– PEDRO LUSO DE CARVALHO
BARBOSA LESSA – Luiz Carlos Barbosa Lessa – nasce a
13 de dezembro de 1929, em Piratini, RS. Na sua adolescência,
muda-se para Porto Alegre, para cursar o 2º Grau. Mais tarde conhece
Paixão Cortes, e o ajuda na ronda à Chama
Crioula, e depois passa a colher assinaturas
de jovens para fundar um centro tradicionalista. Dessa iniciativa,
nasce o primeiro CTG (Centro de Tradições
Gaúchas).
Muitos anos depois, Barbosa Lessa é convidado pelo governador Amaral
de Souza para integrar a Secretaria da Cultura. Então passa a
estudar a criação de centro de saber acadêmico. E em março de
1983, pode inaugurar a Casa da Cultura, que mais tarde teria
por patrono poeta gaúcho Mario Quintana.
Barbosa Lessa dedica-se à pesquisa da História do Sul. Depois,
passa esses conhecimentos para a ficção (romance e conto), para a
crônica, para a poesia e para o ensaio. Escreve, entre outras obras:
Rodeio dos ventos, Histórias para sorrir e Os
guaxos, com o qual recebe o Prêmio da Academia Brasileira de
Letras, em 1959.
O escritor volta deixar a capital, desta vez para residir, com a
esposa Nilza, na reserva Água Grande, no município de Camaquã, não
muito distante de Porto Alegre, onde falece, a 11 de março de 2002,
aos 73 anos de idade.
Segue Gadinho de osso, conto de Barbosa Lessa (in,
Lessa, Barbosa. Histórias para sorrir. Porto Alegre: Alcance,
1999, p. 41-42):
GADINHO DE OSSO
– BARBOSA LESSA
Aquilo, sim, que era estância! Não havia, em toda a volta, outra
tão linda. Campo de pura Flexilha. Aramado caprichado, com mourões
de pauzinhos e os fios feitos de barbante. E tinha até banheiro para
se banhar o gado, embora fosse tão só um buraco que a gente enchia
de água para ali atirar o boi e tirar-lhe o carrapato. Eu brincava
horas a fio. Só o que tinha que evitar, com muito jeito, é que a
porca ali chegasse, com a fileira de leitão; se visse vinha
escangalhando tudo, botava o aramado abaixo, só eu sei a trabalheira
em refazer tudo, depois.
Quando pra os grandes era dia de carneada, pra mim e o meu primo era
dia de tropeada. Daquele ossinho comprido, que parece ter as patas e
duas pontas de aspas, a gente tirava as vacas. Chicossuelo era touro.
Das patas, vinha a cavalhada. E, do espinhaço, as ovelhas.
A lida do trivial era repontar boiada duma invernada
pra outra. Em dia de banhação a caneca do barril não tinha folga:
nem bem se botava a água, já a terra seca chupava, dê-lhe água
novamente. Mas o brabo mesmo era o solaço de verão, nos dias de
marcação, com a gente atirando laço, correndo de lá pra cá,
aplastado de suor. Mas aí chegava a Leila – a priminha sempre
amiga – servindo mate pra mim...
Recordo que um dia peleei feio com um domador novo nas
casas, o Cesário, porque me roubou o melhor touro e com ele foi
jogar jogo-de-osso no galpão. Parei patrulha! Berrei até que o
Cesário teve que me devolver. Mas, naquele dia, morreu a barrosa
velha no piquete das tambeiras, foi ele quem foi courear, na hora
lembrou de mim, voltou com oito cavalos de presente pra minha
estância, fiz as pazes, se abracemo.
Naquela estância – única estância que tive, mas
que acompanha minha vida – passei as horas mais lindas do meu tempo
de piá.
E hoje, quando me vejo embretado em cidade grande e tão longe da
querência, há ocasiões em que acordo ouvindo os gritos campeiros
de outrora. É festa de marcação!
– Abre a porteira, Cesário, que venho trazendo os
boizitos da Invernada da Saudade!
– Me ceva um mate, priminha, que a sede está me
tonteando!
– E aviva o fogo! E esquenta a marca! Já está
vermelha? Então...
... Tchhhhhh!
A marca do Rio Grande marcou a fogo minha tropa da saudade.
* * *
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Pedro