9 de nov. de 2024

[Literatura] JOHN CHEEVER – A Crônica de Whapshot



    
                

                     - Pedro Luso de Carvalho

Não faz muito tempo, pouco mais de dez anos, encontrei, na Feira do Livro de Porto Alegre, um livro do escritor norte-americano John Cheever, nascido em Quincy, Massachusetts, em 1912, cujo título é Até parece o paraíso, editado pela Companhia Das Letras.

Sobre essa obra, o escritor John Upidike escreveu, para The New Yorker: “Encantadora comédia suburbana, tão direta que chega a nos desarmar. Cheever exalta a sublime poesia da vida. Na criação de imagens e acontecimentos é um escritor sem igual na ficção americana contemporânea”.

Diante da qualidade do seu texto, procurei outras obras do escritor; encontrei o romance A Crônica dos Wapshot, que a crítica estadunidense considerou um dos cem melhores romances da língua inglesa; com ele, John Cheever ganhou o importante prêmio National Book Award, em 1958. Mais três importantes prêmios foram conquistados por John Cheever: em 1978, o Prêmio Pulitzer e a Medalha Edward MacDowell; em 1981, a National Medal for Literature.

Embora muito conhecido pelos norte-americanos, pela qualidade de sua obra, John Cheever era, até pouco tempo, desconhecido no Brasil. Por ocasião de sua morte, ocorrida em 1982, na localidade de Ossininng, Nova York, a Folha de S. Paulo publicou apenas um pequeno texto de Paulo Francis, sobre o escritor.

Quando o romance A Crônica dos Wapshot foi lançado nos Estados Unidos, em 1957, os críticos literários receberam a obra com grande surpresa, pelo fato de ter sido esse o primeiro romance do escritor. No Brasil, A Crônica dos Wapshot  foi publicada pela Editora ARX, em 2002.

Na data do lançamento do romance A Crônica dos Wapshot, John Cheever estava com 45 anos de idade; há muitos anos o escritor dedicava-se quase que inteiramente à narrativa curta. Como contista, era comparado por muitos críticos norte-americanos a Anton Tchekhov, escritor russo, que foi um dos nomes mais importantes da narrativa curta, e que influenciou inúmeros escritores de muitas nacionalidades.

Em A Crônica dos Wapshot, Cheever conta a história de uma família de classe média da Nova Inglaterra, na qual estão presentes personagens que a ela dão força e consistência, como é o caso Leander Wapshot, homem tranquilo absorvido pelo trabalho, em seu velho barco, e oprimido pela esposa dominadora, Mrs Wapshot, e por outra mulher, Honora, sua prima excêntrica.

Os dois filhos do casal Wapshot, Moses e Coverly, também são personagens importantes; eles trocam a pequena cidade em que nasceram por Washington, para onde vão à busca de trabalho. Com os acontecimentos, que se intercalam entre Washington e St. Botolphs, a narrativa se desenvolve e ganha grande intensidade.

Segue um trecho do romance A Crônica dos Wapshot, de John Cheever (in Cheever, John.  A Crônica dos Wapshot; [tradução Assef Kfouri] São Paulo: Arx, 2000, p. 269):

“Que coisa frágil é o homem. A despeito dos bagos e da bazófia, um simples sussurro é capaz é de transformar sua alma em cinzas. O gosto de sal numa casca de uva, o cheiro do mar, o calor do sol de primavera, frutos amargos e doces, um grão de areia nos dentes – tudo isso que entendia por vida lhe estava sendo tirado. Onde estavam os crepúsculos serenos de sua velhice? Arrancaria os próprios olhos. Ao ver o brilho de vela em seu navio – ele o trouxera de volta ao porto em meio a ventanias e tempestades – sentiu-se espectral e desvirilizado. Foi à gaveta da cômoda e pegou, debaixo da rosa desidratada e da trança de cabelo, a pistola carregada. Aproximou-se da janela. Os fogos do dia se extinguiam como uma conflagração numa cidade industrial, e acima da cúpula do celeiro viu a estrela Vésper, doce e rotunda feito lágrima humana. Disparou a pistola pela janela e caiu no chão”.


