– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
WILLIAM FAULKNER
nasceu em New Albany, Mississipi, em 25 de agosto de 1897 e faleceu,
nessa mesma região, em 6 de julho de 1962. Antes de se tornar
escritor, exerceu as profissões de carpinteiro, pintor de paredes e
chefe de correios, profissões humildes para quem descendia de uma
antiga e ilustre família do sul dos Estados Unidos. Estudante, não
conseguiu concluir a escola secundária, mas já era um bom leitor na
sua juventude. Nessa época, alistou-se na Real Força Aérea do
Canadá, onde freqüentou a Universidade Estadual Ole Miss, como
estudante especial, por pouco mais de um ano.
Sua carreira de escritor começou graças ao
encorajamento que lhe dispensou o escritor Sherwood Anderson, e que
resultou no Soldier’s Pay,
em 1926, seu primeiro livro. Daí em diante surgiram vários
romances, dentre eles, Sanctuary
(Santuário) que lhe deu celebridade, escrito em 1931, e que, segundo
sua afirmação, escreveu-o com o fim de ganhar dinheiro. No espaço
temporal que separa Soldier’s Pay,
de Sanctuary,
Faulkner escreveu Mosquitoes (1927),
Sartoris
(1929), The Sound and the Fury
(1929), As Lay Dying
(1930).
Faulkner escrevia com certa regularidade,
resultando os romances que viriam integrar o que seria chamado de a
saga de Yorknapatawpha:
Light in August
(1932), Pylon
(1935), Absalom!, Absalom!
(1936), The Unvanquished
(1938), The Wild Palms
(1939), The Hamlet (1940)
e Go Down Moses
(1941).
.Voltando ao romance Santuário,
o mais conhecido de Faulkner, que o notabilizou, sobre ele escreveu o
romancista, crítico literário e membro da Academia Francesa, André
Malraux, ao apresentar a obra aos franceses, em 1933, no seu
prefácio:
“Há um destino único, que se levanta por trás
de todos esses seres diferentes e assemelhados, como a morte atrás
de uma enfermaria de incuráveis. Disse também, que Sanctuary
representa “a inserção da novela policial na tragédia grega”.
Diz ainda, Malraux: “O essencial não é que o artista seja
dominado, mas que, passados cinqüenta anos, ele escolha cada vez
mais aquilo que o domina em função de sua arte. Alguns grandes
romances foram, antes de mais nada, para seus autores, a criação da
única coisa que os pôde ocultar. E da mesma forma que Lawrence se
volta para a sexualidade, Faulkner se refugia no irremediável”.
Também o escritor sul-americano Mario Vargas
Lhosa, que hoje se encontra entre os nomes mais importantes da
Literatura Universal, deu o seu depoimento sobre o célebre romance
de Faulkner, Sanctuary,
no seu livro de ensaios, A verdade das
mentiras, publicado pela editora ARX no
Brasil, em 2ª edição, no ano de 2002:
“Na verdade, Sanctuary
é uma das obras-primas que escreveu e que merece figurar, depois de
Luz de agosto
e de Absalom!, Absalom!,
entre os maiores romances da saga Yorknapatawpha.
A verdade é que por seu tremendismo [movimento artístico espanhol,
formado no século XX] horripilante, pela crueldade e pela
pusilanimidade potencializadas que expõe num nível de vertigem e
pelo sombrio pessimismo que o reveste, o livro é irresistível.
Precisamente: somente um gênio poderia ter contado uma história com
semelhantes episódios e personagens, de um maneira que terminasse,
não somente aceitável, mas, inclusive, feiticeira para o leitor. À
extraordinária maestria com que está contada, esta história feroz,
até o absurdo, deve sua auréola de ser uma inquietante parábola
sobre a natureza do mal e sobre essas ressonâncias simbólicas e
metafísicas que tanto excitaram a fantasia dos críticos”.
