Edgar Allan Poe |
por Pedro Luso de Carvalho
Quando publicamos o nosso primeiro trabalho sobre a obra de Edgar Allan Poe, qual seja, ANTOLOGIA DE CONTOS, falamos da importância de Poe na literatura, na poesia. E também isto: Charles Baudelaire lera algumas das suas histórias, e mais tarde dissera, ao lê-las, que “experimentara estranha emoção”. Nas revistas que chegavam dos Estados Unidos a Paris, Baudelaire procurava pelos contos e pelos poemas de Poe. Baudelaire escreveu certo dia em seu diário, que, dali em diante, iria orar todas as manhãs a Deus, ao seu pai e a Edgar Allan Poe (in Antologia de Contos - prefácio de Brenno Silveira -, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1959). A sedução e o fascínio que Poe exerceu sobre Baudelaire levou o poeta francês a traduzir os contos e os ensaios do autor de A Queda da Casa de Usher. Depois dessas traduções, Baudelaire juntou-se ao célebre Mallarmé, que o ajudou a divulgar a obra de Poe, razão pela qual teve plena aceitação pela avant garde literária de Paris.
Os poemas de Poe, que publicamos aqui no blog Panorama, foram: ANNABEL LEE, em setembro/2008; O CORVO - o poema imortal do poeta -, em julho de 2008; ULALUME, janeiro/2010; A CIDADE NO MAR, em maio/2010; A MARIE-LOUISE SHEW, em agosto/2010. Para esta publicação escolhemos o poema OS SINOS (in Edgar Allan Poe - Poemas e Ensaios, tradução de Oscar Mendes e Milton Amado. 3ª ed. São Paulo: 1999, p. 64-67).
OS SINOS
I
Escuta: nos trenós tilintam sinosargentinos!Ah! que mundo de alegria o som cantante prenuncia!Como tinem, lindo, lindo,no ar da noite fria e bela!Vão tinindo e o céu inteiro se constela,florescente, refulgindocom deleites cristalinos!Dão ao tempo uma cadência tão constantecomo um rúnico descante,com os tintinabulares, pequeninos sons, bem finos,que nascendo vão dos sinos,sim, dos sinos, sim, dos sinos,saltitantes, bimbalhantes, dentre os sinos.
II
Escuta; em núpcias vão cantando os sinos,áureos sinos!Quantos mundos de ventura seu tanger nos prefigura!No ar da noite, embalsamado,como entoam seu enlevo abençoado!Tons dourados, lentas notasconcordantes...E tão límpido poema aí flutuapara as rolas que o escutam, divagantes,vendo a lua!Volumoso, vem das celas retumbantestodo um jorro de eufoniaque se amplia,“O futuro é belo e bom!”- clama o som,que arrebata, como em êxtases divinos,no balanço repicante que lá soa,que tão bem, tão bem ecoana vibrante voz dos sinos, sinos, sinos,carrilhões e sinos, sinos,no rimado, consonante som dos sinos.
III
Escuta; um longo alarma bradam os sinos,brônzeos sinos!Ah! que história de agonia, turbulenta, se anuncia!Treme a noite, com pavor,quando os ouve em seu bramido assustador,Tanto é o medo que, incapazes de falar,se limitam a gritar,em tons frouxos, desiguais,clamorosos, apelando por clemência ao surdo fogo,contendendo loucamente com o frenesi do fogo,que se lança bem mais alto,que em desejo audaz estuade, no empenho resoluto de algum saltosim! Agora ou nunca mais!),alcançar a fronte pálida da lua!Oh! Os sinos, sinos, sinos,De que lenda pavorosa, de alarmar,falam tanto?Clangorantes, ululantes, graves, finos,quanto espanto vertem, quanto,no fremente seio do ar!E por eles bem a gente sabe – ouvindoseu tinido, seu bramido -se o perigo é vindo ou findo.Bem distintamente o ouvido reconhecepela luta,na disputa,se o perigo morre ou cresce,pela ampliante ou decrescente voz colérica dos sinos,badalante voz dos sinos,sim, dos sinos, sim, dos sinos,do clamor e do clangor que vêm dos sinos!
IV
Escuta: dobram, lentamente, os sinos,férreos sinos!Ah! que mundo de pensares tão solenes põem nos ares!Na silente noite fria,quando a alma se arrepiaà ameaça desse canto melancólico de espanto!Pois em cada som saídoda garganta enferrujadahá um gemido!E os sineiros (ah! essa genteque, habitando o campanáriosolitário,vai dobrando, badalando a redobradavoz monótona e envolvente...),quão ufanos ficam eles, quando vãotombar pedras sobre o humano coração!Nem mulher nem homem são,nem são feras: nada maisdo que seres fantasmais.E é seu Rei que assim tange,é quem tange, e dobra, e tange.E reboatriunfal, do sino, a loa!E seu peito de ventura se intumescecom o hino funerário lá dos sinos;dança, ulula, e bem pareceter o Tempo num compasso tão constantesqual o rúnico descante,pelos hinos lá dos sinos!Ah! Dos sinos!Leva o Tempo num compasso tão constantecomo um rúnico descante,pela pulsação dos sinos,a plangente voz dos sinos,pelo soluçar dos sinos!Leva o Tempo em tal compasso, tão constante,que a dobrar se sente, ovante,bem feliz com esse rúnico descante,com o reboar que vem dos sinos,a gemente voz dos sinos,o clamor que sai dos sinos,a alucinação dos sinos,o angustioso,lamentoso, lutuoso som dos sinos!
(by Edgar Allan Poe)
Caro Pedro
ResponderExcluirEste seu blogue é delicioso, quem gosta de livros tem aqui um manancial de riqueza absolutamente desvanecedor.
Parabéns e um abraço
Roubo as palavras de Baudelaire para mim, Pedro. Nada caracteriza melhor um conto de Poe como isto: "experimentamos uma estranha emoção". Perfeito.
ResponderExcluirAbços, Cesar
Rico! Encantador, o enredo dos contos, o desenrolar d história, os sinos que gritam coisas que ninguém ousa dizer... Tornei-me fã do lugar!
ResponderExcluirOlá!!Bom Dia!!
ResponderExcluirAdorei seu blog!! Encontrar aqui o Edgar é muito bom!! Tenho um livro de contos dele que me encantou!!Ele escreve de um jeito que surpreende estarrece !!Incrível!
O que mais me impressionou foi: O gato preto!
Se puderes visite o meu blog, será muito Bem-Vindo!!
vivian-floreselivros.blogspot.com
Atenciosamente