por Pedro Luso de Carvalho
Abordaremos a poesia de José Albano não apenas nesta edição, mas também em outras, que serão apresentadas de forma intercaladas. E em cada um desses futuros textos daremos a conhecer a posição de poetas igualmente importantes e de críticos literários, no que respeita a obra do poeta. Podemos antecipar, inclusive, alguns nomes que abordam a obra (e a vida) de José Albano; são, entre outros: Alfredo Bosi, Manoel Bandeira, Agripino Grieco, Antônio Sales, Tristão de Athayde, Braga Montenegro.
Cumpre fazermos de plano a presentação do poeta, para os que não o conhecem, e então passarmos à sua poesia. José Albano é um dos mais importantes poetas brasileiros, embora pouco conhecido em sua pátria. Entre os poetas neoparnasianos, José Albano foi o mais aristocrático.
Filho de família cearense abastada, e neto de barões pelo lado paterno, não encontrou dificuldades em sair do Brasil aos onze anos de idade para estudar em colégios ingleses, austríacos e franceses, tendo o privilégio de receber uma apurada formação humanística. Volta ao Brasil - Fortaleza, sua cidade natal -, já na adolescência, e tenta cursar Direito, mas a doença o impediu de continuar os estudos. Então, com ajuda do Barão do Rio Branco, seu amigo e protetor, retorna à Europa, para, depois de visitar alguns países, fixar-se na França. Aí morre o poeta no dia 11 de julho de 1923, na localidade de Montauban.
Um dos nossos mais importantes críticos literários, Tristão de Athayde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima), “num assomo de entusiasmo”, como observa Alfredo Bosi, manifestou-se sobre a obra do poeta no seu importante ensaio, Poesia Redentora, in José Albano, Rimas. 3ª ed., Rio de Janeiro, Graphia Editorial, 1993, p. 220.221:
"A figura de José Albano é das mais indiscutíveis desse período pré-modernista, entre 1900 a 1920, em que escreveu o principal de sua estranha e puríssima obra poética, agora de novo revelada ao grande público, pela coragem editorial dos irmãos Pongetti e pela independência e bom gosto literário de Manoel Bandeira. As Rimas (Pongetti Editores, 1948) compreendendo essa deliciosa Comédia Angélica, esses maravilhosos quatro sonetes em inglês, o Triunfo que é uma obra-prima e os Dez sonetos escolhidos pelo autor, que são seguramente dos mais belos que jamais foram escritos em nossa língua e mesmo em qualquer língua humana – representam um imenso drama interior – uma incomparável realização de poesia pura''.
Além de Rimas, o primeiro livro de José albano, publicado em Barcelona, em 1912 (no Brasil a sua edição deu-se em 1948, por Pongetti Editores), e Comédia Angélica, publicada em 1918 (quatro sonetos em inglês com tradução portuguesa, com argumento religioso e forma clássica), o poeta também publicou Antologia Poética.
Em outras oportunidades, como dissemos acima, continuaremos com a abordagem da obra de José Albano. Agora, passemos ao poema CANÇÃO A CAMÕES, que integra o seu livro Rimas, p. 113-115:
CANÇÃO A CAMÕES
Co'uma espada de prata e lira de ouroClaríssimo Camões, me aparecesteNo cimo do Parnaso alcantilado;E eu, posto num enlevo duradouro,Gravei na mente essa visão celesteQue em numeroso verso aqui traslado;Estavam ao teu ladoDuas Musas de cândido semblante,Calíope que sopra na canoraTrombeta retumbanteCujo clangor os ecos apavora;E Euterpe que da rude e agreste avenaTira uma melodia pura e amena.
Esta afina o instrumento donde parteUm longo e suavíssimo gemidoCuja tristeza eu também sinto e entendo,E de improviso Amor vem a esta parteE traz nas mãos teu coração feridoDonde vermelhas gotas vão correndo.Com ele vem o horrendoE escuro Fado que jamais se cansaDe atormentar um generoso peito,Alevantando a lançaQue atravessou teu coração desfeito -E enquanto lentamente vão passando,Ri-se o Fado cruel, geme Amor brando.
