19 de jan. de 2013

MÃOS – Carlos Drummond de Andrade






PEDRO LUSO DE CARVALHO

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE dizia que a sua vida não tinha nada de interessante, e que o pouco que tinha para contar já estava nas duas autobiografias que escreveu para a Revista Acadêmica e para Leitura. Dizia ele que a biografia do escritor deve ser dada a conhecer ao público quando é movimentada, rica de passagens curiosas e quando os vários lugares em que esteve e as pessoas que de algum modo alguma forma influíram em sua obra. E acrescenta que nessas duas outobiografias disse que nasci em Itabira, no Estado de Minas Gerais, no ano de 1902, de pais portugueses que me criaram no temor de Deus e que seu pai era fazendeiro, sem ter sequer o curso primário completo. (In Carlos Drummond de Andrade, Coleção Fortuna Crítica, p.21-22).
Segue o poema de Carlos Drummond de Andrade, “As mãos” (in Menino antigo. Carlos Drummond de Andrade. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 88):


MÃOS
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Aquele doce que ela faz
quem mais saberia fazê-lo?


Tentam. Insistem, caprichando.
Mandam vir o leite mais nobre.
Ovos de qualidade são os mesmos,
manteiga, a mesma,
iguais açúcar e canela.
É tudo igual. As mãos (as mães?)
são diferentes.



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