– PEDRO LUSO DE CARVALHO
ALBERT SCHWEITZER foi músico e profundo conhecedor da obra de Bach, e um
dos seus melhores intérpretes; ganhou notoriedade pela sua dedicação na
construção de órgãos. Formou-se em Medicina, Filosofia e Teologia na
Universidade de Straburgo; em 1901 foi nomeado docente nessa mesma
Universidade.
Recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1953, como reconhecimento de sua
atividade como médico na África Equatorial Francesa, onde, em 1913, construiu
um hospital na localidade de Lambaréné, Gabão; aí, passou parte de sua vida
dedicada ao tratamento de doenças tropicais, no afã de minorar o sofrimento do
povo africano. Retornava a Europa apenas para angariar fundos para a manutenção
de seu hospital, realizando concertos de órgão e conferências públicas.
Schweitzer foi fortemente influenciado por duas importantes
personalidades da cultura universal, quais sejam, Jean Sebastian Bach e Johann
Wolfgang von Goethe. Inspirado em Bach, escreveu, no ano de 1904, em francês,
JEAN SEBASTIAN BACH, Lê Musicien Poète;
Goethe, por sua vez, inspirou-lhe os estudos sobre o poeta através de GOETHE, Quatro Discursos (Goethe, Vier Reden von Albert
Schweitzer), publicado em Munique, Alemanha em 1950. No Brasil, a obra foi
publicada em 1960 pela Edições Melhoramentos.
Essa editora publicou, além de Goethe, Quatro Discursos, outras obras de
Albert Schweitzer: Minha Infância e Mocidade, Histórias Africanas, Entre a Água e a Selva, Albert
Schweitzer – Uma vida Exemplar, Minha Vida e Minhas Ideias, Decadência e
Regeneração da Cultura e Cultura e
Ética.
Aqui abro (e fecho) um parêntesis neste texto para dizer que Albert
Schweitzer era irmão de Charles Schweitzer, professor de língua alemã e tio-avô
de Jean-Paul Sartre; Charles Schweitzer foi o responsável pela educação do neto
famoso. Na obra As Palavras (Les Mots) de Jean-Paul Sartre, publicada
no Brasil pela Editora Nova Fronteira, pode-se saber muito mais dessa
descendência dos Schweitzer, além de fatos importantes sobre a sua formação.
Continuo com a fala sobre Albert Schweitzer e dos seus quatro discursos
sobre GOETHE, pronunciados em épocas diferentes de sua vida e depois reunidos
em livro. Neles o autor faz referência ao pensamento e à personalidade do poeta-cientista,
seu guia espiritual. O Primeiro Discurso foi pronunciado no ato da entrega da
“Medalha-Goethe”, em Frankfurt an Main, em 28 de agosto de 1928; o Segundo
Discurso foi proferido nas solenidades do centenário da morte de Goethe, em sua
cidade natal, Frankfurt an Main, em 22 de março de 1932; o Terceiro Discurso,
foi pronunciado na cidade de Ulm, em julho de 1932, com o título: Goethe – Como Pensador e Como Pessoa; o
Quarto Discurso, Goethe, O Homem e a Obra,
foi proferido em Aspen (Colorado – E.U.A.), em 8 de julho de 19149.
Desses discursos de Albert Schweitzer sobre o escritor que, com Schiller
foi uma das figuras centrais do movimento literário alemão, Johann Wolfgang von
Goethe, também cientista e filósofo, autor de Werther e Fausto, destaco
trechos do seu Quarto Discurso, O Homem e
a Obra:
“Goethe, O Poeta. Em que consiste o singular atrativo de suas produções?
Vejamos primeiramente o que diz respeito à linguagem. Goethe é um vidente. Fala
através de símbolos, o que desde sua juventude reconhecia como peculiaridade
sua. Possui o segredo de saber pintar com idéias. Vemos o que ele vê e quer que
vejamos com ele.
Outra peculiaridade sua é não jogar com o patético de uma linguagem
poética que possa fascinar com a ressonância dos vocábulos, de adjetivos
impressionistas, mas o de expressar-se com toda a singeleza do falar comum, ao
que sabe infundir extraordinária força de elocução. Comumente o ritmo de suas
frases não coincide com o ritmo do verso. Fica como em atitude de expectativa em
face destes. Há, nesse particular, há uma certa semelhança entre ele e Bach.
Sim, em Bach a composição é feita de modo tal que os temas não se
ajustam ao ritmo nem ao embalo da cadência, tomando direção própria. Em Goethe
o valor intrínseco da frase tem como conseqüência lógica a medida métrica dos
versos, parecendo que estes são uma espécie de prosa de alta categoria, o que
lhes confere soberba naturalidade e distinção.
Goethe, O Pensador. Qual a sua concepção do
mundo? Qual a sua visão da vida? A que filosofia pertence? Goethe conhece as
obras da filosofia sua contemporânea, como aliás é muito lido na filosofia em
geral. Toma por obrigação estudar Kant, senta-se aos pés de Schiller,
intérprete do filósofo, e deixa-se catequizar.
Goethe conhece pessoalmente a Fichte, Schelling e Hegel. Todos os três
foram por ele chamados a exercer a cátedra na Universidade de Iena (Goethe foi
Ministro-Presidente do Conselho de Estado, do Ducado de Weimar).
Fichte lecionou ali de 1794 a 1799, Schelling de 1798 a 1803 e Hegel de
1802 a 1807. Goethe, como podemos verificar de notas de seus Diários, assiste à explanação de
Schelling e procura encontrar satisfação na pseudofilosofia natural do filósofo
que menospreza a pesquisa empírica da natureza.
Afinal, ele mesmo se convence de que nem a Teoria do Conhecimento, de Kant, nem os sistemas filosóficos de
Fichte, de Schelling ou de Hegel podem realmente oferecer-lhe algo. O
pensamento deles pertence a um outro mundo que não o seu, porque procura
aproximar-se da natureza, ao passo que o seu tem nela o seu ponto de partida.
‘Pelo meu próprio esforço sempre me vi livre da filosofia - escreveu
Goethe certa vez – a maneira de as inteligências sadias verem as coisas
coincidia sempre com o meu modo de ver’. Essa opinião poderia ser assim
completada: já se gastou tempo bastante com a crítica da razão (Vernunft; preferiria uma crítica do
entendimento humano (Verstand)”.
Johann Wolfgang von Goethe nasceu em Frankfurt an Main, no dia 28 de
agosto de 1749 e falaceu em Weimar, Alemanha, em 22 de março de 1832.
Albert Schweitzer nasceu em 14 de janeiro de 1875, em Kaysersberg, na na
Alsácia, que, na época, pertencia Império alemão, e faleceu em 4 de setembro de
1965, em Lambaréné, Gabão, África.
REFERÊNCIAS:
SCHWEITZER, Albert. Goethe.
Quatro Discursos. Trad. de Pedro de Almeida Moura. São Paulo: Ed.
Melhoramentos, 1960.
SCHWEITZER, Albert. Decadência e
Regeneração da Cultura. 5ª ed. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1964.Sartre,
Jean-Paul. As Palavras. 6ª ed. Rio de Janeiro:, Ed. Nova Fronteira, 1984.
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