– PEDRO LUSO DE CARVALHO
ERNEST HEMINGWAY iniciou sua carreira como repórter do Kansas City Star, com a idade de 17
anos. Quando os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial, Hemingway
juntou-se a uma unidade de ambulância voluntária no exército italiano, como
motorista. Servindo na linha de frente, foi ferido gravemente, e, para
recuperar-se dos ferimentos sofridos, permaneceu por considerável tempo em
hospitais. Depois de seu retorno aos Estados Unidos, passou a trabalhar como
repórter para jornais canadenses e americanos, um deles, o Toronto Star Weekly, na cobertura da guerra franco-turca, que o
levou a retornar à Europa. Mais tarde fixou residência em Paris.
No ano de 1923, Hemingway publicou o seu primeiro livro, The Stories and Ten Poems, numa edição de
300 exemplares; em 1924, saiu a coletânea In
Our Time, com 18 contos curtos. Em 1925 publicou a sátira The Torrents of Spring. Em 1926 publicou
o romance The Sun Also Rises (O sol também se levanta), em 1927, o seu
segundo livro de contos, Nen Without
Woman, destacando-se, entre eles, The
Killers e The Undefeated, que
foram considerados os melhores exemplos do conto moderno.
O reconhecimento, pela crítica literária, chegou a Hemingway com a
publicação do romance A Farewell to Arms
(Adeus às armas), em 1929. Os seus
contos foram reunidos no livro The First
Forty-Nine, em 1938. Já o romance mais longo do escritor foi publicado em
1940, cuja história se passa na Guerra Civil Espanhola, For Whom the Bell Tolls (Por
quem os sinos dobram). Além dessas obras, publicou: Across the River and Into the Trees (1950), Old man and the Sea (O velho
e o mar), em 1952 - que lhe deu o Prêmio Pulitzer, em 1953, e o Prêmio
Nobel de 1954 -, Adventures of a Young
Man (1962), Islands in the Stream
(1970) e The Garden of Eden (O jardim do Éden), em 1986.
A respeito de Old man and the Sea
(O velho e o mar), assim se manifesta
Mário Vargas Llosa, no seu livro A
verdade das mentiras, depois de ter se referido à luta de um velho
pescador, que depois de ficar oitenta e quatro dias sem pescar, trava uma luta
titânica de dois dias e meio contra um peixe gigantesco, que, preso a seu
pequeno bote, depois de um combate não menos heroico, vem a perdê-lo no dia
seguinte para os vorazes tubarões do Caribe:
Essa é uma situação clássica nas obras de ficção de Hemingway: a
aventura de um homem que enfrenta, num combate sem trégua, um adversário
implacável, liça graças a qual, seja derrotado ou vitorioso, atinge um valor
mais alto de orgulho e de dignidade, um maior coeficiente humano. Mas em nenhum
de seus romances ou contos anteriores esse tema recorrente de sua obra se
materializou com a perfeição que atingiu nesse relato, escrito em Cuba, em
1951, num estilo diáfano, com uma estrutura impecável e tanta riqueza de
alusões e significados como o de seus melhores romances de fôlego” (...) Sem
deixar de ser uma bela e comovedora obra de ficção, esse relato é também uma
representação da condição humana, segundo a visão que dela postulava
Hemingway”.
Em entrevista concedida a The
Paris Review, Hemingway respondeu a muitas perguntas feitas pelo
entrevistador, não a todas as perguntas, esquivando-se daquelas que achava que
não eram inteligentes ou que eram importunas. Para os leitores de Hemingway, ou
para os que simplesmente se interessam pelas opiniões sobre literatura,
escolhemos partes dessa entrevista. O entrevistador pergunta a Hemingway se na
década de vinte, quando o escritor vivia em Paris, ele contou com algum
‘sentimento de grupo’ em companhia de outros escritores e artistas; esta foi a
resposta:
“Não. Não havia sentimento de grupo. Tínhamos respeito uns pelos outros.