 


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25 de set. de 2024

[Crônica] CAIO FERNANDO ABREU – A morte dos Girassóis


 – Pedro Luso de Carvalho

CAIO FERNANDO ABREU nasceu na pequena Santiago, cidade do interior do Rio Grande do Sul, a 12 de setembro de 1948, e morreu em Porto Alegre no dia 25 de fevereiro de 1996, acometido pelo vírus da Aids.
Ainda era muito jovem, quando se mudou para Porto Alegre. Ingressou nas faculdades de Letras e Arte Dramática, mas não chegou a concluir nenhum desses dois cursos. Mudou-se para o centro do país para dedicar-se ao jornalismo. No período que compreende os anos de 1973 a 1994 trabalhou na Europa e também no Brasil para diversos veículos de comunicação Foi nesse período que editou grande parte de seus romances, novelas, contos e crônicas.
Segue a crônica A morte dos Girassóis, de Caio Fernando Abreu, conto esse que integra a coletânea Histórias de Grandeza e de Miséria, Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 51-52:

A MORTE DOS GIRASSÓIS
– CAIO FERNANDO ABREU

Anoitecia, eu estava no jardim. Passou um vizinho e ficou me olhando, pálido demais até para o anoitecer. Tanto que cheguei a me virar para trás, quem sabe alguma coisa além de mim no jardim. Mas havia apenas os brincos-de-princesa, a enredadeira subindo lenta pelos cordões, rosas cor-de-rosa, gladíolos desgrenhados. Eu disse oi, ele ficou mais pálido. Perguntei que foi, ele enfim suspirou: “Me disseram no Bonfim que você morreu na quinta-feira”. Eu disse ou pensei dizer ou de tal forma deveria ter dito que foi como se dissesse: “É verdade, morri sim. Isso que você está vendo é uma aparição, voltei porque não consigo me libertar do jardim, vou ficar aqui vagando feito Egum até desabrochar aquela rosa amarela plantada no dia de Oxum. Quando passar lá no Bonfim diz que sim, que morri mesmo, e já faz tempo, lá por agosto do ano passado. Aproveita e avisa o pessoal que é ótimo aqui do outro lado: enfim um lugar sem baixo astral”.
Acho que ele foi embora, ainda mais pálido. Ou eu fui, não importa.
Mudando de assunto sem mudar propriamente, tenho aprendido muito com o jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora parecem flores simples, fáceis, até um pouco brutas.
Pois não são. Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos destruidores. Depois de meses, um dia pá! Lá está o botãozinho todo catita, parece que vai abrir.
Mas leva tempo, ele também, se produzindo. Eu cuidava, cuidava, e nada. Viajei por quase um mês no verão, quando voltei, a casa tinha sido pintada, muro inclusive, e vários girassóis estavam quebrados. Fiquei uma fera. Gritei com o pintor: “Mas o senhor não sabe que as plantas sentem dor que nem a gente?” O homem ficou me olhando tão pálido quanto aquele vizinho. Não, ele não sabe, entendi. E fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer.
Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor, geralmente despenca. O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida. Pois conheço poucas coisas mais esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto.
Alguns amarrei com cordões em estacas, mas havia um tão quebrado que nem dei muita atenção, parecia não valer a pena. Só apoie-o numa espada de São-Jorge com jeito, e entreguei a Deus. Pois no dia seguinte, lá estava ele todo meio empinado de novo, tortíssimo, mas dispensando o apoio da espada. Foi crescendo assim precário, feinho, fragilíssimo. Quando parecia quase bom, cráu! Veio chuva medonha e deitou-o por terra. Pela manhã estava todo enlameado, mas firme.  Aí me veio a ideia: cortei-o com cuidado e coloquei-o aos pés do Buda chinês de mãos quebradas que herdei de Vicente Pereira. Estava tão mal que o talo pendia cheio de ângulos das fraturas, a flor ficava assim meio de cabeça baixa e de costas para o Buda. Não havia como endireitá-lo.
Na manhã seguinte, juro, ele havia feito um giro completo sobre o próprio eixo e estava com a corola toda aberta, iluminada, voltada exatamente para o sorriso do Buda. Os dois pareciam sorrir um para o outro. Um com o talo torto, o outro com as mãos quebradas. Durou pouco, girassol dura pouco, uns três dias. Então peguei e joguei-o pétala por pétala, depois o talo e a corola entre as alamandas da sacada. Para que caíssem no canteiro lá embaixo e voltassem a ser pó, húmus misturado à terra. Depois não sei ao certo, voltasse à tona fazendo parte de uma rosa, palma-de-Santa Rita, lírio ou azaleia, vai saber que tramas armam as raízes lá embaixo no escuro, em segredo.
Ah, pede-se não enviar flores. Pois como eu ia dizendo, depois que comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se deve decretar a morte de um girassol antes do tempo, compreendeu? Algumas pessoas  acho que nunca. Mas não é para essas que escrevo.

