– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
Em 1965, Adonias Filho passou a integrar a
Academia Brasileira de Letras; o discurso de saudação ao novo imortal foi
pronunciado por Jorge Amado; o Estado da Bahia sentia-se muito bem
representando nessa época por esses seus dois filhos ilustres.
Para os que não estão familiarizados com a
obra de Adonias Filho, é oportuna uma rápida apresentação, além da mencionada
acima; e, para esse mister, valemo-nos do que escreveu Assis Brasil, no ano de
1969; para esse ensaísta, a literatura brasileira tinha, quatro escritores já
plenos e amadurecidos, João Guimarães Rosa, nessa época já falecido, e outros
três que estavam em plena atividade, que eram Clarice Lispector, Autran Dourado
e Adonias Filho.
Para Assis Brasil, esses quatro escritores –
Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Autran Dourado e Adonias Filho – substituíram um tipo de romance burguês, da linhagem
francesa, que foi cultivado com o pomposo nome de ficção urbana; eles, que foram
apontados como marco inicial, e que romperam com o clima acadêmico de nosso
romance, não estavam ligados a nenhuma corrente ou escola do modernismo.
Como não se pode dizer que a obra independe
da vida que levou ou que leva o autor, vamos conhecer um pouco da vida e da
trajetória literária do escritor. Adonias Aguiar Filho nasceu a 27 de novembro
de 1915, na fazenda São João, de propriedade dos pais, no município de
Itajuípe, Bahia; teve a infância de menino de roça de cacau; ouviu histórias
dos trabalhadores da fazenda, sobre o que aí se passava – essas histórias,
alguns personagens e a própria fazenda iriam para os seus romances e contos.
O
menino tinha sete anos quando a família deixou o munícipio de Itajuípe para
residir Ilhéus; aí cursou o primário no ateneu Fernando Caldas; era péssimo
aluno; nas férias, retornava à fazenda; em 1928, foi matriculado no internato do Ginásio Ipiranga, em Salvador,
onde foi contemporâneo de Jorge Amado; interrompeu os estudos ao quatorze anos,
passando grande temporada na fazenda.
O período que passou na fazenda foi de
grande importância para o romancista; se gravou, talvez mais do que na infância,
por suas observações e pelas histórias que ouviu dos moradores, o viria
tornar-se o cerne de seus romances. Nessa fase também se dedicou à leitura; leu
Castelo Branco, Macedo e Alencar. Voltou ao colégio depois de um ano de
ausência; terminou curso em 1934.
Levaria consigo as lembranças dos
professores Tarciso Teles (de português e geografia) e Manoel Peixoto (de inglês
e moral e cívica), e também das tertúlias literárias no Grêmio Barão do Rio
Branco, onde conheceu a literatura de Raul Pompéia, Euclides da Cunha, Machado
de Assis, Aluísio Azevedo, entre outros; leu também os poetas, entre eles Olavo
Bilac, Cruz e Souza, Alphonsus de Guimarães e Castro Alves; da literatura francesa, leu as
traduções de Alexandre Dumas Filho e Balzac.
Quando cursava o ginásio no Ipiranga, Adonias
Filho escreveu para os jornais de Salvador: Diário
de Notícias e O Imparcial. Pouco
depois de terminar o curso ginasial, influenciado pela literatura do nordeste,
escreveu Cachaça, romance que destruiu
mais tarde. O escritor acompanhava os passos da moderna literatura brasileira e
lia importantes pensadores, tais como: Maquiavel, Comte, Darwin.
Nessa época, com a ajuda financeira do pai,
viajou pelo Estado da Bahia, e fez apontamentos para um livro seu livro Renascimento do homem, ensaio político
que publicaria em 1936, pela editora Schimidt; em 1935, fez nova viagem, desta
vez pelos Estados de Minas, Rio e São Paulo; no início de 1936, fixou
residência no Rio.
No Rio, Adonias Filho entrou Adonias em
contato com o grupo católico que se reunia no café Gaúcho, Tasso da Silveira,
Andrade Muricy, Barreto Filho, Adelino Magalhães – todos, aliás, bem mais
velhos do que o escritor. Logo depois, travava relações com o romancista Cornélio
Penna, Lúcio Cardoso, Otávio de Faria e Rachel de Queiroz, que se tornou grande
amiga.
Foi nesse convívio que veio a descobrir
autores como Thomas Hardy, Mauriac, Bernanos, wassermann, Malégue. Passou a
colaborar com mais regularidade nos jornais e revistas literárias do Rio e de
São Paulo, como o Correio da Manhã,
os Cadernos da Hora Presente, a Revista do Brasil e a revista Pan; nessa revista, o escritor foi
colega de redação de Clarice Lispector. Em 1937, passou a trabalhar no jornal A Manhã,
recém pelo poeta Cassiano Ricardo.
Em 1938, escreveu Corpo Vivo, romance que foi lido por Otávio Faria, Lúcio Cardoso e
Almeida Sales; o livro, no entanto, não o satisfez (guardou-o para
reescrevê-lo); nessa mesma época, planejou uma trilogia de romances, que teria como
cenário a zona de cacau; em 1939, começou a escrever o primeiro desses livros, Os servos da morte, que foi concluído em
1943, e que, somente em 1946, foi publicado pela editora José Olímpio.