Eu respeitava uma porção de pintores, alguns deles de minha própria idade,
outros mais velhos: Gris, Picasso, Braque, Monet, que ainda viviam, bem como a
uns poucos escritores, como, por exemplo, Joyce, Ezra e a boa Stein...”
Sobre a pergunta feita, se é influenciado sobre o que está lendo, quando
escreve, respondeu:
“Não, desde que Joyce estava escrevendo Ulisses. A influência dele não
foi direta. Mas, naquela época, quando as palavras que conhecíamos nos estavam
interditas, e tínhamos que lutar para encontrar uma única palavra, a influência
de sua obra foi o que mudou tudo, fazendo com que nos fosse possível romper com
certas restrições”.
A seguir respondeu à pergunta sobre as influências de pessoas
contemporâneas suas, em sua obra, bem como qual foi a contribuição de Gertrude
Stein, de Ezra Pound e de Max Perkins. Essa última parte da pergunta deixou
Hemingway agastado, porque o entrevistador visava tocar num assunto que não lhe
era agradável, qual seja, os comentários que intelectuais e críticos literários
faziam na época, em Paris, de que, na ficção, foi orientado por Gertrude Stein
e Ezra Pound, tanto que, irritado, disse ao entrevistador:
“Acaso essa espécie de conversa o entedia? Esta bisbilhotice literária
retrospectiva – este lavar de roupa suja depois de transcorridos trinta e cinco
anos – causa-me náuseas. Seria diferente se se procurasse dizer toda a verdade.
Isso teria algum valor”.
Hemingway, no entanto, responde parte da pergunta:
Miss Stein escreveu com
certa prolixidade e considerável inexatidão a respeito de sua influência sobre
minha obra. Foi-lhe necessário fazer isso, depois que ela aprendeu a escrever
diálogos, num livro intitulado The Sun
Also Rises (O sol também se levanta).
Eu gostava muita dela e pareceu-me esplêndido que houvesse aprendido a escrever
conversação. Quanto a Ezra, era extremamente inteligente quanto aos assuntos
que realmente sabia. Aqui é mais simples e melhor agradecer a Gertrude Stein
por tudo que aprendi com ela, reafirmar minha lealdade a Ezra Pound como a um
grande poeta e a um amigo leal, e dizer que me interessava tanto por Max
Perkins, que jamais consegui aceitar o fato de que ele morreu.
Depois, o entrevistador quis saber quais os antecedentes literários, aquele
de quem mais aprendeu. Hemingway, então, passou a enumerá-los:
Mark Twain, Flaubert,
Stendhal, Bach, Turguieniev, Tolstoi, Dostoievski, Tchekhov, Andrew Marvell,
John Donne, Maupassant, o bom Kipling, Thoreau, o Capitão Marryat, Shakespeare,
Mozart, Quevedo, Dante, Virgílio, Tintoretto, Hieronymus Bosch, Brueguel,
Patinir, San Juan de la Cruz, Góngora... Levaria um dia inteiro para lembrar-me
de todos. Pareceria, ademais, que eu estaria procurando demonstrar uma erudição
que não possuo, ao invés de estar apenas procurando lembrar todos aqueles que
exerceram influência sobre minha vida e minha obra (...).
É novamente Vargas Llosa quem fala a respeito do livro escrito por
Hemingway, Paris é uma festa, na sua
obra citada:
Livro patético – canto do
cisne – pois foi o último livro que escreveu -, esconde sob a enganosa pátina
das recordações de sua juventude, a confissão de uma derrota. Aquele que
começou assim, na Paris dos loucos anos de 1920, tão talentoso e tão feliz, tão
criador e tão vital, aquele que em poucos meses foi capaz de escrever uma obra
prima – O sol nasce sempre – ao mesmo
tempo que espremia todos os sucos suculentos da vida – pescando truta e vendo
touros na Espanha, esquiando na Áustria, apostando nos cavalos em Saint-Cloud,
bebendo os vinhos e licores de La Closerie – já está morto, é um fantasma que
trata de se agarrar à vida mediante aquela prestidigitação antiquíssima
inventada pelos homens para, ilusoriamente, prevalecer contra a morte: a
literatura.
