9 de mai. de 2010

EDGAR ALLAN POE - A Cidade no Mar




 – PEDRO LUSO DE CARVALHO

O célebre poeta frances Charles Baudelaire, escreve, no prefácio para Poemas e ensaios, de Edgar Allan Poe, que o escritor norte-americano “se apresenta sob três aspectos: crítico, poeta e romancista; e mais – diz Baudelaire -, no romancista há um filósofo. Referindo-se ao trabalho que Poe desempenhava no jornal Mensageiro Literário do Sul, diz Baudelaire, referindo-se às críticas que escrevia: “Todas são feitas com o maior cuidado, e denotam no autor um conhecimento das diversas literaturas e uma aptidão científica que recordam os escritores franceses do século XVIII”.
Sobre o Poe ficcionista, escreve Baudelaire: “Como novelista e romancista, Edgar Poe é único no seu genero, como Maturim, Balzac, Hoffmann. . Os variados trabalhos que espalhou em revistas foram reunidos em dois grupos: Contos grotescos e do arabesco, o outro Contos de Edgar A. Poe, edição Wilwy e Putnam. Forma tudo um total de setenta e dois trabalhos mais ou menos. Há ali bufonadas violentas, puro grotesco, aspirações desenfreadas para o infinito e uma grande preocupação pelo magnetismo”.
No que respeita à poesia de Poe, escreve Baudelaire: “Como poeta, Edgar Poe é um homem à parte. Representa quase sozinho o movimento romantico do outro lado do oceano. É o primeiro americano que, propriamente falando, fez do seu estilo uma ferramenta. Sua poesia, profunda e gemente, é, não obstante, trabalhada, pura, correta e brilhante, como uma jóia de cristal. Edgar Poe amava os rítmos complicados e, por mais complicados que fossem, neles encerrava uma harmonia profunda”.
A prova, do que diz Charles Baudelaire sobre a excelencia da poesia de Edgar Allan Poe, encontra-se no seu poema:


A CIDADE NO MAR
EDGAR ALLA POE




Olhai! A Morte edificou o seu trono
numa estranha cidade solitária
por entre as sombras do longínquo oeste.
Lá, os bons, os maus, os piores e os melhores,
foram todos buscar repouso eterno.
Seus monumentos, catedrais e torres
(torres que o tempo rói e não vacilam!)
em nada se parecem com os humanos.
E em volta, pelos ventos olvidadas,
olhando o firmamento, silenciosas
e calmas, dormem águas melancólicas.

Ah! luz nenhuma cai do céu sagrado
sobre a cidade, em sua imensa noite.
Mas um clarão que vem do oceano lívido
invade os torreões, silentemente,
e sobe, iluminando capitéis,
pórticos régios, cúpulas e cimos,
templos e babilonicas muralhas;
sobe aos arcos escuros e esquecidos
onde o granito se fecunda em flores;
sobe aos templos magníficos, sem conta,
onde os frios se enroscam e entretecem
de vinhedos, violetas, sempre-vivas.

Olhando o firmamento, silenciosas,
calmas, dormem as águias melancólicas.
Torreões e sombras tanto se confundem
que é tudo como solto nos espaços.
E a Morte, do alto de soberta torre,
contempla, gigantesta, o panorama.
Lá, os sepúlcros e os templos se escancaram
mesmo ao nível das águas luminosas;
mas não pode a riqueza portentosa
dos ídolos com olhos de diamante,
nem das jóias que riem sobre os mortos,
tirar as vagas do seu leito imóvel;
pois, ai! Nem leve movimento ondula
esse imenso deserto cristalino!
Nem ondas falam de possíveis ventos
sobre mares distantes, mais felizes;
ondas não contam que existiram ventos
em mar de menos espantosa calma.

Mas, vede! Um fremito percorre os ares.
Uma onda... Faz-se ali um movimento!
E dir-se-ia que as torres vacilaram
e afundaram de leve na água turva,
abrindo com seus cumes, debilmente,
um vazio nos céus enevoados.
As ondas tem, agora, luz mais rubra,
as horas fluem, languidas e fracas.
E quando, entre gemidos sobre-humanos,
a cidade submersa, for fixar-se no fundo,
o Inferno, erguido de mil tronos,
curvar-se-á, reverente.






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REFERENCIA:
POE, Edgar Allan. Poemas e ensaios. Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado, 3ª ed. Revista. São Paulo: Editora Globo, 1999, págs. 11-13, 45-46.)


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