14 de fev. de 2016

[Poesia] PABLO NERUDA – O Mar e os Jasmins


 – PEDRO LUSO DE CARVALHO

PABLO NERUDA (1904-1973) não era o seu nome de registro civil ou de batismo. Hoje ninguém saberia tratar-se de um dos mais importante poetas do século 20, declinando o seu verdadeiro nome: Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Bassoalto.
Neruda escreveu muito, ao longo de sua vida: 51 publicações. Sua poesia saiu do Chile e da América do Sul para espalhar-se pelo mundo, influenciando uma plêiade de jovens poetas em todos os quadrantes, que o admiravam pela grandiosidade formal de sua poesia, que se tornou conhecida pela abordagem do amor, pelo olhar poético do cotidiano e pela atenção direcionada ao plano social.
Segue o poema de Pablo Neruda, O Mar e os Jasmins, uma homenagem que faz a Coimbra (in Neruda, Pablo. As uvas e o vento. Tradução de Carlos Nejar. Porto Alegre: L&PM, 1979, p. 236-237):

O MAR E OS JASMINS
– PABLO NERUDA

DE TUA MÃO pequena em outra hora
saíram criaturas
debulhadas
no espanto da geografia.
Assim voltou Camões
para deixar um ramo de jasmins
que continuou florescendo.
A inteligência ardeu como uma vinha
de transparentes uvas
em sua raça.
Guerra Junqueiro entre as ondas
deixou tombar seu trovão
de liberdade bravia
que transportou o oceano em seu canto,
e outros multiplicaram
teu esplendor de roseiras e cachos
como de teu território estreito
brotassem grandes mãos
derramando sementes
para toda a terra.

No entanto
o tempo enterrou.

O pó clerical
acumulado em Coimbra
caiu em teu rosto
de laranja oceânica
e cobriu o esplendor de tua cintura.


 *  *  *