Eric Nepomuceno, no seu livro Hemingway na Espanha, diz:
A última cidade que viu
na vida foi Ketchum, em Idaho, um estado do norte dos Estados Unidos, entre
Washington e Oregon à esquerda de Montana e Wyoming à direita, na fronteira com
o Canadá (...). Seu último trabalho foram os textos que tentaram recuperar suas
épocas de Paris, talvez a última cidade que ele conseguiu conservar intacta na
memória, mesmo nos tempos em que a memória andava cada vez mais magra: dois
meses antes de disparar a velha ‘Boss’ de dois canos na testa, ele ainda
corrigia e armava as sobras da alegria e da felicidade.
Ernest Miller Hemingway, nasceu em Oak Park, Illinois, EUA, em 21 de
Julho 1899, e morreu em Ketchum, Idaho, aos 2 de Julho 1961. Foi casado quatro
vezes, e teve muitos casos amorosos. Era um dos seis filhos do médico Clarence
Edmonds Hemingway (membro fervoroso da Primeira Igreja Congregacional) e de
Grace Hall (cantora do coro da igreja). Ernest Hemingway pôs termo à sua vida
da mesma forma que o fizera Clarence, seu pai: suicídio.
REFERÊNCIAS:
COWLEY, Malcolm. Escritores em ação. Trad. Brenno
Silveira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
NEPOMUCENO, Eric. Hemingway na Espanha. A outra pátria.
Porto Alegre: L&PM Editores, 1991, p. 15.
VARGAS LLOSA, Mário. A verdade das mentiras. Trad. Cordelia
Magalhães. 2ª ed. São Paulo: Editora ARX, 2005, p. 246, 248.
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gostei muiiiiiitooooooooo.............
ResponderExcluirmuito legal esse teu texto. acabei de ler o ótimo livro "paris é uma festa" e, como não tinha outro do hemingway a vista, fui buscar como alternativa saber um pouco mais sobre ele.
ResponderExcluire muito legal o site do saramago que o teu blog faz remissão.
deve ser legal tbém o livro do V. Llosa que faz menção o teu artigo.
e por sinal, tbém sou de POA e formado em direito.
abço.
iuri, e-mail: marcos_abcdf@hotmail.com
já li o livro "O velho e o mar" por várias vezes, li novamente esta noite e sei que vou ler muitas outras vezes, este livro é de grande importância, pois estimula as pessoas a sempre terem esperança durante as adversidades...........
ResponderExcluirDoutor Pedro, parabéns pelo conteúdo, difere de tudo o mais que encontrei na internet. Muito obrigada por compartilhar comigo seu conhecimento sobre este autor.
ResponderExcluirPedro Luso
ResponderExcluirEmbora tenho lido apenas dois livro de Ernest Hemingway, o modo da sua abordagem, me interessou e prendeu profundamente. É assim que também que as referência aqui deixadas, me interessaram, porquanto nada tinha lido sobre a sua personalidade.
Bem haja!
abraço
Caro Daniel:
ExcluirÉ sempre uma honra receber a sua visita. E é muito bom quando sabemos que o que escrevemos pode ser de alguma serventia.
Obrigado também pelo seu comentário.
Um grande abraço.
Hola, me ha gustado aprender mas datos sobre la personalidad de este grande de las letrad.
ResponderExcluirun saludo
Rosa
Olá, Rosa!
ExcluirGostei muito de sua visita; espero que volte mais vezes.
Fiquei contente ao saber que você apreciou esta matéria sobre o Hemingway.
Abraço.