10 de ago. de 2011

ALBERTO MORAVIA & Sua Obra – Parte III

Alberto Moravia

                 por  Pedro Luso de Carvalho


        Quanto a influência que talvez tenha sofrido em Gli indifferenti (Os Indiferentes), no que diz respeito à técnica da narrativa, Moravia aponta para Dostoiévski, com o que com ele aprendeu na complexidade do romance dramático; Crime e castigo, é um dos exemplos; com Joyce, com o que aprendeu com ele no que respeita ao uso do tempo ligado à ação.

        Moravia chama a atenção para que não se confundam imaginação com fantasia, por serem duas ações distintas da mente; e lembra Benedetto Croce e da grande distinção que faz entre elas em seu livro. Para ele todos os artistas devem ter imaginação, e alguns tem fantasia, como ocorre com Ariosto, e na ficção científica. Já Madame Bovary, de Flaubert, é um excelente exemplo da presença da imaginação e ausência da fantasia.

        O escritor diz que seus antecessores literários foram Manzoni, Dostoiévski e Joyce. Apreciava os franceses, principalmente os autores do século dezenove: Voltaire, Diderot. Depois desses, Stendhal, Balzac, Maupassant. Dentre os poetas, gostava de Rimbaud e Baudelaire, e de alguns poetas modernos que se assemelhavam a Baudelaire. Quanto aos escritores da lingua inglesa, gostava de Shakespeare, Dickens, Poe, Butler, Thomas Hardy, Joseph Conrad, Stevenson, Woolf.

James Joyce
        Quanto a Joseph Conrad, Moravia diz que é um grande escritor; e quanto a Dickens, que está entre os escritores que admira, diz que tal admiração está ligada apenas ao romance The Pickwik Papers, que, para ele, é o único bom trabalho de Dickens; já sobre Stevenson, afirma gostar apenas de alguma coisa do que escreveu.
        
        Para Moravia, que tinha a ambição de escrever um livro cômico - o gênero mais difícil de todos, no seu entender -, dizia que poucos são os livros desse gênero; e menciona quais são eles: Dom Quixote, Rabelais, The Pickwik Papers, O Asno de Ouro, os Sonetos de Belli, Almas Mortas, de Gogol, Boccaccio e o Satyricon”. Esses eram, para Moravia, os seus livros ideais.

        Tendo uma formação literária clássica, em sua maior parte, como dizia Moravia de si mesmo, pouco se interesava pelos escritores realistas e naturalistas, embora fosse de seu conhecimento que estes influenciaram de forma indireta a literatura italiana do pós-guerra, principalmente através de Vittorini; sem negar, contudo, que essa influência não deixa de ser americana, aduzindo tratar-se de influência americana vittorinizada. Aduz, ainda, que Vittorini e essa espécie de prosa poética a gente pode encontrar em certos trechos de Hemingway e Faulkner. 

        Falando sobre os grandes espaços vazios na tradição do romance italiano, Moravia afirma que “a Itália já teve o romance, há muito tempo. (...) mas, desde a Contra-Reforma, a sociedade italiana não gosta de ver-se no espelho. O grosso da literatura narrativa é, afinal de contas, desta ou daquela forma, crítica. (...) os italianos preferem a beleza à verdade”.

Marcel Proust
        Sobre o futuro do romance, Moravia disse para The Paris Review, que “o romance, tal como o conhecíamos no século dezenove, foi morto inteiramente por Proust e Joyce”. E acrecenta que eles formam os últimos escritores do século dezenove. “Parece, agora - diz Moravia -, como se estivéssemos caminhando para o roman à idée ou o romance documentário – quer se trate de romance de ideias, ou, então, do romance da vida, tal como esta se processa, sem pressupostos criados, nem psicologia”.

        Ainda discorrendo sobre o romance moderno, frisa Moravia que um bom romance pode ser de qualquer espécie, “mas as duas formas que hoje prevalecem são o romance-ensaio e o romance documentário, ou experiência pessoal, quelque chose qui arrive. A vida assumiu duas maneiras em nossa época: a multidão e os intelectuais. A época da multidão é toda ela acidente; a época do intelectual, toda ela filosofia”. E acrescenta: “Hoje não existe burguesia, mas somente a multidão e os intelectuais”.

        Encerro esta terceira parte sobre a obra de Alberto Moravia – na próxima postagem, Moravia será ainda o enfoque - com um trecho do último romance que publicou em vida, Il Viajo a Roma, 1988; mais tarde o romance foi publicado no Brasil, pela Bertrand Brasil, em 1991, com o título Viagem a Roma, com tradução de Mario Fondelli; o trecho que segue, do romance Viagem a Roma, está no primeiro parágrafo, do primeiro capítulo, p. 5:

        “Durante o vôo abri ao acaso o volume de poesias de Guillaume Apollinaire; os meus olhos pousaram sobre um verso: 'Aqui estás em Roma, sentado embaixo de uma nespereira do Japão', e deixei-me levar pela imaginação: por que uma nespereira do Japão? O que tinha a ver com Roma aquela árvore asiática? E, uma vez que Apollinaire era o modelo e um verdadeiro guia para mim, o que iria representar na minha vida, ao voltar para Roma, a nespereira do Japão?”




REFERÊNCIAS:
COWLEY, Malcolm. Escritores em ação. Trad. de Brenno Silveira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
PATRICK, Julian. Grandes Escritores. Trad. de Livia Almeida e Pedro Jorgensen Junior. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
MORAVIA. Alberto. Viagem a Roma. com trad. de Mario Fondell. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, em 1991, p.5.


   

2 comentários:

  1. Caro Pedro,
    estou esperando a quarta parte do Morávia. Que beleza de textos!
    No início quando do questionamento dos significados de imaginação e fantasia achei que a fantasia seria uma imaginação surreal...
    O assunto é bom e o Morávia, fantástico!
    Um abraço

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  2. Hola Pedro.

    Paso a dejar mi tarjeta de visita y mis saludos desde Murcia.

    María

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Pedro