– PEDRO LUSO DE CARVALHO
Na última postagem deste trabalho (Mozart – Parte VI), dissemos que o músico deligou-se do Arcebispo Colloredo, depois que Leopold, seu pai, tentou convencê-lo, sem sucesso, a manter o seu emprego em Salzburgo. E que se mudou para Viena, onde casou com Constanze Weber. E que, depois, passou a empreender viagens em busca de novos recitais. Então, viajou para Praga, Dresden Leipzig e Berlim.
Nessa
nova empreitada, Mozart teve de suportar fracassos, que foram
intercalados com triunfos eventuais. Constaze, a esposa,
incentivava-o para que continuasse compondo. Para o músico, no
entanto, esse seria o início de uma jornada permeada de sofrimentos.
Teria que enfrentar as dificuldades financeiras e as doenças que
viriam agravar sua saúde, já muito debilitada. (Mozart, reconhecido
como mestre da melodia, que com simplicidade e graça construiu sua
música com pureza e elegância, continuou pobre toda a vida, pelo
fato de não ter sido dotado de talento para os negócios.)
No
ano de 1784, filiou-se na Maçonaria. No verão de 1785, escreveu
Música
Fúnebre dos Pedreiros Livres,
para os funerais de um irmão maçom. Aliás, o tema sobre a morte
não ficaria restrito a essa música; Mozart escreveria mais tarde o
magnífico Requiem,
que deixaria inacabado, e que seria completado por seu fiel discípulo
Süssmayer, que possuia inteiro conhecimento das intenções do
mestre. (Walsegg fez executar a obra em Wiener-Neustadt a 14 de
dezembro de 1793, sendo reconhecida a autoria de Mozart.)
O
pensamento sobre a morte, aliás, não deixou Mozart, nos seus
últimos anos de vida. Pensava continuamente na morte. Embora sempre
se mostrasse alegre previa talvez um fim prematuro. A carta de 4 de
abril de 1787 ao pai – a última que lhe escreveu -, deixa
tranparecer um Mozart obstinado pela música.
A
Flauta
Mágica
foi estreada no teatro Schicaneder, a 30 de setembro de 1791; o
próprio Mozart regeu as duas primeiras récitas. Não teve o êxito
esperado pelo composistor. O motivo do frio acolhimento, talvez
tivesse como causa a complexidade do texto; mas não demorou para que
a ópera conquistasse o público. A Flauta
Mágica constituiu-se
no primeiro êxito de Mozart, com mais de cem apresentações na
época.
Com
o êxito indiscutível de sua ópera Rapto
no serralho
(1782), no entanto, parecia assegurado o triunfo de Wolfgang, que
encarava agora com otimismo o futuro. Em fins do verão de 1783, o
músico e a esposa passaram três meses em companhia do pai, em
Salzburgo. Na primavera de 1785, Leopod visitou o casal em Viena;
essa foi a última vez que se viram pai e filho (Leopold faleceu no
dia 22 de maio de 1787).
Um
ano antes dessa última visita de Leopold a Wolfgang, Constanza havia
dado à luz a um menino, Raimund Leopold, a 17 de junho de 1784; o
filho morreu a 19 de agosto seguinte; talvez esse fato fosse o
prenúncio dos sofrimentos pelos quais passaria Mozart, que, nessa
época, já havia conquistado o posto de um dos maiores mestres da
arte lírica. (Dois dos três filhos de Mozart sobreviveram. O mais
velho, Karl, tentou música por algum tempo, deixando-a para
ingressar no serviço público; viveu a maior parte do tempo na
Itália, morrendo em Milão. O mais novo, Franz Xavier Wolfgang, teve
vida menos feliz; foi bom pianista, mas compositor medíocre.)
Enfermo,
como evidentemente
estava, em 1791 Constanza não teve escrúpulos em deixá-lo mais uma
vez, e ir para Baden, em busca de “cura” e de prazeres.
Chamaram-na em meados de novembro. Mozart encontrava-se já confinado
na cama, donde nunca mais se ergueria. O seu espírito absorvia-se em
A
Flauta Mágica,
que ansiava por ouvir mais uma vez, e no ainda inacabado Requiem.
O
músico iniciou a composição da ópera Flauta
Mágica,
por encomenda de seu amigo Emanuel Schicaneder, cantor, ator e
empresário. Essa obra prima de Mozart nasceu de um conto de fadas. O
público recebeu a ópera com grande entusiasmo. Em homenagem a
Mozart, Schicaneder mandou reformar e ampliar seu teatro, decorando-o
com figuras dos personagens da ópera.
Com
a finalidade de que Mozart pudesse manter uma existência condigna,
um grupo de húngaros ofereceu-se para contribuir anualmente com uma
elevada quantia em dinheiro. Tal oferta, no entanto, chegava tarde
demais: acometido por uma nefrite crônica, que desde a infância o
consumia, Mozart renunciava à vida, deixando de lutar contra a
doença. Mesmo doente, o músico compunha obsessivamente, não vendo
o que se passava ao seu redor.