Zero Hora, 18 de março de 1995


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29 de jul. de 2024

MORRE O ESCRITOR JOHN UPDIKE

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- por Pedro Luso de Carvalho .

 

No dia 27 de janeiro deste ano, morreu o escritor estadunidense John Updike, aos 76 anos. Câncer no pulmão, foi a causa da morte de Updike, doença contra a qual lutava há alguns anos, segundo informação de seu editor Alfred A. Knopf, ao The New York Times. Updike Era considerado um dos intelectuais mais influentes dos Estados Unidos durante a segunda metade do século 20. Na literatura norte-americana contemporânea, ombreava-se com grandes nomes do romance como Saul Bellow e Philip Roth, entre outros. O escritor residiu em Beverly Farms, Massachusetts (USA). John Hoyer Updike nasceu 18 de março de 1932, na pequena cidade de Shillington, Pennsylvania (EUA). Formou-se em Harvard em 1954, e no mesmo ano residiu por um ano na Inglaterra, onde foi estudar belas-artes. De 1955 a 1957, fez parte da equipe de redação da revista The New Yorker, para a qual contribuiu com poemas, contos, ensaios e resenhas. Destacou-se também como cronista, crítico literário e ensaísta no The New York Review of Books. Em 1957, mudou-se para Massachusetts. Escreveu sobre a América, que ressurgiu com ímpeto depois da Segunda Guerra Mundial - e que começava a esquecer a Grande Depressão. E foi nessa época, que passou pelo pessimismo com crash da Bolsa de 1929 ao otimismo dos anos cinqüenta, que cresceu o jovem Updike no seio de uma família protestante da Pennsylvania, e tornou-se profundo conhecedor da sociedade estadunidense. Nos sessenta anos que se seguiriam, escreve sobre essa sociedade que veria o surgimento da luta pelos direitos civis e a oposição à guerra do Vietnã.
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Updike foi um autor prolifero, com mais de 50 livros, dentre eles, 25 romances e mais de 12 livros de contos, além de livros de poesia, ensaio e teatro; toda sua obra abrange o período de tempo que compreende a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais. Era exigente no tocante a qualidade de seu texto, tanto na sua produção ficcional como na sua produção como crítico literário e ensaísta. Foi ganhador do prêmio Pulitzer (por duas vezes), do National Book Award e do National Critics Circle Award.=
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Dentre os muitos romances que Updike escreveu, destaca-se a famosa saga do Coelho Angstron, um brilhante painel da cultura e da sociedade norte-americana nas últimas décadas. Updike era um escritor de larga experiência, com surpreendente talento para apreender detalhes e riquezas do quotidiano. No Brasil, alguns livros do escritor foram editados pela Companhia das Letras: Coelho corre, Coelho cai, Brazil, Memórias em braco (romances); Bem perto da costa (ensaios); e Consciência à flor da pele (memórias), entre outros. Corre coelho também foi publicado pela Editora Civilização.
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9 de mai. de 2024

[Crônica] ANTÔNIO MARIA – A noite é uma lembrança



– Pedro Luso de Carvalho

ANTÔNIO MARIA (Antônio Maria Araújo de Morais) nasceu em Recife a 17 de março de 1921 e morreu no dia 15 de outubro de 1964, aos 43 anos. Esse que foi um dos nossos melhores cronistas mantinha colunas diárias no O Jornal, onde permaneceu por 15 anos; no O Globo, em 1959 e na Última Hora, todos do Rio de Janeiro.
Antônio Maria foi muito mais que excelente cronista, foi homem de televisão (TV Tupi e TV Rio), foi radialista (rádio Mayrink), foi compositor (escreveu a letra de Manhã de Carnaval e muitas outras). A música Manhã de Carnaval serviu de temas musicais para o filme franco-ítalo-brasileiro, Orfeu Negro, ganhador da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro.
Maria, como era como era conhecido, fez muitos amigos: Di Cavalcanti, Dorival Caymmi, Jorge Amado, Vinícius de Moraes, Carlos Heitor Cony, Aracy de Almeida, Luiz Bonfá, dentre tantos outros.
Passemos agora à crônica de Antônio Maria, intitulada A noite é uma lembrança, escrita 18/5/1957, no Rio de Janeiro (in Morais, Antônio de Araújo de.  Crônicas de Antônio Maria. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1996, p. 31-33):

