João Guimarães Rosa |
por Pedro Luso de Carvalho
JOÃO GUIMARÃES ROSA escreveu um único romance: Grande Sertão: Veredas, sua obra mais importante. Como vimos nas partes anteriores deste trabalho, Guimarães Rosa foi autor, também, de outras obras importantes, como, por exemplo, Sagarana. Para a quarta e última parte deste trabalho, sobre a trajetória do escritor, a escolha recaíu justamente sobre a sua obra-prima, Grande sertão veredas.
Na tradição mineira - diz Guilhermino Cesar -, “é que se forma João Guimarães Rosa (1908-1967). Bernardo Guimarães, Afonso Arinos, do século 19, Avelino Fóscolo, Godofredo Rangel e João Lúcio, antes do modernismo, no século 20, Eduardo Frieiro, João Alphonsus, Lúcio Cardoso, Ciro dos anjos, depois do modernismo, são os seus antecessores mais credenciados, na área da ficção”.
No segundo capítulo de Trilhas no Grande Sertão, de Cavalcanti Proença, diz: “Se há necessidade de classificação literária para Grande Sertão:Veredas, não há dúvidas que se trata de uma epopéia”. Sobre essa tese, Proença diz não pretender defendê-la; sente-se confortado apenas com essas anotações: o personagem (Riobaldo), episódios que convergem para a ação principal, o ponto nodal (julgamento de Zé Bebelo).
Sobre a tese de Proença, de tratar-se Grande Sertão:Veredas de uma epopéia, com base nessas anotações, contrapõe-se Donaldo Schüler: “Pergunta-se se estes três aspectos distinguem a epopéia. A resposta é ncessariamente negativa. Protagosnista, episódios convergentes, ponto nodal, estrutuam também o romance bem construído. Se com estes aspectos se pretende definir a epopéia, desaparecem os limites entre esta e o romance e ficamos sem saber porque Grande Sertão: Veredas deve ser classificado como epopéia”.
Mas, o certo é que Donaldo Schüler admite, que Grande Sertão:Veredas contém personagens cujos traços físicos e morais “filiam indubitavelmente o romance à tradição épica. Riobaldo, à maneira de Homero, se refere aos seus heróis como representantes de uma raça deasaparecida, nascida em outros tempos, eram mais fortes do que os homens de agora”.
Apesar de certos epítetos lembrarem a epopéia da Europa medieval, friza Schüler, que “parece-nos incorreto apontar como fontes do romance a Idade Média de além-mar antes de esgotar a nossa própria Idade Média”. E, então, Schüler faz referência a esse período da História, que “no Brasil está vivo nos nossos arcaímos lingüísticos e no folclore do nosso país”.
No que respeita a ser ou não uma epopéia a obra-prima de Guimarães Rosa, Donaldo Schüler, encerra o seu ensaio com este resumo: “Grande Sertão:Veredas tem aspectos épicos em maior número do que os aqui analisados. Estes aspectos épicos enraízam numa importante tradição literária brasileira popular e erudita. Contudo, “Grande Sertão:Veredas não é epopéia. Riobaldo, narrador e personagem central, anda em busca do sentido do mundo e de si mesmo. Esta indagação, que está no núcleo central da obra, faz de “Grande Sertão:Veredas um romance”.
Schüler afirma, no entanto, ser estéril o debate sobre ser ou não, Grande Sertão:Veredas, uma epopéia. Isso não lhe interessa. Para ele o que importa é compreender a obra. Mas, para quem quiser aprofundar-se nessa tese contrária à epopéia, de Donaldo Schüler, encontrará um texto excelente e aprofundado no seu ensaio intitulado O Épico em “'Grande Sertão:Veredas, que integra o livro João Guimarães Rosa (Edições da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
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E é justamente essa travessia do sertão, por Riobaldo, com todos os seus perigos, que lhe mostra a sua travessia interior; pelo menos é o que se depreende de sua fala: “Quando foi que eu tive a minha culpa? Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades... Compadre meu Quelemén diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente”.
É Riobaldo quem diz, com clareza, no início do romance: “Lhe falo do sertão. Do que não sei. Ninguém ainda não sabe.” Começa aí, no início, a busca, por Riobaldo, para descobrir-se e descobrir o mundo. É nessa travessia que Riobaldo irá conhecer Diadorim; mais tarde, dirá: “Diadorim é a minha neblina”.
NOTA: Para ter acesso ao início deste trabalho, clicar em Guimarães Rosa – Parte I
REFERÊNCIAS
CESAR, Guilhermino. SCHÜLER, Doanaldo. CHAVES, Flávio Loureiro. João Guimarães Rosa. Edições da Faculdade de Filosofia. Universidade Fedral do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, s/d, p. 19, 49-51, 79, 80-82, 86.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: Veredas. 3ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1963, p. 475, 96, 12.
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Caro Pedro,
ResponderExcluireu visito regularmente alguns blogs.
É uma rotina que cumpro com prazer.
Mas há algo que diferencia uns dos outros: a urgência de ver ou ler as postagens. No caso dos blogs da família Luso eu não deixo para depois, arranjo um tempo e leio! Nunca me arrependi - sempre encontro bons textos, assuntos interessantes e de ótimo nível ético e intelectual!
Excelente o desfecho da séris 'Guimarães Rosa'.
Um abraço
Caro Antonio,
ResponderExcluirQuanto ao interesse pelo meu blog, a recíproca é verdadeira. Com frequência visito o seu blog para apreciar a sua excelente pintura.
Agradeço-lhe pela atenção dada ao trabalho sobre a obra de Guimarães Rosa.
Um abraço,
Pedro
Olá, Pedro. Tenho um sítio numa pequena cidade do Sul de Minas. A cidadezinha, há poucos anos, ainda vivia sua Idade Média. Incrível como ainda hoje os caboclos usam vocabulário e expressões que têm muito de "roseanos": palavras arcaicas, colocações inesperadas e até cômicas. Até o dono do cartório é a cara do Gimarães Rosas nos seus cinquenta. Obrigado pela resenha.
ResponderExcluirAbraço,
Gabriel
Sinais de outros tempos. Os sinais de agora não são tão profundos, a mudança é hierarquia. Querer estar sempre a frente da natureza.
ResponderExcluirGrato pelo texto.
Boas festas.
Desejo felicidade,
ResponderExcluirprosperidade, saúde,
realizações, paz e tudo
de melhor para você e toda
a sua família nestas festas.
Feliz Natal! Feliz Ano Novo!
Bjs.