[ PEDRO LUSO DE CARVALHO ]
Imagino
que boa parte de leitores tenham pensado, em determinada época de suas vidas,
em tornarem-se escritor. Já ouvi, de alguns deles, que haviam desistido da ideia
por sentirem o peso do talento de escritores como Machado de Assis, Érico
Veríssimo, Jorge Amado, Guimarães Rosa, entre outros. Nesses casos, o equívoco
desses candidatos a escritor deveu-se ao fato de não terem começado a contar a
história, que pensavam escrever (romance novela ou conto); esperar a
consagração com o seu primeiro livro seria demasiada pretensão do iniciante
Escrevi
para este blog, dois artigos sobre esse tema, isto é, sobre o jovem que se
inicia na arte de escrever. No primeiro, falei sobre os conselhos que Mário de
Andrade, na época escritor consagrado, dava ao então jovem Fernando Sabino,
escritor iniciante. Na correspondência, que mantiveram até a morte de Mário,
este disse a Sabino que ele deveria ir escrevendo e se aperfeiçoando. E, fazia
a advertência de que o trabalho é árduo e sem brilho; e, depois, prognosticava
que ele iria progredindo aos poucos, e que, se aguentasse o tranco, outros
escritores perceberiam nele um grande escritor.
No
segundo artigo que escrevi para o blog, falei sobre o livro de ensaios A arte de escrever, de Ezra Pound, e
transcrevi parte do capítulo, no qual o poeta e crítico literário
norte-americano fala sobre a linguagem, dirigindo-se especialmente aos jovens
escritores. Pound ensina, nessa passagem, como se deve tratar a prosa: evitar o
uso de palavras supérfluas e de adjetivos que nada revelam; e, ainda, não usar
expressões como dim lands of peace
(brumosas terras de paz), que se prestam apenas para obscurecer a imagem e
misturar o abstrato com o concreto.
Outro
texto, que me parece ser útil aos escritores iniciantes, é o de François
Mauriac, publicado pela Paris Review,
em 1953, que resultou de uma entrevista concedida a Jean le Marchand:
Minha opinião não mudou.
Creio que meus confrades romancistas mais jovens se acham grandemente
preocupados com a técnica. Parecem pensar que um bom romance deve seguir certas
normas impostas de fora. Na verdade, porém, tal preocupação os tolhe e embaraça
em sua criação. O grande romancista não depende de ninguém, exceto de si
próprio. Proust não se assemelhava a nenhum de seus antecessores, e não teve,
não poderia ter, quaisquer sucessores. O grande romancista quebra o seu molde;
só ele pode usá-lo. Balzac criou o romance “balzaquiano”; seu estilo se
adaptava apenas a Balzac.
Mauriac,
conclui a resposta, que dá à primeira pergunta do seu entrevistador: “Há um
laço estreito entre a originalidade de um romancista em geral e a qualidade
pessoal de seu estilo. Um estilo emprestado é um mau estilo. Romancistas
americanos, de Faulkner a Hemingway, inventaram um estilo para imprimir o que
queriam dizer – e é um estilo que não pode ser transferido a seus adeptos”.
Como
essa conversa sobre a nobre arte da literatura é longa, fico por aqui. Segue
uma pequena nota biográfica desse escritor: François Mauriac nasceu em Bordéus,
na França, a 11 de outubro de 1885. Frequentou as Universidade de Bordéus e a
Universidade de Paris, por algum tempo. Em 1909, publicou um livro de versos.
No período de 1914 a 1969, escreveu dez romances, entre eles, Le Baiser aux lépreux (O Beijo no
Leproso), Le Désert de l'amour
(Grande prêmio de romance da Academia Francesa) Le Nœud de vipères (O Ninho de Víboras), Le Mystère Frontenac, La Fin
de la nuit, etc.
As obras
acima mencionada deram a que lhe deram a François Mauriac a reputação de ser o
principal romancista católico da França. Escreveu quatro peças teatrais, muitos
livros de contos, crítica literária e ensaios. Também escreveu a biografia de
Racine e a vida de Jesus. Foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1952. Nessa época, iniciou a
publicação de seus Diários ( que tiveram
publicação póstuma em 1985). François Mauriac faleceu em, Paris, a 01 de
setembro de 1970, com 85 anos de idade.
REFERÊNCIAS:
POUND, Ezra. Arte da poesia, ensaios. Tradução. de Heloysa de Lima Dantas e
Paulo Paz. São Paulo: Cultrix, 1976.
MAURIAC, Francois. Escritores em ação. Tradução de Brenno Silveira. 2ª ed. São Paulo:
Paz e Terra, 1982.
MAUROIS, André. De Proust a Camus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1965.
ANDRADE, Mário de: Cartas a um jovem escritor. Remetente: Mário de Andrade. Destinatário: Fernando Sabino. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1993.
* * *
Olá meu querido amigo dr Pedro Luso, adorei a aula rs, lendo o post percebo de uma forma mais clara a arte de ser escritor, mais ainda de ser empírico nesse desejo, as deficiências, face a existência de muita coisa já escrita, e sobre estilos, eu realmente acredito que para se criar uma obra é necessário nascer único, digo, nesse sentido que colocas no post. Nas minhas andanças pela blogosfera, tenho lido muita coisa, muita mesmo, e em alguns eu percebo um estilo (acredito eu), uma forma de escrever que me faz lembrar os escritos da própria pessoa sem ser repetitivo, pelo contrário, manter o estilo e a luta do escritor de se recriar sempre. E François Mauriac, já tem o meu respeito com a obra sobre a vida de Jesus. Não conhecia este escritor, mas fiquei muito feliz por ter sido apresentado a ele, aqui no teu blog, caro amigo. Mas só o tempo e a insistência definem um estilo. Bom, gosto muito dos teus contos, quero ler mais para eu descobrir e identificar teu estilo rs. Obrigado pelas informações, saio daqui com mais bagagem, mais conhecimento, e esta é minha busca, obrigado.
ResponderExcluirps. Meu carinho meu respeito meu abraço.
Muito bom seu comentário, caro Jair.
ExcluirA obra de François Maurois é, como escrevi, bastante extensa. Fiz menção a apenas alguns de seus livros, tendo deixado de falar sobre um no qual o escritor aborda o tema da velhice.
Quanto aos meus contos, eles estão sendo postados no meu outro blog - VEREDAS.
Grande abraço para o amigo.
Ao lado de François Mauriac, Flannery O’Connor, Paul Claudel e Walker Percy, o francês Georges Bernanos figura entre os grandes escritores cristãos do século XX, ao ponto de o grande teólogo alemão Hans Urs von Balthasar ter-lhe dedicado um livro inteiro. Sua obra tem sido publicada no Brasil pela É Realizações Editora, e agora sua passagem pelo país é narrada ao público local. O estudo de Sébastien Lapaque “Sob o Sol do Exílio: Georges Bernanos no Brasil (1938-1945)” acaba de ser publicado, trazendo à luz a visita de Bernanos a várias cidade do Rio de Janeiro e Minas Gerais, sua estadia no sítio Cruz das Almas, sua revolta contra a mediocridade dos intelectuais e a ascensão do totalitarismo, sua amizade com pensadores brasileiros e a visita que Stefan Zweig lhe fez à véspera de se suicidar.
ResponderExcluirMatérias na Folha de S. Paulo a propósito do lançamento do livro: http://goo.gl/O8iFve e http://goo.gl/ymS4lL
Para ler algumas páginas de “Sob o Sol do Exílio”: http://goo.gl/6hAEOM
Confira também:
Diálogos das Carmelitas: http://goo.gl/Yy3ir3
Joana, Relapsa e Santa: http://goo.gl/CAzTTk
Um Sonho Ruim: http://goo.gl/Kd091z
Diário de um Pároco de Aldeia: http://goo.gl/ISErLc
Sob o Sol de Satã: http://goo.gl/qo18Uu
Nova História de Mouchette: http://goo.gl/BjXsgm
ANDRÉ GOMES QUIRINO
mkt1@erealizacoes.com.br
(11) 5572-5363 (r. 230)
Obrigado, André, pela visita ao blog e pelas informações esses grandes escritores cristãos do século XX.
ExcluirAbraço.