    
A NOITE É UMA LEMBRANÇA
    –  Antônio Maria

BOA VIAGEM, FEVEREIRO. É de principiante isto de o cronista escrever que está numa janela de hotel, vendo a noite e fumando um cigarro. Mesmo havendo mar e sendo Boa Viagem um encontro muito desejado, não gosto da sem-cerimônia com que me faço personagem de mais uma crônica, como se eu, a noite e o cigarro ainda fôssemos novidade.
Entretanto, alguns acontecimentos espirituais do homem podem ser contados e explicados, desde que esse homem seja capaz de transmitir a alguém a beleza de sua solidão. Que ninguém se queixe de falta de ocorrências para escrever melhor. E sim de incapacidade para gritar o seu grande mundo interior.
Eu vim à janela porque conheci uma moça e estou preocupado em como a venho pensando, há um enorme tempo. O cabelo, os olhos, a boca, as mãos e o silêncio. Também a palavra vagarosa, que perguntava de vez em quando sobre uma verdade já velha ou sobre uma mentira mais em moda. Se confiasse em cada um de nós, explicaria à sua maneira o Homem, o Amor, o rio Capibaribe e o compositor João Sebastião Bach. Mas para isso, além de ser preciso confiar, teria que pedir a palavra e se imponentizar de tal maneira que nos assustaria à sua volta, após assustar-se consigo mesma. O que dizia eram curtas perguntas. O que fazia era pouco e casual. Mesmo assim eu a adivinhava sábia e corajosa.
Mais das vezes se escreve assim de uma mulher quando por ela se sente uma dessas súbitas emoções, muito parecidas com o chamado amor à primeira vista. Mas, em meu caso, essas impressões já não me confundem. Uma mulher me empolga assim que a sinto gente; e nela me perco, de descoberta em descoberta, sem me consentir a mínima desconfiança de estar amando-a, em qualquer das maneiras antigas ou atuais de amar alguém. Uma mulher-gente nos atrai aos seus mistérios e, no tempo em que procuramos desvendá-los, só acrescentamos dúvidas à nossa ignorância inicial.
Apesar disso, é dever do homem-gente deixar que o seu pensamento se demore nas lembranças de sua conhecida recente. Amor é outra coisa. Amor a gente espera, como o pescador espera o seu peixe, ou o devoto espera o seu milagre: em silêncio, sem se impacientar com a demora. E o amor a gente não conta pelo jornal a não ser quando quando o sentimento trai a frase, juntando palavras que deviam estar sempre separadas.
Cá estou, porém, nesta janela que não me deixa mentir, em frente à noite de que sou uma espécie de filho de criação, a repassar lembranças de uma moça que, de mim, se muito recordar, recordará meu nome. Eu também a esquecerei, mas daqui a duas ou três mulheres importantes. Agora, faz-me bem, inclusive, sofrê-la um pouco. É tarde. Deveria ir para a cama. Todavia, não seria  direito. Numa moça, a gente pensa na janela.

