holandeses, onde sua mãe trabalhara como cozinheira para a viúva do último patroon). O Solar era o extremo norte da civilização, segundo os construtores das ruas de Albany, e depois dele se entrava no ermo bairro irlandês onde Edward fora criado e para o qual ruas de lama cobertas de taboas eram mais que suficientes.”
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Pedro