– PEDRO LUSO DE CARVALHO
Manoel
Bandeira entusiasma a geração paulista, em 1919, quando a revolução modernista
dá os seus primeiros passos, com a publicação de Carnaval, paga pelo seu pai. O livro foi analisado com poucas palavras
pela A Revista, que era dirigida por
Monteiro Lobato. João Ribeiro não poupa elogios ao poeta.
No
ano seguinte, com a morte de seu pai, o poeta muda-se da Rua do Triunfo para a
Rua do Curvelo nº 53 (hoje Dias de Barros), onde viveu por treze anos e
escreveu três livros: Ritmo dissoluto,
Libertinagem, Crônicas da Província do
Brasil e muitos poemas de Estrela da manhã.
Bandeira,
que já se correspondia com Mario de Andrade, conhece pessoalmente o escritor em
1920, dois anos antes da Semana da Arte Moderna, realizada em São Paulo, da
qual não quis participar. Foi nesse ano (1922), que visitou São Paulo, e que
teve a oportunidade de conhecer Paulo Prado, Couto de Barros, Tácito de
Almeida, Menotti del Picchia, Luís Aranha, Rubem Borba de Morais, Yan de
Almeida Prado.
Foi
no mesmo ano da Semana da Arte Moderna que o poeta travou amizade com Jaime
Ovalle, Rodrigo M. F. de Andrade, Dante Milano, Osvaldo Costa, Sérgio Buarque
de Holanda, Prudente de Morais Neto. Com esses amigos costumava jantar no Restaurante
Reis, onde comia o bife à moda da casa, a preço módico.
Segue, de Manoel
Bandeira, o poema Cotovia (In Manoel Bandeira.
Seleta de prosa e verso; organização,
estudos e notas de Manoel de Moraes. 2ª ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975,
p. 132-133):
COTOVIA
–
MANOEL BANDEIRA
– Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tantas
saudades me deixaste?
– Andei onde deu o
vento.
Onde foi meu
pensamento.
Em sítios, que
nunca viste,
De um país que não
existe...
Voltei, te trouxe
a alegria.
– Muito contas,
cotovia!
E que outras
terras distantes
Visitaste. Dize ao
triste.
– Líbia ardente,
Cítia fria,
Europa, França,
Bahia...
E esqueceste
Pernambuco,
Distraída?
– Voei ao Recife,
no cais
Pousei na Rua da
Aurora.
– Aurora da minha
vida,
Que os anos não
trazem mais!
– Os anos não, nem
os dias,
Que isso cabe às
cotovias.
Meu bico é bem
pequenino
Para o bem que é
deste mundo:
Se enche com uma
gota de água.
Mas sei torcer o
destino.
Sei no espaço de
um segundo
Limpar o espaço
mais fundo.
Voei ao Recife, e
dos longes
Das distâncias,
aonde alcança
Só a asa da
cotovia,
– Do mais remoto e
perempto
Dos teus dias de
criança
Te trouxe a
extinta esperança,
Trouxe a perdida
alegria.
(Opus 10)
*
* Para ler a quarta parte, clique em: Desencanto
REFERÊNCIA:
BANDEIRA, Manoel. Seleta de prosa e verso; organização,
estudos e notas de Manoel de Moraes. 2ª ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975.
*
* *
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro