25 de jul. de 2013

FRANÇOIS MAURIAC - Conselhos ao jovem escritor

   
[ PEDRO LUSO DE CARVALHO ]


Imagino que boa parte de leitores tenham pensado, em determinada época de suas vidas, em tornarem-se escritor. Já ouvi, de alguns deles, que haviam desistido da ideia por sentirem o peso do talento de escritores como Machado de Assis, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Guimarães Rosa, entre outros. Nesses casos, o equívoco desses candidatos a escritor deveu-se ao fato de não terem começado a contar a história, que pensavam escrever (romance novela ou conto); esperar a consagração com o seu primeiro livro seria demasiada pretensão do iniciante

Escrevi para este blog, dois artigos sobre esse tema, isto é, sobre o jovem que se inicia na arte de escrever. No primeiro, falei sobre os conselhos que Mário de Andrade, na época escritor consagrado, dava ao então jovem Fernando Sabino, escritor iniciante. Na correspondência, que mantiveram até a morte de Mário, este disse a Sabino que ele deveria ir escrevendo e se aperfeiçoando. E, fazia a advertência de que o trabalho é árduo e sem brilho; e, depois, prognosticava que ele iria progredindo aos poucos, e que, se aguentasse o tranco, outros escritores perceberiam nele um grande escritor.


No segundo artigo que escrevi para o blog, falei sobre o livro de ensaios A arte de escrever, de Ezra Pound, e transcrevi parte do capítulo, no qual o poeta e crítico literário norte-americano fala sobre a linguagem, dirigindo-se especialmente aos jovens escritores. Pound ensina, nessa passagem, como se deve tratar a prosa: evitar o uso de palavras supérfluas e de adjetivos que nada revelam; e, ainda, não usar expressões como dim lands of peace (brumosas terras de paz), que se prestam apenas para obscurecer a imagem e misturar o abstrato com o concreto.


Outro texto, que me parece ser útil aos escritores iniciantes, é o de François Mauriac, publicado pela Paris Review, em 1953, que resultou de uma entrevista concedida a Jean le Marchand:

Minha opinião não mudou. Creio que meus confrades romancistas mais jovens se acham grandemente preocupados com a técnica. Parecem pensar que um bom romance deve seguir certas normas impostas de fora. Na verdade, porém, tal preocupação os tolhe e embaraça em sua criação. O grande romancista não depende de ninguém, exceto de si próprio. Proust não se assemelhava a nenhum de seus antecessores, e não teve, não poderia ter, quaisquer sucessores. O grande romancista quebra o seu molde; só ele pode usá-lo. Balzac criou o romance “balzaquiano”; seu estilo se adaptava apenas a Balzac.

Mauriac, conclui a resposta, que dá à primeira pergunta do seu entrevistador: “Há um laço estreito entre a originalidade de um romancista em geral e a qualidade pessoal de seu estilo. Um estilo emprestado é um mau estilo. Romancistas americanos, de Faulkner a Hemingway, inventaram um estilo para imprimir o que queriam dizer – e é um estilo que não pode ser transferido a seus adeptos”.

Como essa conversa sobre a nobre arte da literatura é longa, fico por aqui. Segue uma pequena nota biográfica desse escritor: François Mauriac nasceu em Bordéus, na França, a 11 de outubro de 1885. Frequentou as Universidade de Bordéus e a Universidade de Paris, por algum tempo. Em 1909, publicou um livro de versos. No período de 1914 a 1969, escreveu dez romances, entre eles, Le Baiser aux lépreux (O Beijo no Leproso), Le Désert de l'amour (Grande prêmio de romance da Academia Francesa) Le Nœud de vipères (O Ninho de Víboras), Le Mystère Frontenac, La Fin de la nuit, etc.

As obras acima mencionada deram a que lhe deram a François Mauriac a reputação de ser o principal romancista católico da França. Escreveu quatro peças teatrais, muitos livros de contos, crítica literária e ensaios. Também escreveu a biografia de Racine e a vida de Jesus. Foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1952. Nessa época, iniciou a publicação de seus Diários ( que tiveram publicação póstuma em 1985). François Mauriac faleceu em, Paris, a 01 de setembro de 1970, com 85 anos de idade.




REFERÊNCIAS:
POUND, Ezra. Arte da poesia, ensaios. Tradução. de Heloysa de Lima Dantas e Paulo Paz. São Paulo: Cultrix, 1976.
MAURIAC, Francois. Escritores em ação. Tradução de Brenno Silveira. 2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1982.
MAUROIS, André. De Proust a Camus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1965.
ANDRADE, Mário de: Cartas a um jovem escritor. Remetente: Mário de Andrade. Destinatário: Fernando Sabino. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1993.


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4 comentários:

  1. Olá meu querido amigo dr Pedro Luso, adorei a aula rs, lendo o post percebo de uma forma mais clara a arte de ser escritor, mais ainda de ser empírico nesse desejo, as deficiências, face a existência de muita coisa já escrita, e sobre estilos, eu realmente acredito que para se criar uma obra é necessário nascer único, digo, nesse sentido que colocas no post. Nas minhas andanças pela blogosfera, tenho lido muita coisa, muita mesmo, e em alguns eu percebo um estilo (acredito eu), uma forma de escrever que me faz lembrar os escritos da própria pessoa sem ser repetitivo, pelo contrário, manter o estilo e a luta do escritor de se recriar sempre. E François Mauriac, já tem o meu respeito com a obra sobre a vida de Jesus. Não conhecia este escritor, mas fiquei muito feliz por ter sido apresentado a ele, aqui no teu blog, caro amigo. Mas só o tempo e a insistência definem um estilo. Bom, gosto muito dos teus contos, quero ler mais para eu descobrir e identificar teu estilo rs. Obrigado pelas informações, saio daqui com mais bagagem, mais conhecimento, e esta é minha busca, obrigado.
    ps. Meu carinho meu respeito meu abraço.

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    1. Muito bom seu comentário, caro Jair.
      A obra de François Maurois é, como escrevi, bastante extensa. Fiz menção a apenas alguns de seus livros, tendo deixado de falar sobre um no qual o escritor aborda o tema da velhice.
      Quanto aos meus contos, eles estão sendo postados no meu outro blog - VEREDAS.
      Grande abraço para o amigo.

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  2. Ao lado de François Mauriac, Flannery O’Connor, Paul Claudel e Walker Percy, o francês Georges Bernanos figura entre os grandes escritores cristãos do século XX, ao ponto de o grande teólogo alemão Hans Urs von Balthasar ter-lhe dedicado um livro inteiro. Sua obra tem sido publicada no Brasil pela É Realizações Editora, e agora sua passagem pelo país é narrada ao público local. O estudo de Sébastien Lapaque “Sob o Sol do Exílio: Georges Bernanos no Brasil (1938-1945)” acaba de ser publicado, trazendo à luz a visita de Bernanos a várias cidade do Rio de Janeiro e Minas Gerais, sua estadia no sítio Cruz das Almas, sua revolta contra a mediocridade dos intelectuais e a ascensão do totalitarismo, sua amizade com pensadores brasileiros e a visita que Stefan Zweig lhe fez à véspera de se suicidar.

    Matérias na Folha de S. Paulo a propósito do lançamento do livro: http://goo.gl/O8iFve e http://goo.gl/ymS4lL
    Para ler algumas páginas de “Sob o Sol do Exílio”: http://goo.gl/6hAEOM

    Confira também:
    Diálogos das Carmelitas: http://goo.gl/Yy3ir3
    Joana, Relapsa e Santa: http://goo.gl/CAzTTk
    Um Sonho Ruim: http://goo.gl/Kd091z
    Diário de um Pároco de Aldeia: http://goo.gl/ISErLc
    Sob o Sol de Satã: http://goo.gl/qo18Uu
    Nova História de Mouchette: http://goo.gl/BjXsgm

    ANDRÉ GOMES QUIRINO
    mkt1@erealizacoes.com.br
    (11) 5572-5363 (r. 230)

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    1. Obrigado, André, pela visita ao blog e pelas informações esses grandes escritores cristãos do século XX.
      Abraço.

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Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro