por Pedro Luso de Carvalho
VINICIUS DE MORAES orientava-se no plano literário por um aristocratismo e desprezo pelos escritores realistas. Era, como ele próprio dizia, o “mergulho no sublime”. Dessa fase nasceu A transfiguração da montanha, o seu primeiro poema, que foi publicado em 1932 na revista A Ordem. Tal publicação deu-se por interferência de Otávio de Faria junto a Tristão de Athayde. Sobre o livro, Vinicius viria a ele se referir, mais tarde: “Era muito longo e muito ruim e até hoje não entendo porque Tristão o publicou”.
O livro de estreia de Vinicius, O caminho para a distância, marcou justamente esse aristocratismo intelectual. O livro foi bem recebido pela crítica e por poetas, como Manoel Bandeira, que o aconselhou a largar o verso livre e adotar a forma metrificada.
No período que compreendeu os anos de 1933 a 1934 Vinicius escreveu um romance, ‘Antônia’, com cerca de 300 páginas, que logo viria rasga-lo. Nessa época escreveu o seu segundo volume de poemas, Forma e exegese. Pela obra recebeu o Prêmio da Sociedade Felipe d‘Oliveira, em 1935.
Após ter concluído o Curso de Direito, Vinicius exerceu a advocacia por cerca de um mês, pouco tempo, mas o suficiente para saber que não tinha vocação para essa profissão e para abandoná-la definitivamente. Motivado por Otávio Faria, Vinicius passou para a fase na qual teve influência do cinema e da literatura. Em 1936 lançou Ariana, a mulher, livro de poucas páginas e com trabalho gráfico esmerado, constituído de um extenso poema; nesse mesmo ano passou a representar o Ministério da Educação na Censura Cinematográfica, a convite de Capanema. Exerceu essa função até o ano de 1938.
Em 1938 o poeta publicou outra obra, Novos poemas, editado pela Pongetti. Nesse seu quarto livro, Vinicius mostra que deixa para trás o seu aristocratismo literário; nessa época já eram outros os autores que lia; os nacionais tinham a sua preferência: Machado de Assis liderava essa lista, depois vinham os modernistas: Murilo Mendes, Mário de Andrade e Manoel Bandeira. Bandeira, o grande poeta modernista, e Carlos Leão foram os responsáveis pelas novas diretrizes da carreira literária de Vinicius de Moraes.
Em setembro de 1938 Vinicius deixou o Brasil para estudar na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Essa oportunidade deveu-se a bolsa que recebeu do Conselho Britânico. No Magdalen College fez o curso de Língua e Literatura inglesas. Passou suas férias em Paris, onde travou amizade com dois importantes artistas plásticos brasileiros, Cícero Dias e de Di Cavalcanti.
Foi na Inglaterra que Vinicius casou, em 1939, com Beatriz Azevedo de Moraes; novamente de férias, retorna nesse ano a Paris, época em que eclode a Segunda Guerra Mundial; dada a gravidade da situação política na Europa, o poeta viu-se obrigado a retornar ao Brasil. Fazendo um balanço sobre o tempo em que passou na Inglaterra, um pouco mais de um ano, convenceu-se que tirou proveito no seu empreendimento, tanto na literatura inglesa, com ênfase em Shakespeare, como na sua produção poética: lá completou as Cinco elegias, que seriam publicadas em 1943, e também os Poemas, Sonetos e Baladas.
No ano de 1940 o poeta Cassiano Ricardo, que dirigia A Manhã, levou Vinicius para escrever sobre cinema. Esse é o início de suas atividades de jornalista, escrevendo críticas, que não tardariam a desagradar os proprietários de casas de cinema. Por esse motivo e por ter que estudar para o concurso do Itamarati, em 1942 deixou A Manhã. Aprovado no concurso ingressou na carreira diplomática em 1943. Nesse ano foram publicadas as Elegias, livro que considerou de grande importância por ser um marco entre as suas duas fases.
Vamos encerrar esta segunda parte deste trabalho com o poema de Vinícius de Moraes, seu famoso poema, Soneto de Fidelidade (In Antologia Poética, Editora A Noite. Rio de Janeiro, 1953, p. 108):
SONETO DE FIDELIDADE
(Vinicius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vive-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
*
Para acessar a parte final deste trabalho, clicar em: VINICIUS DE MORAES / Sua Trajetória - Parte III (Final)
REFERÊNCIA:
PEREZ, Renard. Escritores brasileiros contemporâneos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960.
* * *
Oi.
ResponderExcluirGostei muito do seu blog,parabéns.
Sabia que agora tem um "Portal" só de blogs de qualidade,assim como o seu?
Isso mesmo,é o "Portal Teia",que divulga todo tipo de blog,não só os grandes.
Passa lá e pede uma divulgação,é grátis rápido e não precisa cadastro.
Até mais
Tantos poemas que tenho lido de Vinicius e...tão pouco conhecia dele.
ResponderExcluirObrigada Pedro.
Beijo
Graça
Olá dr. Pedro, não tenho comentado muito por aqui, mas é inevitável não dar uma olhada, uma lida...e Vinicius é maravilhoso, não só sua vida, mas a obra, e obrigado por nos brindar com um dos mais belos poemas de amor que conheço: 'que seja infinto enquanto dure.' Isso é perfeito.
ResponderExcluirps. Meu carinho meu respeito meu abraço.
Adoro Vinícius e sua poesia.
ResponderExcluirUm grande bj para ti e por aqui fico.
Olá amigo,
ResponderExcluirObrigada por sua presença em meu blog. Seja sempre muito bem vindo!
Parabéns pelo espaço! Gostei muito das tuas postagens, bem interessantes, como esta biografia do nosso querido poetinha Vinícius, maravilhoso sempre!
Uma bela escolha!
Grande abraço.
Prezado Pedro,
ResponderExcluirTê-lo como seguidor é, indiscutivelmente, uma grande honra.
Abraço,
Caro Salatiel,
ResponderExcluirSinto-me igualmente honrado com a sua visita.
Aproveito para parabenizá-lo pelo seu trabalho desenvolvido em seu blog sobre o meio-ambiente.
Um abraço,
Pedro.