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23 de abr. de 2024

AUGUSTO DOS ANJOS – Poeta Singular



      – Pedro Luso de Carvalho

AUGUSTO DOS ANJOS nasceu no Engenho de Pau D’Arco, junto à vila Espírito Santo, Estado da Paraíba, no dia 20 de abril de 1884. Aprendeu as primeiras letras com seu pai, advogado estudioso e dono de uma excelente biblioteca, na qual se encontravam obras de Darwin, Spencer e outros teóricos evolucionistas.
Cursou o secundário no Liceu Paraibano e Direito em Recife. Essa graduação, no entanto, não lhe serviu como profissão, já que nunca exerceu a advocacia, por não ser essa sua vocação, mas, sim, o magistério. Lecionou literatura no Liceu Pernambucano, e, depois, já no Rio de Janeiro, foi professor de Geografia na Escola Normal e no Colégio Pedro II. Daí mudou-se para Leopoldina, no Estado de Minas Gerais, onde foi diretor de um grupo escolar.
Diz-se que Augusto dos Anjos compôs os seus primeiros versos aos sete anos de idade. Mas o certo é que, mais tarde, a crítica chegaria a reconhecer ser ele o mais original dos poetas brasileiros, e de que poucos haverá, como ele, tão originais na língua portuguesa. É bem verdade que, em vida, o poeta não pode sentir esse valor atribuído à sua poesia; esse reconhecimento só viria ocorrer anos mais tarde.
Exemplo de que o reconhecimento da excepcional obra poética de Augusto dos Anjos parecia ter tido pouco significado na época em que fez, às suas expensas e com a ajuda de seu irmão, a publicação de seu livro “Eu”, é contada por Francisco de Assis Barbosa, um dos mais importantes biógrafos do poeta:
Dias depois de sua morte, ocorrida em Leopoldina, Órris Soares e Heitor Lima caminhavam pela Avenida Central e pararam na porta da Casa Lopes Fernandes para cumprimentar Olavo Bilac. O príncipe dos poetas notou a tristeza dos dois amigos, que acabaram de receber a notícia. – E quem é esse Augusto dos Anjos – perguntou. Diante do espanto de seus interlocutores, Bilac insistiu: Grande poeta? Não o conheço. Nunca ouvi falar nesse nome. Sabem alguma coisa dele? Heitor Lima recitou o soneto Versos a um coveiro. Bilac ouviu pacientemente, sem interrompê-lo. E, depois que o amigo terminou o último verso, sentenciou com um sorriso de superioridade: - Era esse o poeta? Ah!, então, fez bem em morrer. Não se perdeu grande coisa.
A afirmação feita por Ivan Cavalcanti Proença, sobre Augusto dos Anjos, contraria o que disse dele Olavo Bilac: “Hoje, é um dos três mais lidos, e conhecidos poetas de antes do Modernismo, em língua portuguesa no Brasil, ao lado do nosso Castro Alves e da lírica Marília de Dirceu de Tomás Antonio Gonzaga”.
Diz Alfredo Bosi, no seu livro A Literatura Brasileira. O Pré-Modernismo, publicado em em 1966: “Augusto dos Anjos foi homem de um só livro: ‘Eu’, publicado em 1912, e cuja fortuna, extraordinária para uma obra poética, atestam as trinta edições vindas à luz até o momento em que escrevemos (1966)”.
Ivan Cavalcanti Proença enumera outras edições de Eu, de Augustos dos Anjos: a 29ª em 1963, pela Livraria São José, a 30ª (1965) e a 31ª (1971). Esta contou com o estudo de Antonio Houaiss e nota biográfica de Francisco de Assis Barbosa, com “Poemas Esquecidos” (Agrupados por De Castro e Silva em estudos de 1914 e 1954).
Acrescenta Proença, que, pela Editora Paz e Terra, saem duas edições: a de 1978, Toda a Poesia, com estudo de Ferreira Gullar e apresentação de Otto Maria Carpeaux (edição que reproduz a 31ª da São José). Em 1987 a Editora Civilização Brasileira lançou o livro Eu e Outras Poesias, com texto e notas de Antonio Houaiss, o Elogio... de Órris Soares, o estudo biográfico de Francisco de Assis Barbosa. Além dessas edições, saíram as edições da Martins Fontes, em 1994,  da Paz e Terra e Nova Aguilar, ambas em 1995.
O professor Sergius Gonzaga assim se manifesta sobre o poeta, em sua obra Curso de Literatura Brasileira:
Augusto dos Anjos é um caso a parte na poesia brasileira. Autor de grande sucesso popular foi ignorado por certa parcela da crítica, que o julgava mórbido e vulgar. Alguns estudiosos que se debruçaram sobre essa obra única e absolutamente original perderam tempo discutindo se a mesma era parnasiana ou simbolista. O domínio técnico e o gosto pelo soneto comprovariam o primeiro rótulo. A fascinação pela morte, a angústia cósmica e o emprego de ousadas metáforas, indicariam a tendência simbolista.
Esse debate tornou-se obsoleto perante estudos mais apurados, como o de Ferreira Gullar, que acentua a modernidade dos versos de “Eu”. Diz Gullar: “Talvez nenhum outro autor do período merecesse tanto a denominação de pré-modernista como Augusto dos Anjos. Pré-modernista ele o é na mistura de estilos, na linguagem corrosiva, no coloquialismo e na incorporação à literatura de todas às sujeiras da vida”.
Durante muito tempo, discutiu-se se ele era ou não um grande poeta. Hoje, os estudiosos sublinham sua singularidade temática e linguística, mesmo reconhecendo eventuais deslizes. Alguns, contudo, lembram a morbidez e a vulgaridade desenfreada de várias composições. Pode-se gostar ou não de sua obra, mas sonetos como Versos Íntimos estão de tal forma entranhada na memória do leitor brasileiro que não mais podem ser ignorados. Tornaram-se clássicos.
O poema que Augusto dos Anjos dedica ao seu pai falecido revela o seu sentimento de angústia diante da morte, uma perspectiva sempre presente, desde que soube da doença que o acometia, a tuberculose, e que, mais tarde, viria tirar-lhe a vida:

