por Pedro Luso de Carvalho
Neste trabalho teremos como referência, em especial nesta primeira parte, o ensaio Balzac e Tolstói, que integra o livro D'Aragon a Montherlant, do escritor francês e membro da Academia Francesa, André Maurois (1885- 1967); aí o ensaísta faz uma importante comparação sobre a obra (e a vida) desses importantes nomes da literatura universal, Balzac e Tolstói. O ensaio integra o livro D'Aragon a Montherlant, publicado em Paris pela Librairie Académic Perrin, em 1967, que vem completar a trilogia de Maurois sobre escritores franceses contemporâneos, somando-se aos seus livros anteriores: De Proust a 'Camus (1965) e De Gide a Sarte (1966).
Maurois abre o seu ensaio com esta frase: “O espírito sopra onde quer e nada permite prever que um grande escritor nascerá numa cidade determinada, de determinado paísá”. Depois, faz referência às origens tão diferentes de Balzac e Tolstói; e diz que eles são “os maiores criadores do romance na história literria”. Lembra que Tolstói descendia de uma velha e rica família da aristocracia russa, enquanto que Balzac descendia de campônios, por um lado, que ganhavam a vida com os penosos trabalhos com a terra, e, de outro lado, de mercadores de Marais.
Nessa comparação entre os dois escritores, vemos que Tolstói podia contar com toda a proteção da familia afortunada, enquanto Balzac conheceu a extrema pobreza. À vista disso, não é de surpreender-se que não era o dinheiro que motivava Tolstói a publicar seus livros; no entanto, isso não acontecia com Balzac, que publicava os seus romances por necessitar de meios pecuniários para garantir a sua subsistência.
Nesse trabalho, Maurois também dá o seu conceito sobre a construção de uma obra literária, dizendo: “Toda a obra é construída sobre o conhecimento de alguns aspectos da vida. O romancista inventa, advinha, mas a partir de suas experiências”.
Tolstói escreveu a partir da história da própria família, que conheceu desde o nascimento. “Não tinha mais do que consultar as memórias e os arquivos dos seus para aí descobrir os personagens com que faria Guerra e Paz. Henri Troyat, em seu belo livro, Tolstói, nos pinta o príncipe Volkonski, avô do romancista, e sua filha, a princesa Marie”.
A riqueza dessa história familiar viria aumentar com o casamento de Tolstói com Sônia Bers, já que também ela descendia de familia rica, em cujo meio em que vivia trazia igualmente o passado, o pitoresco e o poético. “Sua mulher, sua cunhada Tânia iriam juntas sugerir a admirável Natacha. Seu irmão, Sérgio Tolstói, de encanto perigoso no seu ar envelhecido, o olhos azuis, a elegância negligente, vivia como um verdadeiro herói de romance - lembra Maurois”.
Outro era o meio em que Balzac vivia. Colhia para seus romances o conhecimento que adquiria a partir do que observava em uma família de pequenos burgueses ou de seus amigos, o que era pouco para seus romances. “Os antepassados de Tolstói viviam na escala dos palácios imperiais, os de Balzac na dos balcões e lojinhas – diz Maurois”.
Em que pese as diferênças de suas situações sociais e econômicas, Maurois diz que “foi Balzac que engendrou o universo romanesco mais vasto e mais povoado”. Lembra que Tolstói soube abordar a vida militar, com a qual teve contato no Cáucaso e em Sebastopol, bem como o mundo da aristocracia de Moscou, e, mais ainda, a vida do proprietário de terras, que era sua condição. Maurois lembra das mulheres com quem Tolstói conviveu: “Tânia, Sônia, suas tias, e antes do seu casamento campônias ou ciganas. Contatos de pele, não de coração”.
Tolstói conhecia pouco as classes médias, ao contrário de Balzac, que com ela convivia. Sobre as mulheres, diz Maurois: “Balzac teve a sorte de se formar sob a égide da grande Sra. De Berny, que lhe ensinou o amor e o mundo, pela duquesa de Abrantes, pela Sra. Castries que, se recusando, enriqueceu-o com mil histórias, por Zulma Carraud, por sua irmã Laure. Além disso assistiu às suas aulas na escola da miséria”.
Na próxima postagem continuaremos escrevendo sobre Balzac e Tolstói, mostrando semelhanças e diferênças entre esses dois célebres escritores.
REFERÊNCIA:
MAUROIS, André. De Aragon a Montherlant. Tradução de Paulo Hecker Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1967.
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Visitando, conhecendo. Vou, mas volto.
ResponderExcluirabraço.
Muito bom este blog!
ResponderExcluirCaro Pedro, você me honrou seguindo meu blog! Muito obrigado! Já sigo o seu, e devo comentar que gostei muito das suas postagens; são merecedoras de elogios. Parabéns!
ResponderExcluirHoje, venho só desejar-te uma santa e feliz Páscoa.
ResponderExcluirBeijo
Graça
Olá, Pedro Luso. Fantástico este teu texto. Não li, ainda, nada de Balzac. Foi, ótimo poder chegar,aqui, hoje. Só,assim, fico mais atento a este grande escritor. Obrigado, pela dica.
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