Luís de Miranda |
por Pedro Luso de carvalho
Passei a conhecer a poesia de Luiz de Miranda quando dava os meus primeiros passos no exercício da advocacia. Posso afirmar que desde que li os seus primeiros poemas, passei a comprar os seus livros, sempre que os editava; na maioria das vezes, fazia-o na Feira do Livro de Porto Alegre, a maior feira de livros a céu aberto da América do Sul.
Pessoalmente, conheci Luiz de Miranda quando fui por ele procurado em meu escritório, para resolver um pequeno problema ligado a imóveis. Depois que minha secretária o anunciou pelo interfone, logo ela apareceu acompanhada pelo poeta, para abrir a porta da minha sala, e conduziu-o à uma cadeira em frente de minha mesa. Ali estava, pois, à minha frente, o ainda jovem Luiz de Miranda com sua barba e cabelos compridos, parecendo-se muito com a clássica figura de Shakespeare. Disse-me que vinha ao meu escritório por recomendação do escritor Sergio Faraco, seu amigo dileto. Acomodou-se calmamente na cadeira e estendeu o braço trazendo na mão o seu último lançamento: Estado de Alerta, (in Editora Movimento, Porto alegre, 1981). Folhei-o em seguida para ver se havia alguma dedicatória, e de fato havia:
Agradeci ao poeta pelo livro e pela dedicatória e logo passamos a tratar do assunto para o qual me procurou.“Ao Pedro Luso de Carvalho, o poema como esperança. O abraço amigo, Luiz de Miranda. Porto alegre, abril de 83”.
Vejamos, a seguir, o que dizem sobre a poesia de Luiz de Miranda, alguns nomes importantes da literatura brasileira (in Antololgia de Poemas):
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: “Poesia aberta, comunicante, como um sopro de vida e insatisfação”.
FERREIRA GULLAR: “No caso de um poeta como Luiz de Miranda, as soluções formais resultam da necessidade de formular o vivido e sentido, emoções e idéias que são expressão de um compromisso claro com seu país e o seu tempo. A poesia de Luiz de Miranda fala de nós todos”.
RAUL BOPP: “A poesia de Luiz de Miranda revela a sensibilidade do verdadeiro e grande poeta. É um contribuição definitiva à literatura brasileira”.
ALCEU VALENÇA: “A poesia de Miranda é o vento Minuano que passa em voz alta e nos marca para sempre”.
GUILHERMINO CÉSAR: “De qualquer modo, penso que Memorial assinala uma vertente; reúne-se ao que de melhor existe no Brasil”.
NELSON WERNECK SODRÉ: “Luiz de Miranda sabe que a solidão é provisória e decorre de derrota, exílio, distância, saudade. Escreveu longe e perto. Sua poesia se junta a de alguns, uns poucos, que souberam ver o que viu, sentir o que ele sentiu. A época, amarga e opaca e escura, é atravessada por essa poesia como um relâmpago. Sua luz denuncia auroras. Do provisório, entrevemos o definitivo”.
JOSÉ ÉDIL DE LIMA ALVES: “Poeta comprometido com a realidade do seu país e de seu continente, ele trilha os caminhos percorridos por um Pablo Neruda, um Atahualpa Yupanqui, um Ferreira Gullar, com seu canto enérgico de protesto”.
Passemos ao poema A ESSE AMOR, de Luiz de Miranda (in Antologia Poética, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1987, p. 67):
A ESSE AMOR
Luiz de Miranda
a Alice de Salles
Chegarei a esse amor
pelo próprio destrato
que ele me empresta
pelo seu avesso, o reverso
pela porta menor, retrato
de luz aquecida
Chegarei a esse amor
amando o lado opaco
que se infiltra e bruxuleia
nas quietudes mais cerradas
pelo círculo de giz, pacto
por onde renasço da cinza
Chegarei com o hálito antigo
a calça de brim
o chinelo, a bombacha
na mala da memória
e a palavra, irmã de insônia
cisma
que habita o desatino
com seu sopro alumbrado
Chegarei a esse amor
sem explicações ou fórmulas
com o coração aberto
na manhã de sombra
Um pouco mais da vida e da obra do poeta gaúcho, Luiz de Miranda, pode ser lido em Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_de_Miranda
Que pinta de blogue.
ResponderExcluirObrigado Pedro Luso
Que no ano que logo chega possa continuar a nos brindar com teu conhecimento e cultura, feliz ano novo.
ResponderExcluirps. Grande abraço.
Parabéns pelo seu trabalho neste espaço de partilha em 2010 e faço votos que 2011 seja um ano cheio de sonhos concretizados!
ResponderExcluirUm abraço
O ano 2010 foi um ano de enriquecimento de cultura que tu ofereces neste teu blog vocacionado para a Literatura. Cresci muito neste campo!
ResponderExcluirDeixo um voto para 2011: que o teu trabalho possa chegar a muitas mais pessoas, satisfazendo esta ânsia de saber que todo o homem mantém dentro de si. Escolheste o melhor caminho!
Como dizia Padre António Vieira:
"Para saber e acertar não há mais que um caminho, e para errar, infinitos".
Feliz Ano!
Beijo
Graça