7 de abr. de 2018

[Poesia] LUIZ DE MIRANDA – Breu das Almas




- PEDRO LUSO DE CARVALHO


LUIZ DE MIRANDA não é apenas um dos poetas gaúchos mais importantes; ele está colocado entre os melhores poetas modernos brasileiros e da América Latina.
Alguns dos poetas e críticos brasileiros mais representativos falam sobre a poesia de Luiz de Miranda (in Antologia de Poemas/Luiz de Miranda. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987), como veremos a seguir:
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: “Poesia aberta, comunicante, como um sopro de vida e insatisfação”.
FERREIRA GULLAR: “No caso de um poeta como Luiz de Miranda, as soluções formais resultam da necessidade de formular o vivido e sentido, emoções e ideias que são expressão de um compromisso claro com seu país e o seu tempo. A poesia de Luiz de Miranda fala de nós todos”.
RAUL BOPP: “A poesia de Luiz de Miranda revela a sensibilidade do verdadeiro e grande poeta. É uma contribuição definitiva à literatura brasileira”.
GUILHERMINO CÉSAR: “De qualquer modo, penso que Memorial assinala uma vertente; reúne-se ao que de melhor existe no Brasil”.
NELSON WERNECK SODRÉ: “Luiz de Miranda sabe que a solidão é provisória e decorre de derrota, exílio, distância, saudade. Escreveu longe e perto. Sua poesia se junta a de alguns, uns poucos, que souberam ver o que viu, sentir o que ele sentiu. A época, amarga e opaca e escura, é atravessada por essa poesia como um relâmpago. Sua luz denuncia auroras. Do provisório, entrevemos o definitivo”.
JOSÉ ÉDIL DE LIMA ALVES: “Poeta comprometido com a realidade do seu país e de seu continente, ele trilha os caminhos percorridos por um Pablo Neruda, um Atahualpa Yupanqui, um Ferreira Gullar, com seu canto enérgico de protesto”.
O poema Breu das Almas, de Luiz de Miranda, integra o livro Trilogia da Casa de Deus, Prêmio Nacional de Poesia 2001, da Academia Brasileira de Letras (In Trilogia da Casa de Deus./Luiz de Miranda. Porto Alegre: Sulina, 2002, p. 143-144); segue o poema Breu das Almas:


BREU DAS ALMAS
- LUIZ DE MIRANDA
a Vanja Orico


Em mim, o silêncio do mar,
pulsando a remota invernia,
somente descem a ampulheta dos dias,
frêmitos e de prata impura,
na vidraça onde morre o vento.

Por milhares de anos foi assim,
um balde de ternura ao fim
da borrasca, da solidão e do medo.
Em mim, morrem todos os segredos,
tombam as tempestades
cobertas de esquecimento.
Puída e cheia de pó,
a alma canta o que fui de menino
a se perder para sempre
no trevoso breu dos anos,
mas ainda à noite me alucino
na contemplação dos velhos retratos,
fechados a sete chaves no meu quarto.

Homero e Dante me consolam
no plenilúnio do paraíso.
A morte vem sem aviso,
tecendo os noturnos do adeus.

Ninguém me ama,
e tarda, tarda muito, amanhecer,
mas viver, como disse antes,
é ir com todos
sem nunca se perder.

Vou pelas vielas da minha pátria,
tão esquecida, miserável e humilhada
nos gabinetes do poder.
Pátria pobrinha da minha alma,
te canto sempre em tom maior.
Entre lendas e beijos,
te coloco ao pé dos santos,
para que envolvida pelos seus mantos
permaneças viva e intocada.
Pátria minha, sempre amada.

Em mim está bem desperto
o pólen, a pétala, a pérola
que descem comigo ao inferno,
e voltamos lúcidos à vida,
do breu das almas e do inverno.
Não haverá mais partida ou despedida.




Porto Alegre,
1º de setembro de 2000.




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Pedro