FRANZ KAFKA nasceu em Praga no dia 3 de julho de 1883; vítima de
tuberculose, morreu em 3 de junho de 1924, no Sanatório de Kierling, perto de
Viena; foi enterrado no Novo Cemitério Judaico de em Praga.
Até esse ano, Kafka era conhecido apenas por um círculo de amigos; sua
obra somente seria conhecida 20 anos após sua morte.
Sobre o talento criativo de Kafka, manifestaram-se, após esses vinte
anos de sua morte, nomes importantes da literatura de vários países:
Aldous Huxley, André Gide, Hermann Hesse, Thomas Mann, Virginia Wolf,
Albert Camus, além de outros.
W.H. Auden, poeta inglês: “se eu tivesse que escolher o autor que tem
para com nossa época aproximadamente a mesma relação que Dante e Shakespeare
para com a sua, Kafka é o primeiro nome em que eu pensaria”.
George Steiner, renomado ensaísta: “Nenhuma outra voz testemunhou de
maneira mais fiel à natureza de nossa época”.
O escritor francês Paul Claudel, que não ficou distante da comparação
feita por Auden, afirmou que, “Ao lado de Racine, que para mim é o melhor de
todos os escritores, há um: Franz Kafka”.
Tânia Franco Carvalhal, diz que Kafka, Proust e Joyce representam etapas
significativas na evolução do romance contemporâneo.
Albert Camus afirma que o segredo de Kafka encontra-se na contradição e surpreende
nos perpétuos balanços entre o natural e o extraordinário, entre o indivíduo e
o universal, entre o trágico e o cotidiano, entre o absurdo e o lógico.
Jorge Luis Borges, que traduziu parte da obra de Kafka, como O processo e Metamorfose, fala sobre as duas ideias, as duas obsessões que regem a
obra de Franz Kafka: a subordinação e o infinito; sendo a sua maior virtude a
invenção de situações intoleráveis, o que justifica a primazia de seus contos
sobre as novelas longas.
Segue o conto de Franz Kafka
intitulado Um cruzamento (In Franz Kafka. Contos. Seleção e prólogo de Jorge Luis Borges. Tradução de Isabel
Castro Silva. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2005, p. 37-38):
UM CRUZAMENTO
– FRANZ KAFKA
Tenho um animal singular, meio gato, meio cordeiro. É parte da herança
do meu pai, mas só se desenvolveu no meu tempo, antes era mais cordeiro do que
gato, mas agora tem tanto de um como do outro. Do gato a cabeça e as garras, do
cordeiro o tamanho e a figura, de ambos os olhos que são brilhantes e mansos, o
pelo que é suave e curto, os movimentos que tanto podem ser uma cabriola com um
andar furtivo, quando brilha o sol enrosca-se no parapeito da janela e ronrona,
no campo corre como louco e ninguém o consegue apanhar, foge dos gatos, quer
atacar os cordeiros, nas noites de luar o seu caminho preferido é o algeroz,
são sabe miar e tem medo de ratazanas, pode estar horas a fio à coca junto da
capoeira, mas nunca aproveitou uma oportunidade para matar, alimento-o com
leite doce, é o melhor para ele, sorve-os em tragos lentos por entre os dentes
de predador. É um grande espetáculo para as crianças, naturalmente. Domingo de
manhã é dia de visita, trago o animalzinho ao colo e à minha volta estão as
crianças da vizinhança inteira. Fazem as perguntas mais estranhas, perguntas a
que ninguém sabe responder. Eu também não me esforço, contento-me em contar o
que tenho sem mais explicações. Por vezes as crianças trazem gatos, uma vez
trouxeram mesmo dois cordeiros; mas ao contrário do que esperavam, não houve
nenhuma cena de reconhecimento, os animais olharam-se serenamente com olhos de
animais e era claro que aceitavam mutuamente a existência do outro como um fato
divino.
No meu colo o animal não conhece medo nem vontade de caçar. Aninhado
contra mim é como se sente melhor. Fica junto da família que o criou. Não é
tanto qualquer lealdade invulgar, mas sim o instinto certo de um animal que tem
no mundo muitos parentes, mas talvez nenhum irmão de sangue mais próximo, e
para quem a proteção que encontrou junto de nós é sagrada. Por vezes não posso
deixar de rir quando ele se aproxima para me cheirar, roça-se por entre as
minhas pernas e já quase não se separa de mim. Como não chegasse ser cordeiro e
gato, ainda quase quer ser um cão também. Na verdade, é mais ou menos isso que
me parece. Tem o desassossego de ambos, do gato e do cordeiro, por muito
diferentes que sejam. É por isso que a pele lhe é demasiado apertada. A
salvação do animal talvez fosse a faca do açougueiro, mas como herança tenho de
lha negar.
*
REFERÊNCIAS:
CARVALHAL, Tânea Franco. A Realidade em Kafka. Porto Alegre:
ed. Movimento, 1973.
IZQUIERDO, Luis. Conhecer Kafka e a sua obra. Tradução de
Manuel Mota. São Paulo: ed.Ulisseia, [198-?].
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