Adonias Filho continuava colaborando em
jornais e fazendo traduções, durante esse período (anos 40). Algumas de suas
traduções: O pântano do diabo, de
Georg Sand, A Famíia Bronte, de
Robert de Traz, e Gaspar Hauser, Golovin e O processo Maurizius, de Jabob Wassermann, este em colaboração com
Otávio de Faria.
Em 1944, fundou a editora Ocidente, publicando um único livro, As metamorfoses, de Murilo Mendes, com ilustração
de Portinari; nesse mesmo ano, casou-se Adonias Filho com D. Rosita Galiano,
carioca, de quem um casal de filhos: Raquel e Adonias.
. Depois
passou a dirigir a editora A Noite,
onde permaneceu até 1949. Durante esse período colaborou no suplemento A Manhã (coluna Letras e Artes) com um rodapé semanal assinado com o pseudônimo de
Djalma Viana (rodapé idealizado por Carlos Lacerda, então diretor do suplemento).
Em 1950, Adonias Filho candidatou-se, pela
Bahia, ao cargo de deputado federal, não conseguindo eleger-se; então resolveu
permanecer na Bahia para concluir o romance Memórias
de Lázaro (sua publicação, pela Cruzeiro,
deu-se em 1952); de volta ao Rio, assumiu, a coluna de crítica literária do Jornal de Letras (publicou em livro alguns
desses artigos, e mais outros do Correio
da Manhã, em 1958, com o título de Modernos
ficcionistas brasileiros).
Em 1954, publicou Adonias Filho, pelo Serviço
de Documentação do Ministério de Educação, Diário
de um escritor, fragmento de um diário que vinha escrevendo desde os 25
anos; nesse ano, passou a dirigir o Serviço
Nacional de Teatro, de onde saiu dois meses depois para dirigir o Instituto Nacional do Livro; aí permaneceu
por oito meses, depois retornou ao SNT, onde ficou até 1956.
A partir de 1956, Adonias Filho
passou a dedicar-se inteiramente à literatura e ao jornalismo; em 1957 ingressou
na redação do Diário de Notícias,
onde passou a assinar a seção literária A
Estante.
Dentre a obra de ficção que produziu, destacam-se,
três romances, que estão associados por uma temática telúrica, a civilização do
cacau no interior da Bahia, quais sejam: Os
servos da morte (1946), Memórias de
Lázaro (1952); Corpo vivo (1962).
Com esses livros, Adonias Filho construiu uma importante obra da literatura
brasileira moderna.
Além desses livros, Adonias Filho publicou,
entre outros, um livro de novelas, e o romance O forte (1965); este tem cenário diferente de seus romances
anteriores: a história passa-se na cidade de Salvador, em eras mais distantes. Em
1968, Adonias Filho voltaria à civilização do cacau, com Léguas da promissão, livro composto de vários contos. Depois, publicou Luanda, Beira, Bahia (1977); compõe o cenário do romance: a Bahia
do Brasil, a Beira de Moçambique, e a Lunda de Angola; outro romance, O homem de branco (1987), a história de
alguém que trilhou um sofrido calvário.
No dia 2 de agosto de 1990, morre Adonias
Filho, em Ilhéus, Bahia, deixando como legado uma obra literária de
extraordinário valor.
REFERÊNAS:
BRASIL, Francisco de Assis Almeida. Adonias Filho. Ensaio. Rio de Janeiro: Organização Simões Editora, 1969.
PEREZ, Renard. Escritores Brasileiros Contemporâneos. Escritores Brasileiros Contemporâneos. I série, 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960.
REFERÊNAS:
BRASIL, Francisco de Assis Almeida. Adonias Filho. Ensaio. Rio de Janeiro: Organização Simões Editora, 1969.
PEREZ, Renard. Escritores Brasileiros Contemporâneos. Escritores Brasileiros Contemporâneos. I série, 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960.
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Caro Pedro Luso
ResponderExcluirAdoro conhecer os grandes homens, sobretudo os das letras, pelas suas biografias. Daí que sempre leia com muita atenção, qualquer peça nesse sentido. A vida dos grandes homens incentiva muito.
Aqui reparei na Lunda, na (Angola) onde terá passado antes da guerra colonial, antes de mim que passei em mobilização e donde parti em 1964. Anotei bastantes dados no meu Diário, donde creditei o meu livro AMOR GUERRA, assim como poemas já pulicados.
Abraços
Caro Daniel,
ExcluirÉ com satisfação que recebo mais uma vez sua visita.
Já tomei conhecimento do livro "Amor Guerra", em seu blog; e, pelo que lembro, você escreveu outros livros.
Agradeço a visita desse amigo de Portugal.
Um abraço.
Vir ao seu blogue e estar com tempo, calmamente a ler o conteúdo dos seus posts
ResponderExcluiré ficar com muito maior conhecimento.
Agradeço-lhe por isso a sua partilha.
Um abraço
Irene Alves
Recebo nesta postagem, mais uma visita de Portugal, desta vez. a vista da amiga Irene, para minha satisfação.
ExcluirUm abraço, Irene..