- PEDRO
LUSO DE CARVALHO
Antônio
Cândido escreveu "O Significado de Raízes do Brasil,
título do prefácio para a 13ª edição de Raízes do Brasil, de
Sérgio Buarque de Holanda, publicada pela Livraria José Olympio
Editora, em 1979. A 1ª edição dessa obra, reconhecida por muitos
críticos como uma das obras mais importantes produzidas no Brasil,
foi publicada em 1936. Diz Antônio Cândido, na sua brilhante
apresentação de Raízes do Brasil:
A certa
altura da vida, vai ficando possível dar balanço no passado sem
cair na autocomplacência, pois o nosso testemunho se torna registro
da experiência de muitos, de todos que, pertencendo ao que se
denomina uma geração, julgam-se a princípio diferentes uns dos
outros e vão, aos poucos, ficando tão iguais, que acabam
desaparecendo como indivíduos para se dissolverem nas
características gerais da sua época. Então, registrar o passado
não é falar de si; é falar dos que participaram de uma certa ordem
de interesses e de visão do mundo, no momento particular do tempo
que se deseja evocar.
Prossegue
Antônio Cândido:
Os homens
que estão hoje um pouco para cá ou um pouco para lá dos cinqüenta
anos aprenderam a refletir e a se interessar pelo Brasil sobretudo em
termos de passado e em função de três livros: Casa-Grande &
Senzala, de Gilberto Freyre, publicado quando estávamos no ginásio;
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, publicado quando
estávamos no curso complementar; Formação do Brasil Contemporâneo,
de Caio Prado Júnior, publicado quando estávamos na escola
superior. São estes os livros que podemos considerar chaves, os que
parecem exprimir a mentalidade ligada ao sopro de radicalismo
intelectual e análise social que eclodiu depois da Revolução de
1930 e não foi, apesar de tudo, abafado pelo Estado Novo. Ao lado de
tais livros, a obra por tantos aspectos penetrante e antecipadora de
Oliveira Viana já parecia superada, cheia de preconceitos
ideológicos e uma vontade excessiva de adaptar o real a desígnios
convencionais.
Mais um
trecho do importante do prefácio do mestre Antônio Cândido:
Para nós
há trinta anos atrás, Raízes do Brasil trouxe elementos como
estes, fundamentando uma reflexão que nos foi da maior importância.
Sobretudo porque o seu método repousa sobre um jogo de oposições e
contrastes, que impede o dogmatismo e abre campo para a meditação
de tipo dialético. Num momento em que os intérpretes do nosso
passado ainda se preocupavam sobretudo sobre os aspectos de natureza
biológica, manifestando, mesmo sobre aparência de contrário, a
fascinação pela “raça” herdada dos evolucionistas, Sérgio
Buarque de Holanda puxou a sua análise para o lado da psicologia e
da história social, com um senso agudo das estruturas. Num tempo
ainda banhado de indisfarçável saudosismo patriarcalista, sugeria
que, do ponto de vista metodológico, o conhecimento do passado deve
estar vinculado aos problemas do presente.
Mais
diante, Antônio Cândido analisa a posição adotada por Sérgio
Buarque de Holanda, no que diz respeito à política:
E do ponto
de vista político, que, sendo o nosso passado um obstáculo, a
liquidação das “raízes” era um imperativo do desenvolvimento
histórico. Mais ainda: em plena voga das componentes lusas avaliadas
sentimentalmente, percebeu o sentido moderno da evolução
brasileira, mostrando que ela se processaria conforme uma perda
crescente das características ibéricas, em benefício dos rumos
abertos pela civilização urbana e cosmopolita, expressa pelo Brasil
do imigrante, que há quase três quartos de século vem modificando
as linhas tradicionais.