Emudecendo a frauta, eis se derramaO som da horrível tuba que o repousoSubitamente rompe do ar vizinho;E eu vejo o Capitão Vasco da Gama,Aquele grão Lusíada famosoQue descobriu das Índias o caminho;E (ó destino mesquinho!)Vejo a mísera Inês tão meiga e amante,Longe de Pedro, saüdosa dele,Lamentar-se dianteDel-rei que ao duro sacrifício a impele:De Vasco o Tejo está lembrado ainda,Chora o Mondego a Inês lânguida e linda.
Eis se alça Adamastor fero e iracundo,Como uma nuvem negra aparecendoÀ frota, do naufrágio ameaçada.Treme nos fundamentos todo o mundo,Quando ele em tom altíssimo e tremendoBlasfema, grita, brama, ruge e brada.Eis surge a sublimadaVênus superna que nasceu da escuma;De flores se matizam as campinas,A aragem se perfumaE serenam as ondas neptuninas:Protege a deusa o peito lusitano,Conquistador da terra e do oceano.
Cessa o clangor e eu vejo ainda em sonhoDescer do empíreo angélica figura,De ouro tingindo as nuvens e de rosa.E no semblante plácido e risonhoLeio a felicidade branca e puraDe quem muito sofreu e agora goza:É Natércia formosa,Ó bom Luís, exemplo de amadores,É tua alma gentil, encanto e vida,Amor de teus Amores,Sempre adorada e nunca possuída,Ei-la que vem da luminosa partePara verdes mirtos coroar-te.
Da baixa terra também sobe a ver-teOutra figura, envolta em negro luto,Que no passado mais ditosa viste.Do longo caminhar cansada e inerte,De lágrimas o rosto nunca enxuto,Suspira e nenhum peito lhe resiste:É Lusitânia triste,É tua ingrata mãe que ânsia secretaDe saüdades sente dentro da alma,Mas vendo-te, ó Poeta,A mágoa se lhe um pouco abranda e acalma.E para que o remorso menos doa,De imarcescíveis louros te coroa.
Canção, voa ao ParnasoE ao Mestre amado meu que lá de cimaMe ouve cantar em venturoso enlevo,Entrega o verso e rimaQue em tributo ofereço do que devo.E se durares qual lhe dura o nome,Fico que nunca o tempo te consome.
(by José Albano)
REFERÊNCIAS:
ALFREDO BOSI. A Literatura Brasileira. O Pré-modernismo. Vol. V. São Paulo: Ed. Cultrix, 1966, p. 19-24.
ALBANO, José. Rimas, 3ª ed., Rio de Janeiro, Graphia Editorial, 1993 , p. 220.221.
Como sempre passo por aqui para me enriquecer de cultura. Mas hoje passei especialmente para desejar a um dos meus primeiros amigos,UM FELIZ NATAL e um ANO NOVO cheio de muita sabedoria e repleto de bons amigos! Obrigada por ter me dado tão bons motivos ao longo do ano,para que eu pudesse sempre passar por aqui!
ResponderExcluirNo próximo ano, espero continuar tendo bons amigos assim como você!
Abraços
Lhú Weiss
Não conhecia este poeta brasileiro e, pelos vistos, "descoberto" por um outro escritor brasileiro que o "apadrinhou" para o mundo das letras... Pergunto-me quantas obras primas terão ficado adormecidas em gavetas e cadernos a que ninguem mais teve acesso?? Perda terrível!
ResponderExcluirGosto desta "Canção a Camões"! É um repassar pelos Lusíadas e lembrar os feitos grandiosos dos Portugueses... e desvendo aqui um pequeno segredo: quando estudei "Os Lusíadas" fi-lo com amor e dedicação...graças ao entusiasmo de uma mestra...brasileira!!!