Podre meu pai! A Morte o olhar lhe vidra.
Em seus lábios que os meus lábios osculam
Microorganismos fúnebres pululam
Numa fermentação gorda de cidra.

Duras leis as que os homens e a hórrida hidra
A uma só lei biológica vinculam
E a marcha das moléculas regulam,
Com a invariabilidade da clepsidra!

Podre meu pai! E a mão que enchi de beijos
Roída toda de bichos, como os queijos
Sobre a mesa de orgíacos festins!...

Amo meu pai na atômica desordem
Entre as bocas necrófagas que o mordem
E a terra infecta que lhe cobre os rins!

Augusto dos Anjos (Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos) era um dos quatro filhos de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula Carvalho Rodrigues dos Anjos. Em 1910, antes de mudar-se para o Rio de Janeiro, casou-se, aos 23 anos, com Ester Fialho, com quem teve dois filhos: Glória (1912) e Guilherme (1913). Faleceu aos 12 de de novembro de 1914, em Leopoldina – para onde se mudara para tratar da tuberculose – vítima de congestão pulmonar.


REFERÊNCIAS:

GONZAGA, Sergius. Curso de Literatura Brasileira. Porto Alegre: editora Leitura XXI, 2004.
LINS, Álvaro. BUARQUE de Hollanda, Aurélio. Roteiro Literário de Portugal e do Brasil. Rio de Janeiro: Antologia da Língua Portuguesa, Ed. Civilização Brasileira, 1966.
BOSI, Alfredo. A Literatura Brasileira. O Pré-Modernismo. São Paulo: Editora Cultrix, 1966.
PROENÇA, Ivan Cavalcanti. Estudos e Notas. Antologia Poética de Augusto dos Anjos. Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 1997.

  

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12 de abr. de 2024

[Poesia] EDGAR ALLAN POE / O Corvo


         
          por Pedro Luso de Carvalho



        Escrevi, neste espaço, artigo sobre Edgar Allan Poe e sua Antologia de Contos, e fiz menção à sua poesia, em especial ao seu comovente e imortal poema O Corvo, que Poe escreveu -o inspirado em Vírgínia Clemm, sua prima-irmã, com quem se casou quando ela tinha apenas treze anos de idade; Virgínia faleceu de tuberculose, em conseqüência da pobreza em que vivia o casal.


        No ano de 1847, Poe teve algumas de suas histórias traduzidas para o francês por Charles Baudelaire, que, num trecho do prefácio que fez para a publicação da obra, disse: “Quanto a sua mulher ideal, a sua Titânide, revela-se em diferentes retratos, esparsos nas suas poesias pouco numerosas, retratos, ou antes maneiras de sentir a beleza, que o temperamento do autor aproxima e confunde numa unidade vaga mas sensível, e esse amor insaciável do Belo, que é seu grande título, isto é, a soma de seus títulos à afeição e ao respeito dos poetas”.


        Mallarmé, um dos expoentes do Simbolismo, continuou a fazer a divulgação das histórias e poesias de Poe, que se viu consagrado nos dois anos que antecederam sua morte. Essa consagração deveu-se não apenas ao conto, mas também a sua poesia, cujos versos falam apenas de mundos interiores, sem qualquer menção ao mundo exterior.


