- PEDRO LUSO DE CARVALHO
ALBERTO MORAVIA nasceu na cidade de Roma, Itália, a 22 de novembro de 1907,
onde morreu, em 26 de setembro de 1990. No registro civil recebeu o
nome de Alberto Pincherle. Passou parte de sua juventude tratando de
uma tuberculose óssea. Como a doença manteve-o de cama durante
cinco anos, entre os nove e os dezessete anos, até 1924, seus
estudos regulares não passaram de nove anos.
O
primeiro livro de Moravia foi Gli indifferenti (Os indiferentes);
parte dele foi escrito quando ainda estava de cama, doente. Concluiu
o livro em 1925, e o viu publicado em 1929, com vinte e um anos de
idade. Na Itália, o livro foi muito bem aceito. Sobre essa
aceitação, assim se manifestou Moravia a The Paris Review:
Foi,
com efeito, um dos maiores êxitos de toda a moderna literatura
italiana. A maior, na verdade; o posso dizê-lo com toda modéstia.
Jamais houve coisa igual. Livro algum, certamente, nos últimos
cinquenta anos, foi acolhido com tão unânime entusiasmo e
excitação”.
Moravia
deu ênfase ao fato de que Gli indifferenti (Os indiferentes) teve
uma recepção sem precedentes, e que não houve nenhum outro que a
ele se assemelhasse em toda sua carreira – desde essa época -,
como não aconteceu a nenhum outro escritor.
Além
da grande atenção que o romance Gli indifferenti despertou na
Europa, também teve excelente receptividade nos Estados Unidos, na
sua segunda tradução; o New York Times disse que Moravia era “um
dos escritores contemporâneos verdadeiramente importantes, tão
imparcial, observador, nada sentimental, e humano como Stendhal.”
MoraviaO
escritor disse que com esse livro (Os indiferentes) não teve nenhuma
intenção de reagir contra coisa alguma; já a crítica entendeu que
o romance contém um crítica acerba contra a burguesia romana, como
dos valores burgueses em geral; Moravia disse que não é nada disso,
e que se trata apenas de um romance; se alguma crítica há, não é
intencional.
Para
Moravia, “a função do escritor não é, de qualquer modo,
criticar, mas apenas de criar personagens vivos; não mais que isso.
Escrevo para divertir-me, para entreter os outros e para
exprimir-me”.
Depois
constatamos que Moravia abriu uma exceção ao escrever La
Mascherata, peça teatral, que, contrariando o que se constituiu em
regra em sua ficção, isto é, de escrever romances, contos ou peça
teatral sem qualquer crítica social; La Mascherata, é, na verdade,
uma peça crítica. A ideia de escrevê-la surgiu em 1936, quando
Moravia esteve no México; o cenário hipano-americano inspirou-lhe
uma sátira.
De
volta à Itália, a ideia permanceu; em 1940 foi para Capri para
escrever La Mascherata. Em Roma, dirigiu-se ao Ministério da Cultura
para obter licença para publicá-la, mas a obra foi censurada; logo
depois, Mussolini autorizou a sua publicação. Decorrido um mês, o
livro foi retirado de circulação, e só voltou às livrarias depois
da Libertação, em 1945.
Declarou
Moravia não ser moralista, mas, em outro momento, disse: “Uma obra
de arte, por outro lado, tem uma expressão representativa e
expressiva. Nessa representação, as ideias do autor, seus juízos,
o próprio autor, acham-se comprometidos com a realidade. Eu suponho,
colocando as coisas dessa maneira, que sou, afinal de contas, até
certo ponto, um moralista. Nós todos o somos, todo homem é um
moralista à sua própria maneira, mas, além disso, ele é muitas
outras coisas”.
O
inteesse de Moravia pelo teatro começou cedo, quando era jovem.
Sempre leu peças teatrais, a maioria delas de Shakespeare, Molière,
Goldoni, Lope de Vega, Calderón. Para o teatro escreveu, entre
outras peças, uma adaptação de seu primeiro romance, Gli
indeppenti, e a peça para o teatro, La Mascherata.
Em
suas leituras é atraído pela tragédia, que, para ele, é a maior
de todas as formas de expressão artística, como o teatro é a mais
completa das formas literárias. Lamenta que não mais exista o drama
contemporâneo, que o drama moderno não exista mais – para ele
existe apenas nas representações, mas não tem sido escrito.
Ainda
sobre o drama, disse Moravia que nenhum escritor moderno criou o
drama – a tragédia – no sentido mais profundo da palavra; nem
mesmo O'Neill, Shaw, Pirandelo... “A base do drama é a linguagem,
a linguagem poética”. Dá realce de que mesmo Ibsen, o maior dos
dramaturgos modernos – que se valeu da linguagem cotidiana – não
conseguiu criar o verdadeiro drama.
REFERÊNCIAS:
COWLEY,
Malcolm. Escritores em ação. Tradução de Brenno Silveira. 2ª ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
PATRICK,
Julian. Grandes escritores. Tradução de Livia Almeida e
Pedro Jorgensen Junior. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
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Bom dia Pedro
ResponderExcluirDesculpa tratar-te assim tanto à vontade . Penso que o podemos fazer aqui na blogosfera desde que o respeito seja uma das regras básicas.
Mais um trabalho de literatura. Na verdade existiram grandes escritores que aqui vens publicando.
Nunca li nada deste escritor e pelo que aqui está escrito parece-me valer a pena fazer esta viagem.
Desejo um final de semana muito bom para ti e os teus.
Caro Pedro,
ResponderExcluirMoravia é o exemplo de um autêntico artista. O fato de não ter prolongado seus estudos acadêmicos deixou-o liberto do peso das convenções academicistas.
A opinião dele sobre moral é muito precisa; todos somos moralistas a nosso modo. Nunca conheci ninguém absolutamente amoral.
Parabéns por mais essa contribuição para a cultura.
Um grande abraço do atelier
É interessante quando ele fala sobre moral. Mas acredito que é uma moral própria, valores próprios, os nossos próprios limites. Por conta disso, muitas vezes coisas que poderiam ser melhores exploradas acabam por sucumbir num mesmismo, a menos que se supere mais um limite auto-imposto.
ResponderExcluirJá tinha ouvido o nome dele, mas nunca li a obra - mais uma para o meu caderninho de leituras.
Boa noite. ;)
Admirável sobriedade na forma de apresentar os artistas, não se vislumbra qualquer "moralidade". Li “Os insolentes”, talvez o ano passado. Sem qualquer menção à importância e receptividade, curioso ver como o eco pode ser oco e anular-se se não o ouvirmos ecoar. A vida duma família de gente desocupada que pouco se envolve com a vida dos outros, acompanhando as personagens respira-se um ambiente. A perfeição está na contenção, o narrador é um olhar neutro, uma câmara de filmar que vai mostrando a acção sem intervir nela ou fazendo-o o menos possível. A história acaba, o livro termina, fica-nos a sensação duma história contada com mestria e sobriedade.
ResponderExcluirVoltei ao inicio... :) Parabéns!
Un'insieme di opere importanti che descrivono un tempo greve, in cui l'uomo man mano perde le sue certezze ed anche abbandona la vita in solitudine e con disperazione. Liriche che ho molto apprezzato ed immedesimano nel dolore che porta alla morte. Bellissima la recenzione su Alberto moravia, scrittore poliedrico ed un po' eccentrico della rosa degli scrittori Italiani. Lavorò anche per il cinema, anche se non fu il suo fulcro maggiore. Grazie per averci fatto conoscre più a fondo il suo carattere e le sue preferenze. Un buon inizio di settimana, caro Pedro da Grazia!
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