Um Santo e feliz Natal e um Ano Novo muito promissor.
Beijo
Graça
Olá!!
ResponderExcluirObrigada por retribuir a visita!!Seja Bem-Vindo ao blog!!
Que belo post!!Eu sou apaixonada por literatura, tenho fome de conhecimento. Adoro aprender!!
Teu post foi um aprendizado!!
Obrigada!
Boa semana para você!
Abraço!
Atenciosamente
Obrigado Pedro por me dar a conhecer mais umas belas páginas.
ResponderExcluirUm abraço
Prezado Pedro Luso!
ResponderExcluirAí está o Natal, manifestação cristã de nosso anseio de harmonia e felicidade, esperança de um mundo melhor. O ano de 2010 chega ao poente à espera do alvorecer de 2011. Entre o ocaso e o romper da aurora, noites estreladas de um verão vivo. Vamos deixar aflorar nossas virtudes. Como diria São Tomás, um hábito do bem, com ânimo e coragem de agir racionalmente.
Vamos aplaudir a chegada dos novos tempos, muitos dias para saborear a vida em 2011. Nossa nova jornada será de sucesso, de colheita de sorrisos e conquistas. Dias para rever a beleza que nos rodeia, para abraçar os amigos, cantar, sentir o aroma das plantas e agradecer ao criador. Resta-nos renovar nossos espíritos, deixar que a água do mar, mesmo a da torneira, toque nosso corpo para nos lembrar que vamos recomeçar com ânimo a caminhada rumo a um futuro pleno de luz. O sol do amanhã nos e embala e nos convida para uma grande e agradável aventura.
Um Feliz Natal e próspero Ano. amigo!
Edward de Souza
Bom dia Amigo Pedro Luso
ResponderExcluirA tua passagem no lidacoelho me encanta sempre mas desta vez me emocionou pelo teu carinho e os votos de Boas Festas.
Desejo para ti e toda a tua família o dobro de tudo quanto me desejaste e que o novo ano de 2011 seja muito bom para todos nós.
Continuarei a passar por aqui para alargar os conhecimentos e para beber nas fontes esta água fresca de sabedoria.
Aceita o meu abraço e nele a minha admiração e respeito.
Parabéns pelo blog e pelos textos... Tenho um blog chamado Folhetim Cultural gostaria que visita-se este é o endereço: informativofolhetimcultural.blogspot.com
ResponderExcluirVamos trocar conhecimentos...
Ass: Magno Oliveira
Folhetim Cultural
Oi Pedro
ResponderExcluirObrigada pelos votos.
Desejo a você e a Taís um fim de Ano repleto de alegria. E um 2011 de sucesso, momentos felizes. Como presente (para mim... hehe), desejo que você escreva cada vez mais e nos brinde com verdadeiras aulas, assim como em 2010.
Ah, sinto falta de mais crônicas e artigos de opinião seus. São muito bons. Li ‘O Brasil pede socorro’ e ‘Filhos versus pais’ por esses dias.
Não agradeci pelos livros que você me indicou.
Bem, obrigada... rs.
Comprei ‘A Dama do cachorrinho’, está para chegar. Estou ansiosa para lê-lo. Indicação sua é certeza de coisa boa, leitura indispensável.
Boas Festas
Deva
Pedrãoamigo
ResponderExcluirFaz muitíssimo tempo que não venho por cá... Porquê? Não sei, só sei que não tenho vindo e por isso, qual Egas de baraço ao pescoço, te peço muita desculpa - que sei que me darás.
O Natal está ali mesmo, ao virar da esquina, já se vêem os pastorinhos a caminho de Belém, mais ao longe em seus camelos, Baltazar, Gaspar e Melchior, já cheira a fritos, já está de molho o bacalhau. E Maria, de acordo com as Escrituras, está prestes a dar à luz.
Por isso, desejo-te muito Boas Festas, em meu nome pessoal e no da Minha Travessa do Ferreira.
Qjs à Tais & abs para tu