        Quanto ao seu imortal poema O Corvo, este só ficou acabado depois de ter sido modificado ao longo de dez anos; Poe era dotado de extraordinária imaginação, qualidade que se somava a outra, qual seja, a de ter sido intransigente no tocante à qualidade literária de sua obra; daí ter despertado o interesse na sua tradução do inglês para muitos idiomas – para o português, o poema também foi traduzido por Machado de Assis e Fernando Pessoa. Passemos ao poema:




                     O C O R V O



Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
“É alguém”, fiquei a murmurar, “que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais”.


Ah! claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro
e o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.
Ansiava ver a noite finda, em vão a ler, buscava ainda
algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora
e nome aqui já não tem mais.


A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,
arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.
De susto, de pávida arritmia, o coração veloz batia
e a sossegá-lo eu repetia: “É um visitante e pede abrigo.
Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.
É apenas isso e nada mais”.


Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:
“Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora me esperais;
mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,
que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,
assim de leve, em hora morta”. Escancarei então a porta:
escuridão, e nada mais.


Sondei a noite erma e tranquila, olhei-a fundo, a perquiri-la,
sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.
Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,
só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: “Lenora!”
E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: “Lenora!”
Depois, silêncio e nada mais.


Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,
mais forte o ruído recomeça e repercute nos vitrais.
“É na janela”, penso então. “Por que agitar-me de aflição?
Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,
o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.
É o vento só e nada mais”.


Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:
- é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
Como um fidalgo passa, augusto, e, sem notar sequer meu susto,
adeja e pousa sobre o busto – uma escultura de Minerva,
bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
empoleirado e nada mais.


Ao ver da ave austera a soleníssima figura,
desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.
“Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular” – então lhe digo –
“não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo,
qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,
misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;
pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,
que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,
uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta
e que se chama: “Nunca mais!”.


Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,
com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.
Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,
enquanto a mágoa me envenena: “Amigos... sempre vão-se embora.
Como a esperança, ao vir a aurora, ELE também há de ir-se embora”.
E disse o Corvo: “Nunca mais”.


Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,
julgo: “É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.
Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura
e a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo
de seu cantor; do morto anelo, um epitáfio: o ritornelo
de ‘Nunca, nunca, nunca mais’ ”.


Como ainda ó Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,
girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais,
e, mergulhando no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,
visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,
com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo
grasnava sempre: “Nunca mais”.


Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,
eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.
Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada
dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,
dessa poltrona em que ELA, ausente, à luz que cai suavemente,
já não repousa, ah! nunca mais...


O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso
ali descesse a esparzir turibulários celestiais.
“Mísero!”, exclamo. “Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus
esquecimentos, lá dos céus, para as saudades de Lenora.
Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


“Profeta!”, brado. “Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal
que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,
e algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita
mansão de horror, que o horror habita – imploro, dize-mo, em verdade:
EXISTE um bálsamo em Galaad? Imploro! dize-mo, em verdade!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


“Profeta!”, exclamo. “Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!
Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,
Fala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,
Verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Leonora.
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Leonora!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.


"Seja isso a nossa despedida!”, ergo-me e grito, alma incendiada.
“Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!
Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!
Deixa-me só nesse ermo agreste! Alça teu voo dessa porta!
Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!”
E o Corvo disse: “Nunca mais!”


E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,
sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.
No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,
e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.
Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma;
e, presa à sombra, não há de erguer-se, ai! nunca mais!



                           (by Edgar Allan Poe)
REFERÊNCIAS:
POE, Edgar Allan. Antologia de Contos. Trad. Brenno Silveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.
POE, Edgar Allan. Poemas e Ensaios. Trad. de Oscar Mendes e Milton Amado. São Paulo: Editora Globo, 1999.


  

3 de mar. de 2024

JORGE LUIS BORGES – O credo de um poeta




PEDRO LUSO DE CARVALHO

JORGE LUIS BORGES nasceu a 24 de agosto de 1899, em Buenos Aires, Argentina. Foi fabulista, poeta, contista, ensaísta e mitólogo. Educado num lar bilíngue, aprendeu a escrever em inglês antes de sua língua pátria. Na casa em que morava com a família, o menino Jorge passava boa parte de seu tempo na ampla biblioteca de seu pai.
Já adulto Borges sofreu a influência de poetas espanhóis da vanguarda radical. Seu nome passou a ter visibilidade nos anos 1920, como poeta e ensaísta. As obras em prosa passaram a ser admiradas nos anos de 1930.
Do fim dos anos 1950 até a sua morte – 14 de junho de 1986, em Genebra, Suíça - Borges fez muitas palestras e voltou a escrever poemas, já que sua deficiência visual dificultava sua escrita em prosa.
Segue um trecho de O credo de um poeta, de Jorge Luis Borges (In Borges, Jorge Luis. Esse ofício do verso. 2ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 103):

O CREDO DE UM POETA (fragmento)
JORGE LUIS BORGES


Meu propósito era falar sobre o credo do poeta, mas, olhando para mim, descobri que tenho apenas um tipo claudicante de credo. Esse credo talvez possa ser útil para mim, mas dificilmente é para os outros.
Aliás, acho que todas as teorias poéticas são meras ferramentas para escrever um poema. Suponho que haja tantos credos, tantas religiões, quantos são os poetas. Embora no final eu diga sobre os meus gostos e desgostos no tocante à escrita da poesia, acho que vou começar com algumas memórias pessoais, não só de escritor, mas também de leitor.
Tenho para mim que sou essencialmente um leitor. Como sabem, eu me aventurei na escrita; mas acho que o que li é muito mais importante que o que escrevi. Pois a pessoa lê o que gosta – porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever.

                   
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18 de nov. de 2023

ALUÍSIO DE AZEVEDO – Vida & Obra

Aluísio de Azevedo



 - Pedro Luso de Carvalho       

ALUÍSIO DE AZEVEDO (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo) nasceu em São Luís do Maranhão, a 14 de abril de 1857, filho de uma mulher que havia abandonado o marido, um comerciante português, para viver com o vice-cônsul de Portugal. Dessa união (concubinato), teve cinco filhos.
Na casa de sua família havia uma atmosfera intelectual, que despertou em Aluísio o pendor para o desenho e a pintura.
Na mesma casa comercial onde trabalhou, em São Luís, estudou as primeiras letras. Deixou sua cidade natal para morar no Rio de Janeiro, onde seu irmão mais velho, Artur de Azevedo, comediógrafo e jornalista, fazia grande sucesso. Nessa época, estava com 17 anos de idade, passou a estudar pintura, na Escola de Belas Artes.
No Rio, onde passou a residir, Aluísio de Azevedo começou a trabalhar na imprensa como caricaturista. Trabalhou em O Fígaro, O Mequetrefe e em A Semana Ilustrada.
Aluísio retorna a São Luís, onde escreve, em 1881, O Mulato, o primeiro romance do escritor, que obteve grande êxito. Em O mulato, o escritor denuncia a corrupção do clero e o preconceito racial, o que foi motivo para grande irritação da burguesia maranhense.  
De volta ao Rio, publica diversas obras e colabora em jornais e revistas. Depois de algum tempo, presta concurso público para cônsul; aprovado, serve em Vigo, Nápoles, Tóquio, e depois em Buenos Aires, onde falece.
Aluísio de Azevedo é a figura principal do naturalismo no Brasil. Notável observador de costumes e ambientes da sociedade do Segundo Reinado tinha no folhetim de imprensa o meio de publicação de sua obra, o que prejudicava edições mais eficientes de sua abundante produção.
Deixou, porém, três ou quatro obras que lhe asseguraram importante lugar no romance brasileiro. Na obra de Aluísio de Azevedo há uma significação histórica em paralelo com a significação literária. Por todos os méritos, foi eleito para assumir uma cadeira na  Academia Brasileira de Letras.
Depois que Aluísio de Azevedo assumiu o cargo de cônsul, surpreendentemente, abandonou a literatura; os motivos, que o levaram a tomar essa decisão, nunca ficaram esclarecidos.
Aluísio de Azevedo servia em Buenos Aires, onde servia como cônsul, e vivia conjugalmente com uma senhora argentina e os dois filhos desta. O escritor morreu, na capital portenha, em 21 de janeiro de 1913, aos 57 anos de idade, incompletos.
Suas principais obras: Uma lágrima de mulher (1879), O mulato (1881), Casa de pensão (1884), O homem (1887), O coruja (1889), O cortiço (1890), O esqueleto (1890), Demônios (1893), Livro de uma sogra (1895).



REFERÊNCIAS:
LINS, Álvaro; HOLLANDA, Aurélio Buarque de. Antologia da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, vol. II, 1966.
GONZAGA, Sergius. Curso de Literatura Brasileira. Porto Alegre: Editora Leitura XXI, 2004.

    
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