Com
o progressivo inchamento das pernas, Mozart viu-se obrigado a
recolher à cama. Não tinha mais condições de andar. Mesmo em tais
condições, não se separava da partitura de um Requiem
encomendado pelo Conde Franz von Walsegg - para o músico, tal
encomenda era como a encarnação da morte.
O
estado de saúde de Mozart agravou-se no dia 4 de dezembro de 1791.
No quarto, encontravam-se presentes Constanze, Schicaneder e seu
discípulo Süssmayer; estes atenderam ao seu pedido para que
cantassem trechos do Réquiem,
do qual escrevera duas partes completas e esboçara as três
seguintes (Süssmayer se encarregaria de concluir a obra.) Quando
iniciaram a interpretação de Lacrymosa, Mozart chorou mansamente e
seus dedos deixaram cair a partitura que a mantinha zelosamente. À
uma hora da madrugada de 5 de dezembro de 1791, Wolfgang Amadeus
Mozart estava morto. (No mês seguinte, 27 de janeiro, completaria 35
anos de idade.)
Ao
amandecer, sob um céu ameaçador, o modesto caixão foi conduzido
pelas ruas por dois homens, tendo a acompanhá-los o fiel discípulo
Süssmayer. Na igreja de Santo Estêvão, outras pessoas juntaram-se
ao cortejo. Segundo consta, entre elas achavam-se Schicaneder,
Albrechtberger (que se tornaria professor de Beetthoven), o Barão
Van Swieten (para quem Mozart fizera uma nova orquestração de O
Messias
de Haendel) e Antonio Salieri – a personalidade mais influente, na
época, em Viena, de quem Mozart fôra o mais sério rival.
Mas
a violenta nevasca e o impiedoso vendaval fizeram-nos desistir da
longa marcha até o cemitério. Somente os dois carregadores
prosseguiram, depositando o corpo na capela mortuária, de onde foi
removido, à tarde, para ser enterrado em vala comum.
Somente
em 1808 é que Constanza visitou o cemitério, procurando localizar a
sepultura do marido, com a intenção de colocar uma cruz sobre ela;
ninguém soube informar-lhe o local. (O lugar da sepultura que até
hoje se desconhece.)
De
Wofgang Amadeus Mozart restava somente o nome e a história de uma
vida inteiramente consagrada à música. Legou-nos obras de valor
inestimável, dentre elas: Rapto
no Serralho
(1782), Bodas
de Fígaro
(1786), Don
Giovanni (1787),
Assim
Fazem Todas
(1790), Flauta
Mágica
(1791), de admiráveis sinfonias, sonatas e concertos, obras de
música religiosa e de música de câmara, e um magnífico Requiem.
REFERÊNCIAS:
NEWMAN,
Ernest. História
da Grande Óperas.
Tradução de Antônio Ruas. 6ª ed. Porto Alegre: Editora Globo,
1957.
MASSARANI,
Renzo. Grandes
Compositores da Música Universal, nº 20.
São Paulo: Abril Cultural, s/d.
PETIT
LAROUSSE. Dictionnaire
Encyclopédique.
Pour Tous. 24ª tirage. Paris: Librairie Larrousse. 1966.
* * *
Parabéns Pedro pela excelente série de textos biográficos sobre Mozart.
ResponderExcluirUm grande abraço
Boa tarde, Pedro. Obrigada por estar seguindo o meu blog. Fui conhecer os seus, e infelizmente eu não consegui postar comentário no blog sobre Direito.
ResponderExcluirAchei a proposta do blog ótima, pois é totalmente informativa.
Nosso País sofre muito com tanta impunidade e leis tão obsoletas onde a verdadeira justiça não é feita.
Basta olharmos para os criminosos que cometem crimes hediondos e por causa de bom comportamento são logo soltos sem cumprir a pena toda.
Eu sou totalmente contra isso, aliás, não só eu, mas todos que não aceitam esse descaso das Leis que precisam ser mudadas o quanto antes. Na realidade, é o descaso de quem faz as leis.Eu estou te seguindo, mas ficar sem comentar é ruim, daí vim aqui, e comentei.
Você está dando uma participação excelente do seu conhecimento para a população, trazendo temas importantes.
Se quisermos pedir esclarecimento sobre um determinado assunto você esclarece em postagem, ou escolhe por si só?
Tenha um fim de semana abençoado, e fique na paz!
Um beijo na alma.
Boa noite, Patrícia.
ResponderExcluirÉ verdade, o meu blog sobre assuntos jurídicos não está aberto para comentários, mas sempre que possível, troco idéias com os amigos e amigas blogueiras, principalmente por e-mails.
Os outros blogs não-jurídicos, estão abertos para comentários, tanto no que respeita as respectivas matérias como sobre os assuntos relacionados ao Direito.
Patrícia, fiquei contente com sua visita e com seu inteligente comentário.
Espero que volte mais vezes.
Abraços,
Pedro.
Gosto e aplaudo o comentário da Patrícia.
ResponderExcluirConfesso que sou pouco ouvinte deste tipo de música mas as vezes apetece!
Abraço a família