– PEDRO LUSO DE CARVALHO
PABLO
NERUDA (1904-1973) não era o seu nome de registro civil ou de batismo. Hoje
ninguém saberia tratar-se de um dos mais importante poetas do século 20,
declinando o seu verdadeiro nome: Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Bassoalto.
Neruda escreveu
muito, ao longo de sua vida: 51 publicações. Sua poesia saiu do Chile e da
América do Sul para espalhar-se pelo mundo, influenciando uma plêiade de jovens
poetas em todos os quadrantes, que o admiravam pela grandiosidade formal de sua
poesia, que se tornou conhecida pela abordagem do amor, pelo olhar poético do
cotidiano e pela atenção direcionada ao plano social.
Segue o
poema de Pablo Neruda, O Mar e os Jasmins, uma homenagem que faz a Coimbra (in Neruda, Pablo. As uvas e o vento. Tradução de Carlos Nejar. Porto Alegre:
L&PM, 1979, p. 236-237):
O MAR E OS JASMINS
– PABLO NERUDA
DE TUA
MÃO pequena em outra hora
saíram criaturas
debulhadas
no
espanto da geografia.
Assim
voltou Camões
para deixar
um ramo de jasmins
que
continuou florescendo.
A
inteligência ardeu como uma vinha
de transparentes
uvas
em sua
raça.
Guerra
Junqueiro entre as ondas
deixou tombar
seu trovão
de
liberdade bravia
que
transportou o oceano em seu canto,
e
outros multiplicaram
teu
esplendor de roseiras e cachos
como de
teu território estreito
brotassem
grandes mãos
derramando
sementes
para
toda a terra.
No
entanto
o tempo
enterrou.
O pó
clerical
acumulado
em Coimbra
caiu em
teu rosto
de
laranja oceânica
e
cobriu o esplendor de tua cintura.
* * *