29 de ago. de 2008

JOHN K. GALBRAITH - A ECONOMIA E AS ARTES







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por Pedro Luso de Carvalho
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No final dos anos 70, John Kenneth Galbraith inaugurou na Universidade de Harvard, na qual foi professor titular de Economia, um seminário sobre a economia das artes. Diz o economista, no seu livro Uma Visão de Gaibraith (Livraria Editora Pioneira, São Paulo, 1988), que seus colegas economistas da Universidade consideraram seu projeto “como algo essencialmente frívolo e possivelmente excêntrico. Este não é o tipo de coisa com a qual um verdadeiro estudioso deve se ocupar. A economia, afinal, trata do monetarismo, dos déficits orçamentários e das expectativas racionais”.


Galbraith tratou desse assunto em palestra que proferiu perante o conselho de artes da Grã-Bretanha (a “Williams Memorial Lecture”). O tema dessa palestra resultou em excelente ensaio sobre “A Economia e as Artes”, que integra a obra mencionada (Uma Visão de Galbraith). Nela afirma que os economistas profissionais nunca pensam a respeito da arte, por isso a precariedade de material de leitura de qualidade profissional.


Mencionou como exemplo as dificuldades pelas quais passavam os teatros da Broadway com a recessão em 1982, como foi noticiado pelo The New York Times, e que “nenhum economista voltou sua atenção para o problema; e nenhum jornal teria considerado esta uma matéria adequada para a seção econômica, ou para um repórter de economia. A maior figura econômica deste século, John Maynard Keynes tinha profundo interesse pelas artes. Isso é considerado bastante extraordinário – seus biógrafos sempre mencionam o fato com certo pasmo. Keynes não estava, contudo particularmente interessado em construir pontes – prossegue Galbraith – entre a economia e as artes. Ele viveu nos dois mundos; mas não tentou fundi-los”.


Para Galbraith esse posicionamento de seus colegas economistas é equivocado, como disse no seu livro: “Eu estou convencido de que há, de fato e na realidade, uma íntima relação entre a economia e as artes, e que existem recompensas extremamente práticas capazes de advir de uma melhor compreensão desta relação e do papel do artista na economia moderna”.
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Diz Galbraith, adiante: “Na relação entre a economia e as artes há ainda quatro outros aspectos cada vez mais prementes. O primeiro é a importância dos objetos de arte – quadros, esculturas e outros artefatos artísticos - no capital social da comunidade moderna e os problemas administrativos correntes. O segundo é o crescente papel da arte no padrão de vida das pessoas, e, portanto, dela como um fator componente da economia em geral. Terceiro há a ligação extremamente importante relegada entre a arte e o desempenho industrial como um todo. Conforme irei argumentar, no mundo moderno o artista é uma chave tão fundamental para o sucesso comercial quanto o cientista ou engenheiro. Finalmente, há a freqüente tendência das artes, e especialmente da arquitetura, subordinarem-se à economia – uma tendência verdadeiramente desastrosa. Tentarei seguir a cada um destes aspectos separadamente”.

Esse é o enfoque dado pelo economista, nos seus dois ensaios, que fazem parte do livro “Uma Visão de Galbraith”, com sua crítica lúcida aos seus colegas economistas, que não dão a atenção merecida às artes como um produto ligado à economia, como deviam, já que, como diz: “ Nos últimos tempos, principalmente nos últimos dez anos, a arte se tornou um importante objeto de investimento. O aumento do valor de capital das obras de arte já consagradas é uma decorrência de boa parte destes investimentos”.


Galbraith fala ainda da colaboração significativa das artes ao produto econômico das nações, e diz admirar-se que esse fato seja pouco mencionado, embora se trate de uma contribuição não apenas econômica, mas também extremamente duradoura. E menciona a contribuição, no século dezesseis, dada à atividade econômica por Shakespeare, ou no século dezesseis por Molière, ou no século vinte por Gilbert, Sullivan e George Gershwin. Sobre a perpétua contribuição econômica das artes, pergunta Galbraith: “É possível alguém imaginar que até mesmo os irmãos Wright (peço vênia a Galbraith para substitui-los por Santos Dumont) fizeram pelo turismo do que Michelangelo, Rafael, Ticiano ou Sir Christopher Wren?”.


John Kenneth Galbraith nasceu em Iona Station, Ontário, Canadá, em 15 de outubro de 1908. Formou-se pelo Colégio de Agricultura do Ontário, hoje Universidade de Guelph; depois fez mestrado e doutorado em Berkeley, Universidade da Califórnia. Tornou-se cidadão americano em 1937. Faleceu nos Estados Unidos, em Cambridge, em 29 de abril de 2006.

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