A partir da Segunda Guerra Mundial, Faulkner
escreveu os seguintes romances: Intruder
in the Dust (1948), Requiem
for a Nun (1951), A
Fable (1954) e The
Dust (1954), The
Town (1957) The
Mansion (1959), The Reivers (1962). As suas Collected Stories
receberam o National Book Award, em
1951. Esse mesmo prêmio lhe foi concedido novamente por A
Fable, em 1954. Além dessas obras,
outras foram escritas por Faulkner, muitas delas no gênero conto,
poesias e roteiros para o Cinema. O seu último romance, The
Reivers, escrito em 1962; no Brasil,
foi publicado com o título de Os
Desgarrados, pela Civilização
Brasileira. Bem antes, em 1949, Faulkner foi distinguido com o Prêmio
Nobel de Literatura.
Ao ser entrevistado pela Paris Review no ano de
1956, na cidade de Nova York, William Faulkner disse que a única
responsabilidade do escritor é para com sua arte. Perguntado, na
seqüência da entrevista, sobre o que teria a dizer dele próprio
como escritor, respondeu:
“Se eu não tivesse existido, algum outro teria
escrito meus livros: Hemingway, Dostoievski, todos nós. A prova
disso é que há cerca de três candidatos para a autoria das peças
de Shakespeare. Mas o que é importante é Hamlet e O sonho de uma
noite de verão: não quem os escreveu, mas o fato de alguém o ter
feito. O artista não tem importância. Só é importante o que ele
cria, já que não existe nada de novo para ser dito. Shakespeare,
Homero, Balzac, todos escreveram acerca das mesmas coisas e, se eles
tivessem vivido mil anos, os editores não teriam, desde então, a
necessidade de ninguém mais (..
.)”
Transcrevo abaixo, para quem ainda não leu
Santuário (Sanctuary),
ou qualquer outro romance de Faulkner, ou para quem queira reler o
escritor, dois trechos da história; ambos os trechos se passam na
cadeia, para onde Goodwin foi conduzido:
“No dia em que o delegado trouxe Goodwin para a
cidade, havia na cadeia um assassino, um negro, que matara sua
mulher. Cortara-lhe o pescoço com uma navalha, de modo que, a cabeça
destacando-se cada vez mais para trás, toda ensangüentada ela
correra para fora da cabina, dando seis ou sete passos na senda
enluarada. À tarde, o assassino apoiava-se às grades da prisão e
cantava”.
“A flor caíra da árvore-do-paraíso, a um
canto do pátio da cadeia. Jaziam no chão, grossas, pegajosas,
adocicadas, de uma doçura excessiva e moribunda. À noite, a sombra
irregular de galhos que agora só tinham folhas estremecia fracamente
nas grades de ferro. A janela ficava na sala comum. As paredes
caiadas de branco estavam manchadas, com a marca de mãos, rabiscos
de nomes e datas, inscrições obscenas, feitas a lápis, com a unha
ou com lâmina de faca. Todas as noites, o negro assassino ali se
apoiava, o rosto manchado pela sombra das grades nos irrequietos
interstícios das folhas. E cantava, em coro, com aqueles que se
achavam na cerca lá embaixo”.
REFERÊNCIAS:
uçãoVARGAS
LLOSA, Mario. A
verdade das mentiras.
Tradução de Cordélia Magalhães. 2ª ed. São Paulo: Ed. ARX,
2002.
PARIS
REVIEW.
Escritores em ação.
Coord. de M. Cowley. Tradução de Brenno Silveira. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1982.
NATHAN,
Monique. Faulkner.
Tradução de Hélio Pólvora. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991.
FAULKNER,
William. Santuário.
Tradução de Lígia Junqueira Caiuby. São Paulo: Ed. Victor Civita,
1980, p. 106.
* * *
Obrigado ao senhor por por mostrarnos as tremendas realidades da ficção, por sua adesão às feições do invisível no cotidiano, que é uma das tarefas da litetura.
ResponderExcluirCaro Emilio,
ExcluirObrigado por sua visita e pelo seu comentário.
Um abraço,
Pedro.