O PRESUNÇOSO
– PEDRO LUSO DE CARVALHO
Nosso tema sobre a presunção foi em parte inspirado no pensamento de
Jean de la Bruyère. O filósofo nasceu no ano de 1645, em Paris, e morreu em
1696, em Versalhes. Sua obra, Os Caracteres, foi concebida segundo uma tradução
do grego Teofrasto. Nela La Bruyère retrata a sociedade francesa, às vezes de
forma cruel, numa época em que esta passava por uma transformação plena, com a
decadência das tradições morais e culturais. La Bruyère passou a integrar a
Academia Francesa em 1693.
Diz Alcântara Silveira, tradutor e responsável pela introdução do livro
Os Caracteres: “A sociedade francesa, sob o reinado de Luís XIV, teve em La
Bruyère o seu melhor pintor, às vezes amargo, às vezes satírico, às vezes
revoltado. Mais eloquente que La Fontaine, Boileau ou Molière”. (in, Jean de La Bruyère. Os Caracteres. São Paulo: Editora
Cultrix, 1965).
La Bruyère escreve sobre o presunçoso: “O estúpido é um presunçoso
exagerado. O presunçoso cansa, aborrece, enjoa, desagrada; o estúpido
desagrada, exaspera, irrita, ofende: começa por onde o outro termina. O
presunçoso está entre o estúpido e o tolo: compõe-se de um e de outro”.
Posto isso, vêm-nos à mente a pergunta: o que nos pode oferecer a pessoa
presunçosa, se para ela o mundo externo – o mundo das outras pessoas –
praticamente não existe? Nada pode ser esperado dessa pessoa presunçosa porque
para ela somos apenas os ‘outros’, pessoas de pouca importância. O presunçoso
lembra-se de nós apenas quando planeja auferir lucro às nossas custas.
Uma das características do presunçoso é a capacidade que têm para impor
suas ideias, pela necessidade interior de mostrar-se importante; descobre ao longo
dos anos técnicas para envolver as pessoas – alvos de suas ações. Obstinado,
não mede esforços para atingir seus objetivos. Artista na arte de convencer, de
impor suas falsas verdades, não se importa com o mal que possa causar às
pessoas que o cercam. O seu “Eu” é grande demais para que possa pensar em
outras pessoas, que não seja ele próprio.
É sabido que quem se deixar influenciar pelo presunçoso sempre terá o
que perder, e não pense, em nenhum momento, que terá alguma coisa a ganhar com
ele, que, como diz La Bruyère, é pessoa que jamais elogia, que censura sempre,
que não está contente com ninguém, e que, por isso, é pessoa com quem ninguém
simpatiza.
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