No que
respeita ao prefácio de Raízes do Brasil, ficamos com mais este
trecho escrito por Antônio Cândido:
Finalmente,
deu-nos instrumentos para discutir os problemas da organização sem
criar no louvor do autoritarismo e autorizou a interpretação dos
caudilhismos, que então se misturavam às sugestões do fascismo,
tanto entre os integralistas (contra os quais é visivelmente
dirigida uma parte do livro) quanto entre outras tendências, que
dali a pouco se concretizariam no Estado Novo. Com segurança,
estarmos entrando naquele instante na fase aguda da crise de
decomposição da sociedade tradicional. O ano era 1936. Em 37, veio
o golpe de Estado e o advento da fórmula ao mesmo tempo rígida e
conciliatória, que encaminhou a transformação das estruturas
econômicas pela industrialização. O Brasil de agora deitava os
seus galhos, ajeitando a seiva que aquelas raízes tinham recolhido.
São Paulo, dezembro de 1967. Antônio Cândido.
Adiante
mencionaremos os prêmio mais importantes concedidos a Sérgio
Buarque de Holanda, bem como a relação de sua obra. O seu primeiro
livro, Raízes
do Brasil,
(1936), foi uma obra que nasceu clássica, segundo o professor e
ensaísta Antônio Cândido. Entre os anos de 1950 a 1953 Sérgio
Buarque de Holanda escreveu para para a Folha
de S. Paulo.
O Premio Edgard Cavalheiro foi-lhe outorgado pelo Instituto Nacional
do Livro em 1957, pela sua obra Caminhos
e Fronteiras.
No ano seguinte, com a tese "Visão do Paraíso - Os Motivos
Edênicos no Descobrimento e na Colonização do Brasil", foi
aprovado em concurso público para a cadeira de História da
Civilização Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo - USP. (Formou-se na Faculdade
de Direito do Rio de Janeiro, em 1925.)
Os livros
que Sérgio Buarque de Holanda produziu, depois de Raízes
do Brasil
(1936), foram: Cobra
de Vidro
(1944); Monções
(1945. 2ª ed. 1976); A
Expansão Paulista do Século XVI
e Começo
do Século XVII
(1948)”; Índios
e Mamelucos na Expansão Paulista,
(1949); Antologia
dos Poetas Brasileiros na Fase Colonial.
Revisão Crítica de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira
(1952); “Le
Brésil dans la Vie Américaine (em Le nouveau monde et l'Europe -
IXes. Recontres Internationales de Genève) Neuchatel"
(1955); Caminhos
e Fronteiras
(1957. 2ª ed., 1975); Visão
do Paraíso
. Os
Motivos Edênicos no Descobrimento e Colonização do Brasil
(1958); História
Geral da Civilização Brasileira
(direção da obra de VII vols.; o último, Do
Império à República,
foi totalmente escrito por Sérgio Buarque de Holanda (1972);
Brasil-Império
(em 'Tres Lecciones Inaugurales, Buarque, Romano, Savelle), Santiago
do Chile 1963).”
Obras
Didáticas escritas por Sérgio Buarque de Holanda: História do
Brasil, em colaboração com Tarqüinio de Souza (1944); História
do Brasil
– 1. Das
Origens à Independência.
2. Da
Independência aos Nossos Dias.
Para a área de Estudos Sociais, Ensino de 1º grau - em colaboração
com Carla de Queiróz, Sílvia Barbosa Ferraz e Vigílio Noya Pinto
(1972-1974, 2 vols.); História
da Civilização. Área de Estudos Sociais.
7ª e 8ª séries do 1º grau (antigas 3ª e 4ª séries ginasiais
(em contribuição com a mesma equipe acima mencionada (1975).
Como
reconhecimento da importância de seu trabalho em prol da cultura,
Sérgio Buarque de Holanda recebeu o premio Intelectual do Ano, em
1979.
Sérgio
Buarque de Holanda nasceu na cidade de São Paulo, em 11 de julho de
1902, onde faleceu, em 24 de abril de 1982. Dentre os seus sete
filhos, dois tornaram-se famosos: Miúcha e Chico Buarque.
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