[ PEDRO
LUSO DE CARVALHO ]
Nascido em Lisboa, a 13 de junho de 1888,
filho único (o irmão mais novo, Jorge, morreu em 1894, com um ano de idade),
órfão de pai antes de completar os seis anos, Pessoa parte em 1896 para a
África, com a mãe, que se casara de novo, com João Miguel Rosa, cônsul de
Portugal em Durban. Em Durban, África do Sul, realizou os estudos primários
numa escola de freiras irlandesas; secundários, na Durban High School e, em
1904, foi aprovado nos exames de ingresso no Curso de Artes, na Cape Univerty. Mas no ano seguinte decidiu
regressar a Lisboa, sozinho.
Os dez
anos aí passados foram decisivos para a sua formação. É na África, e em inglês,
que ele adquire a base de sua cultura literária (Milton, Shelley, Shakespeare,
Tennyson, Pope e outros), escreve os seus primeiros poemas e concebe os
proto-heterônimos Alexander Search e Robert Anon, sucessores adolescentes de
Chevalier de Pas, personagem inventada aos quatro anos, com quem ele então se
entretinha horas a fio.
De volta
a Portugal, redescobre sua cultura e literatura: Cesário Verde, Antonio Nobre,
Antero de Quental, Camilo Pessanha, que vêm somar-se a uns, como ele diz,
“subpoetas”, lidos na infância. 1906 matricula-se no Colégio Superior de
Letras, em Lisboa, que abandona em seguida, e começa a alimentar arrojados
planos, literários e outros, nunca realizados na íntegra. Após o fracasso
comercial de sua “Empresa Íbis – Tipografia e Editora”, experiência em que mais
tarde reincidirá, emprega-se como correspondente de firmas estrangeiras
sediadas em Lisboa, modesta atividade que lhe garantirá o sustento até o fim de
sua vida. (Fernando Pessoa morreu em Lisboa, em 30 de novembro de 1935).
Segue
o poema [Qualquer caminho leva a toda parte] de Fernando pessoa (In Pessoa, QUALQUER CAMINHO LEVA A TODA PARTE [ Fernando Pessoa ]ando. Poesia. 1918 - 1930.
Fernando Pessoa: edição Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena
Dine. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 87-88):
QUALQUER CAMINHO LEVA A TODA PARTE
[ Fernando Pessoa ]
Qualquer
caminho leva a toda parte.
Qualquer ponto
é o centro do infinito.
E por isso,
qualquer que seja a arte
De ir ou ficar,
do nosso corpo ou ‘spr’rito,
Tudo é ‘stático
e morto. Só a ilusão
Tem passado e
futuro, e nela erramos.
Não há ‘strada
senão na sensação
É só através de
nós que caminhamos.
Tenhamos p’ra
nós mesmos a verdade
De aceitar a
ilusão como real
Sem dar crédito
à sua realidade.
E, eternos
viajantes, sem ideal
Salvo nunca
parar, dentro de nós,
Consigamos a
viagem sempre nada
Outros
eternamente, e sempre sós;
Nossa própria
viagem é viajante e ‘strada.
Que importa que
a verdade da nossa alma
Seja ainda
mentira, e nada seja
A sensação, e
essa certeza calma
De nada haver,
em nós ou fora, seja
Seja
inutilmente a nossa consciência?
Faça-se a
absurda viagem sem razão,
Porque a única
verdade é a consciência
E a consciência
é ainda uma ilusão.
E se há nisto um
segredo e uma verdade
Os deuses ou
destinos que a demonstrem
Do outro lado
da realidade,
Ou nunca a
mostrem, se nada há que mostrem
O caminho é de
âmbito maior
Que a aparência
visível do que está fora,
Excede de todos
nós o exterior
Não pára como
as cousas, nem tem hora.
Ciência?
Consciência? Pó que a ‘strada deixa
E é a própria
‘strada, sem ‘strada ser.
É absurda a
oração, é absurda a queixa.
Resignar(- se) é
tão falso como ter.
Coexistir? Com
quem, se estamos sós?
Quem sabe? Sabe
o que é ou quem são?
Quantos cabemos
dentro de nós?
Ir é ser. Não
parar é ter razão.
11-10-1919
REFERÊNCIA:
MOISÉS, Carlos Felipe. Fernando Pessoa: almoxarifado
de mitos. São Paulo: Escrituras, 2005.
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