– PEDRO LUSO DE CARVALHO
NELSON RODRIGUES - Nelson
Falcão Rodrigues – nasceu a 23 de agosto de 1912, em Recife, e morreu em 21 de
dezembro de 1980, no Rio de Janeiro.
Nelson Rodrigues é
considerado o mais importante dramaturgo brasileiro do século 20. O conflito
entre o desejo e a repressão foi a base com a qual desenvolveu sua dramaturgia,
que teve o seu início aos 17 anos, quando seu irmão Roberto foi assassinado.
Nas suas obras não dá
tréguas ao mundo pequeno-burguês, dando realce à hipocrisia que forjou o
caráter de mulheres e de homens. O próprio Nelson Rodrigues provinha de um
ambiente da pequena burguesia, que lhe proporcionou, desde pequeno, um forte
senso crítico.
Nelson Rodrigues não foi
aceito com facilidade pelo público e pela crítica, que debochava de sua
dramaturgia, e que muito contribuiu para que visse censuradas muitas de suas
peças.
Em 1943, a estreia da
peça Vestido de noiva no Teatro
Municipal do Rio, mesmo sob intensa vaia tornou-se o marco do modernismo no
teatro. Retratava as taras, a falsidade e a decadência sempre em tintas
expressionistas, estética que confirmou nos folhetins.
Nelson Rodrigues foi,
além de dramaturgo, autor de romance, conto e crônica; no Brasil, as suas
crônicas estão entre as mais importantes do século 20.
Segue o conto A sogra, de Nelson Rodrigues (In A vida
como ela é.../Nelson Rodrigues – Rio de Janeiro: Agir, 2006, p. 20):
A SOGRA
– NELSON RODRIGUES
Quem não gostou foi a
futura sogra. Chamou o filho. Instigou-o: “Essa menina está fazendo você de
gato e sapato. Isso não é papel! Onde é que nós estamos?” Ele, que adorava a
noiva, que a colocava acima de tudo e de todos, cortou o debate: “Vamos mudar de
assunto, sim, mamãe?” A velha, porém, era tremenda. Largou o filho com as
seguintes palavras: “Está certo, não se fala mais nisso. Mas quero te dizer uma
coisa: aqui há dente de coelho.” E o fato é que, sem dizer nada a ninguém, ela
andava desconfiadíssima. De quem ou de que, nem ela própria saberia dizê-lo.
Nesta mesma tarde, porém, recorreu a vários conhecidos, atrás de uma
informação, até que descobriu um detetive particular. Chamou o homem;
perguntou:
– O senhor é discreto?
– Um túmulo!
– Ótimo. Eu preciso mesmo
de um túmulo. Trata-se do seguinte...
Incumbiu o sujeito de
acompanhar os passos de Margô; advertiu: “Pode ser palpite meu, mas não custa
apurar.” O fulano concordou, grave: “Evidente! Evidente!” Deixou-o com a
super recomendação: “Ninguém pode saber disso!” Quarenta e oito horas depois, o
detetive reaparecia, de olho esgazeado. Contou, longamente, o que apurara. De
vez em quando, interrompia o relatório para exprimir seu estupor: “De arder! De
arder!” Assombrada, a velha balbuciou: “Eu só acredito vendo com os meus
próprios olhos!” E o detetive: “Amanhã, eu mostro o homem à senhora!”
* *
EFERÊNCIA:
JULIAN, Patrick.
Quinhentos e um grandes escritores. Colaboração de José Castello. Rio de
Janeiro: Sextante, 209, p. 626.
* * *
APASIONANTE LECTURA
ResponderExcluirObrigado, caro Alberto, pela visita.
ExcluirUm abraço.
Very interesting...thank you for sharing.
ResponderExcluirÉ sempre uma honra receber visita da amiga norueguesa.
ExcluirEspero que volte mais vezes.
Abraços.